Com cabine de fibra de vidro e motor potente, o caminhão simbolizou inovação, mas também os últimos anos da Fiat no segmento de pesados
No universo dos caminhões, alguns modelos marcaram época não apenas pela mecânica ou design, mas também pelo contexto histórico em que surgiram. É o caso do Iveco 190H, um gigante que nasceu da Fiat Diesel no início dos anos 1980 e se tornou símbolo de uma fase de transição. Entre avanços tecnológicos, novos conceitos de cabine e as dificuldades da indústria nacional, o 190H deixou seu nome registrado na memória dos estradeiros.
O modelo foi uma evolução direta do Fiat 190, lançado em 1976 ainda sob a marca FNM – a tradicional “Fenemê” – e mais tarde produzido com a identidade Fiat Diesel. Em 1979, chegou a vez do 190H entrar em cena. Ele mantinha a base mecânica do antecessor, mas estreava uma cabine revolucionária para o Brasil: monobloco, com suspensão independente e construída em fibra de vidro importada da Itália. Mais leve e resistente, a cabine avançada logo se tornou um dos principais diferenciais.
Sob o capô, o 190H era equipado com o consagrado motor Fiat 8210 de 13,8 litros, de 270 cavalos de potência, considerado o aspirado mais forte do Brasil naquele momento. A transmissão tinha duas opções: Eaton Fuller ou ZF, ambas com sistema 4+4 de marchas não sincronizadas. O modelo estava homologado para 45 toneladas de PBTC na versão 6x2 e 40 toneladas na configuração 4x2, além de contar com uma versão específica para betoneira.
Fiat 190H F30 - Foto: Mundo dos Pesados
Na cabine, os motoristas encontravam mais espaço e ergonomia, algo raro para a época. O entre-eixos cresceu para 3,71 metros, ampliando as possibilidades de aplicação sem comprometer o desempenho, mantendo toda a parte mecânica. Essas novidades garantiam ao motorista maior conforto, mesmo em rodovias mal pavimentadas ou estradas de terra, além de recursos inéditos como ventilação orientada.
Apesar da inovação, os números de produção começaram a cair. Em 1979, foram 5.545 unidades fabricadas. No ano seguinte, a marca recuou para pouco mais de 4.700 veículos. Em 1981, novas tentativas de atrair clientes incluíram quinta-roda de fábrica nos cavalos-mecânicos e chassi reforçado para betoneiras de 10 m³, mas nem isso impediu nova queda: apenas 3.803 veículos saíram da linha, dos quais só 1.439 ficaram no mercado interno.
O cenário começou a mudar em 1982, quando a Iveco assumiu parte da operação da Fiat Diesel. Foi nessa época que surgiu o aguardado 190 Turbo, equipado com motor de 306 cv e um dos maiores torques do país. Além da força, o caminhão trazia um pacote de conforto inédito para os motoristas: carpete, cortinas, teto solar, banco com encosto de cabeça, rádio toca-fitas, relógio eletrônico com despertador e até um barbeador. Era a Fiat – agora já com a marca Iveco no cofre – tentando dar um salto para competir com a concorrência.
Ainda naquele ano, versões 6x4 com suspensão em balancim e tandem começaram a ser testadas, mostrando que a engenharia estava em busca de alternativas. Mas, ao mesmo tempo, os erros estratégicos e a crise no setor automobilístico pesaram contra a Fiat Diesel. Em 1982, apenas 875 unidades foram produzidas, número muito aquém da expectativa para um caminhão que prometia revolucionar o transporte pesado.
Fiat Iveco 190H - Foto: Divulgação
A derrocada foi rápida. Em 1985, a produção caiu a níveis simbólicos: apenas 117 caminhões entre janeiro e março, contra 209 no mesmo período do ano anterior. Em junho, sem comunicados oficiais ou despedidas formais, a fábrica fluminense suspendeu de vez a produção. O 190H e o 190 Turbo encerraram um ciclo importante, deixando os estradeiros órfãos de um modelo que unia potência e inovação.
Mesmo assim, o legado ficou. O 190H foi o último cavalo mecânico da Fiat Diesel no Brasil, e acabou se tornando um símbolo da transição para a Iveco, marca que voltaria ao país nos anos 1990 e consolidaria sua presença de vez a partir dos anos 2000, já com fábrica própria em Minas Gerais.
Com o passar do tempo, o Iveco 190H passou a ser lembrado como um caminhão ousado, que trouxe a cabine de fibra de vidro, recursos de conforto à frente de seu tempo e um motor que marcou a geração. Um modelo que, mesmo sem ter alcançado o sucesso comercial esperado, ajudou a pavimentar o caminho da Iveco no Brasil.
Hoje em dia ainda são vistos, mas devido a pouca produção e venda, não é tão comum encontrá-los por aí. Mas e aí, caminhoneiro: você já rodou num Fiat Iveco 190H ou lembra de ver um deles pelas estradas? Conta pra gente nos comentários e compartilhe essa história com os colegas de trecho.
Fiat Iveco 190h ano 1982 em Cândido Mota, SP
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