Mesmo sem o aumento esperado, a taxa básica de juros no país está no maior patamar desde 2006; Juros altos dificultam acesso a crédito e financiamentos

Em sua mais recente reunião, realizada no final de julho de 2025, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, surpreendendo parte do mercado que esperava uma elevação para conter as pressões inflacionárias. A manutenção coloca o Brasil entre os países com os maiores juros reais do mundo, perdendo apenas para a Rússia no ranking global, segundo levantamento da Infinity Asset.

A Selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira, impacta diretamente as condições de crédito, o custo do dinheiro e as decisões de investimento. Na prática, o valor elevado freia o consumo e o crescimento econômico, mas também ajuda a conter a inflação. No entanto, esse equilíbrio é delicado, especialmente para setores que dependem de financiamento, como o de transporte de cargas e aquisição de veículos pesados.

No segmento de caminhões, a taxa de juros elevada tem gerado efeitos significativos. Financiamentos estão mais caros, e a concessão de crédito está mais restrita, dificultando a renovação de frota e o acesso a veículos novos por transportadoras e caminhoneiros autônomos. Segundo dados do setor, a alta da Selic já reduziu em 12% o volume de financiamento de caminhões no primeiro semestre de 2025, na comparação com o mesmo período de 2024.



Para o mercado de transporte rodoviário de cargas, que movimenta mais de 60% de toda a logística do país, a taxa elevada representa um freio ao crescimento. Com o crédito mais caro, empresas estão postergando investimentos e priorizando manutenção e reforma da frota atual. “O custo financeiro para trocar ou adquirir um caminhão novo está muito alto. A conta simplesmente não fecha”, comenta João Batista Lopes, diretor de uma transportadora paulista.

Além disso, a taxa de 15% ao ano é a maior registrada desde 2006, evidenciando um cenário desafiador para quem precisa tomar crédito de longo prazo. Em um caminhão com valor de R$ 600 mil, por exemplo, o impacto da Selic pode elevar o valor final do financiamento em até 40% ao longo do contrato, inviabilizando a compra para pequenos empreendedores.

Apesar das dificuldades, alternativas vêm ganhando força no mercado. Uma das principais é o consórcio de caminhões, que registrou crescimento de 11,2% em participantes ativos nos primeiros cinco meses de 2025, segundo a ABAC (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio). Sem cobrança de juros e com parcelas mais acessíveis, o consórcio tem se consolidado como opção viável para quem quer planejar a compra sem comprometer o caixa.

Outra solução que vem ganhando espaço é a locação de caminhões, modalidade que permite modernizar a frota sem o impacto financeiro da compra. Grandes transportadoras já utilizam o modelo há anos, e agora empresas de médio porte e até autônomos começam a aderir, especialmente para atender demandas sazonais ou contratos de curto e médio prazo.

As montadoras também estão reagindo, com bancos próprios oferecendo campanhas especiais de financiamento, como taxas reduzidas, carência de parcelas e condições exclusivas para veículos seminovos. Mercedes-Benz, Volkswagen Caminhões e Scania, por exemplo, têm programas que visam facilitar o acesso ao crédito, mesmo diante do atual cenário econômico.

Para o futuro próximo, analistas acreditam que a taxa Selic pode começar a ceder gradualmente ainda em 2025, mas tudo depende do controle inflacionário e do cenário fiscal. Até lá, o setor de transportes precisará adotar estratégias criativas e sustentáveis para não perder competitividade e manter o fluxo operacional.

Mesmo com as adversidades, o mercado de transporte de cargas brasileiro tem se mostrado resiliente, apostando em tecnologia, planejamento financeiro e soluções alternativas de aquisição. A renovação de frota segue como necessidade urgente, principalmente diante das exigências ambientais e da nova fase do Proconve P8 (Euro 6).

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