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Profissão de cegonheiro se prepara para possível apagão por falta de motoristas, avalia Sinaceg

Profissão de cegonheiro se prepara para possível apagão por falta de motoristas, avalia Sinaceg

Sindicato aposta na formação de novos cegonheiros e em caminhões mais tecnológicos para atrair jovens à profissão e evitar crise futura no transporte rodoviário.

O Sinaceg (Sindicato Nacional dos Cegonheiros) acendeu o sinal de alerta para um problema que já começa a preocupar o setor: a falta de motoristas qualificados pode gerar um apagão logístico no transporte de veículos zero-quilômetro nos próximos anos. A preocupação será um dos temas centrais da 25ª Expo de Transportes do ABCD, também conhecida como Feira do Cegonheiro, que acontece nos dias 25, 26 e 27 de setembro, em São Bernardo do Campo (SP).

Segundo estudo da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), entre 2013 e 2023 o Brasil perdeu cerca de 1,1 milhão de caminhoneiros, o que representa uma queda de 20% em dez anos. Como mais de 60% das cargas no país são movimentadas pelo modal rodoviário, especialistas do setor já falam em risco real de paralisação por falta de profissionais. Até mesmo na categoria dos cegonheiros, considerada a elite do volante, o problema já se faz sentir.

De acordo com Maurício Munhoz, da Transportes Munhoz & Munhoz, a profissão deixou de ser hereditária. “Não é mais uma atividade que passa de geração em geração. Hoje, os filhos preferem ficar na gestão das empresas dos pais, e não no volante. As condições de trabalho, a violência nas estradas e os longos períodos longe de casa afastam os jovens da profissão”, explicou.

Munhoz reforça que ser cegonheiro exige habilidades muito específicas. “Não basta ter habilitação para caminhão. É preciso conhecer as rotas, inclusive no perímetro urbano, para não ficar preso embaixo de viaduto, além de embarcar e desembarcar veículos com total segurança. Essa é uma atividade de alto nível de responsabilidade”, destacou.


Profissão de cegonheiro não passa mais de geração para geração, como sempre aconteceu. Muitos filhos que continuam no segmento preferem atuar na gestão das frotas das empresas dos seus pais - Foto: Arquivo/Divulgação

No passado, a formação era feita com acompanhamento direto. “Nos anos 1990, o novo motorista passava três ou quatro meses viajando com um cegonheiro experiente antes de pegar estrada sozinho. Hoje, com os custos mais altos, não conseguimos manter dois profissionais em uma mesma carreta”, lamentou Munhoz.

O cenário é semelhante em outras empresas familiares. Ivan da Silva, da Transmiúdo Transportes, relata que muitos filhos de cegonheiros não querem assumir a boleia. “A maioria fica na gestão. É raro ver motoristas com menos de 30 anos. Esse desinteresse coloca o futuro da profissão em risco”, disse.

Para o presidente do Sinaceg, José Ronaldo Marques da Silva, o Boizinho, a modernização da frota pode ser um diferencial para atrair novas gerações. “Caminhões com mais tecnologia, conforto e segurança tornam a jornada menos desgastante. Isso pode despertar o interesse dos jovens e também melhorar a eficiência e a economia da operação”, afirmou.

Outra frente de ação é a formação profissional. O diretor regional do sindicato, Márcio Galdino, explica que muitos jovens não têm acesso a treinamentos ou condições financeiras para conquistar a habilitação necessária. “Estamos estudando parcerias com transportadoras, autoescolas e centros de treinamento para viabilizar essa formação. É preciso investir agora para não faltar motorista amanhã”, destacou.


Condições e falta de segurança nas estradas e muitos dias longe de casa explicam esse novo cenário - Divulgação: Estadão

Enquanto busca soluções, o Sinaceg também aposta no peso da Feira do Cegonheiro para valorizar a profissão e aproximar o público. O evento reunirá marcas como Scania, Iveco, Mercedes-Benz, Volvo e DAF, além de grupos de transporte e empresas de serviços ligados ao setor. A ideia é mostrar inovação, tecnologia e, ao mesmo tempo, fortalecer o vínculo entre profissionais e empresas.

Além dos negócios, a Expo de Transportes será um espaço de convivência para toda a família. O evento terá shows, espaço kids, sorteios e atividades culturais. “Mais do que uma feira de negócios, queremos criar um ambiente de união, onde os profissionais se sintam valorizados e motivados”, reforçou Ítalo Nogueira, diretor da Conexão Eventos.

O desafio, porém, vai além das feiras. O setor precisa lidar com a falta de renovação geracional e garantir atratividade para que os jovens voltem a sonhar com o volante. Sem essa mudança, o risco de apagão logístico deixa de ser previsão e passa a ser realidade.


Sindicato aposta na formação de novos profissionais e em caminhões cada vez mais tecnológicos para atrair profissionais mais jovens - Foto: Sinaceg

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