O primeiro caminhão feito no Brasil era carioca: você já ouviu falar do Bandeirante?

O primeiro caminhão feito no Brasil era carioca: você já ouviu falar do Bandeirante?

100% nacional, modelo foi produzido 20 anos antes das primeiras fábricas de caminhões do país

Quando falamos sobre a história dos primeiros caminhões do Brasil, pensamos logo na FNM, na Mercedes ou Scania. Mas, o que muita gente não sabe é que muito antes de qualquer montadora fabricar caminhões aqui no país, existiu um pioneiro inventor que criou o primeiro caminhão 100% nacional. Todo montado em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, o caminhão Bandeirante tinha peças e motor nacionais e só teve um único exemplar, que acabou indo parar na Espanha.

Para a maioria dos amantes de veículos, o Bandeirante é apenas um nome de um jipe da Toyota e não tem nada a ver com caminhões. Mas, na remota década de 20, José Augusto Prestes, um engenheiro português bastante criativo, residente no Rio de Janeiro, criou de forma artesanal outro Bandeirante, o caminhão pioneiro. O jornal “O GLOBO” da época apresentou o caminhãozinho como “O primeiro automóvel fabricado no Brasil”.

Jornal do dia da apresentação do Bandeirante

Era 1927, quando o Bandeirante foi construído nas modernas instalações da A. Prestes & C. Ltd, no Rio de Janeiro, fábrica de máquinas para beneficiamento de café, onde também se faziam peças de reposição para automóveis. A empresa era propriedade de José Augusto Prestes, que se aproveitando da fundição de metais que acontecia no barracão da fábrica, resolveu construir um caminhão inteiro, criando algumas peças e utilizando motor nacional, que recebeu o nome de Bandeirante, em homenagem a um clube de pioneiros automobilistas com mesmo nome.

O caminhão tinha capacidade de carga de sete toneladas e era considerado grande para os padrões da época. Seu motor tinha potência entre 45 e 60 cavalos. (Essa informação é difícil de ser confirmada e varia conforme a fonte de pesquisa, já que a imprensa da época era reduzida, poucas matérias foram publicadas sobre o assunto e foi produzida uma única unidade do caminhão). O Bandeirante tinha uma cabine semelhante aos jipes que vieram com o período militar, com o formato bicudo e uma pequena carroceria, onde o engenheiro carregava produtos de sua empresa.

José Augusto Prestes, inventor do Bandeirante e sua entrevista na ocasião da ida do caminhão para a Espanha

A reportagem, publicada com destaque na primeira página da edição de 8 de janeiro de 1929, conta que as partes de aço como chassi, rodas e até o motor (de 60hp) foram fabricadas no barracão da própria A. Prestes & C. Ltd, além de todas as demais peças de bronze e alumínio. Seus cilindros eram destacáveis do bloco, com 125mm de diâmetro e 140mm de curso (ou seja: 1.718cm³ cada um), mas infelizmente não foram encontradas mais informações técnicas sobre o modelo, nem quantos cilindros tinha. A construção foi toda conduzida pelo comendador Prestes.

Uma coisa bastante interessante era que no radiador do Bandeirante, tinha uma faixa preta na diagonal, que lembra muito a camisa do Vasco da Gama (clube que José Augusto Prestes se tornou presidente). No alto do colete havia um escudinho com as letras SL, de Santa Luzia. Abaixo do radiador, uma grande placa ostentava o nome da A. Prestes & C. Ltd. O veículo circulou no Rio de Janeiro por dois anos.

Pelas informações divulgadas na imprensa da época, sabe-se que o único exemplar do autocaminhão (como eles o chamavam) embarcou para a Espanha, no dia 20 de janeiro de 1929, para a Exposição Ibero-Americana de Sevilha, apenas 12 dias depois do evento de apresentação do Bandeirante, no Rio. A mostra espanhola, que exibiu produtos dos países ibéricos e latino-americanos, ficou aberta por um ano e houve gente por lá que até duvidou que o veículo fosse inteiramente fabricado no Brasil.

Lançamento do Bandeirante

A viagem do caminhão para a Europa foi amplamente divulgada em jornais da época, mas depois que passou todo o entusiasmo do momento, os jornais se esqueceram do Bandeirante e pararam de publicar coisas sobre o caminhão pioneiro. Não se sabe qual foi o destino do primeiro caminhão brasileiro após a feira espanhola, mas sabe-se que muitos produtos foram vendidos ou adaptados, então, é bem possível que o Bandeirante tenha se tornado também o primeiro automóvel brasileiro vendido no exterior.

Só depois de 20 anos, em 1949, que a primeira montagem de caminhões viria acontecer no Brasil oficialmente, quando a FNM (Fábrica Nacional de Motores) trouxe para o país cerca de 200 caminhões com tecnologia Alfa Romeo, que vinham desmontados para serem finalizados em terras brasileiras. Já em 1956, a Mercedes-Benz começou a produção do modelo L-312, o "Torpedo", primeiro caminhão de fabricação totalmente nacional.

Capa do Jornal O Globo informando sobre o primeiro automóvel fabricado no Brasil

Nascido em uma família rica de Benfica, em Portugal, José Augusto Prestes veio para o Brasil no início do século XX. Formado em engenharia mecânica nos Estados Unidos, começou a estudar sobre frigoríficos e abriu a primeira fábrica de gelo no país. Um outro detalhe curioso: até então, o gelo daqui vinha da Europa! Muito versátil, montou sua siderúrgica (Usina Santa Luzia), além de construir e administrar o Cassino Theatro Beira Mar, no Passeio Público. Foi presidente do Clube Regatas Vasco da Gama e único dono da A. Prestes & C. Ltd. Depois do Bandeirante, Prestes não criou mais caminhões e faleceu em 1952. Diante de tantas histórias, fazer o primeiro caminhão do Brasil parece até simples.

O mundo dos caminhões está cheio de coisas interessantes, como a ligação do primeiro caminhão totalmente feito no Brasil com o clube Vasco da Gama. Por isso, esse universo é tão apaixonante, pois sempre há algo novo para se descobrir. Você já conhecia a história do Bandeirante carioca? Participe com a gente e comente aqui embaixo o que mais te impressionou desta curiosidade. E, fique ligado em nossos canais, pois o Planeta sempre tem alguma coisa nova e interessante para você. Até mais!

por Jornalista Pamela Emerich

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