Modelos Mercedes-Benz GenH2 completam 225 mil km em testes com clientes na Europa, confirmando eficiência, confiabilidade e potencial para o transporte de longa distância.

A Daimler Truck acaba de anunciar um marco relevante no desenvolvimento de seus caminhões movidos a célula de combustível de hidrogênio. Cinco unidades do Mercedes-Benz GenH2, cedidas a grandes empresas de logística e transporte da Europa, completaram juntos mais de 225.000 quilômetros em testes práticos. A distância equivale a cerca de cinco voltas e meia ao redor da Terra, percorrida em menos de um ano de operação regular.

Os testes começaram em julho de 2024 com clientes como Air Products, Amazon, Holcim, INEOS Inovyn e Wiedmann & Winz. O objetivo foi avaliar a confiabilidade, a eficiência e a integração dos veículos em operações diárias. Os resultados confirmaram que os protótipos GenH2 podem se inserir com naturalidade no transporte de longa distância, operando em rotas variadas e sob diferentes condições logísticas.

Durante esse período, o consumo médio de hidrogênio variou entre 5,6 kg/100 km e 8 kg/100 km, dependendo do tipo de aplicação e da carga transportada, que oscilou entre 16 e 34 toneladas de peso bruto total. Em comparação, um caminhão a diesel semelhante, para percorrer a mesma distância, consumiria cerca de 58 mil litros de combustível e emitiria aproximadamente 154 toneladas de CO₂.

A tecnologia das células de combustível, desenvolvida pela cellcentric — joint venture entre Daimler Truck e Grupo Volvo —, mostrou alta eficiência e desempenho estável. Outro destaque foi a autonomia: cada veículo conseguiu rodar mais de 1.000 km com um único abastecimento, com tempos de reabastecimento entre 10 e 15 minutos, em condições muito semelhantes às de caminhões a diesel.

Os clientes relataram impressões positivas sobre a experiência de condução. Motoristas elogiaram a entrega dinâmica de potência, a suavidade no rodar e os baixos níveis de ruído, características que tornam o GenH2 não apenas eficiente, mas também confortável e prático para a rotina de estrada. A Amazon, por exemplo, utilizou os caminhões em rotas entre centros de distribuição, enquanto a Holcim os empregou no transporte de cimento para clientes na Alemanha e na Holanda.

No total, os caminhões foram reabastecidos 285 vezes, consumindo cerca de 15 toneladas de hidrogênio líquido (sLH2). O uso desse combustível trouxe vantagens importantes: maior densidade energética, maior autonomia e tanques mais leves em relação aos de hidrogênio comprimido, permitindo ainda ganho de carga útil. Isso reforça a viabilidade da tecnologia para o transporte pesado, que exige robustez e eficiência em viagens de longa distância.

Apesar dos avanços, a Daimler Truck reconhece os desafios que ainda precisam ser superados. O principal é a limitação da rede de abastecimento de hidrogênio líquido na Europa. Hoje, os testes estão restritos a estações em locais como Wöerth am Rhein e Duisburg, mas estima-se que até 2030 será necessário expandir a infraestrutura para cerca de 2.000 postos em todo o continente, a fim de viabilizar a adoção em larga escala.

Outro ponto em debate é o custo total de propriedade (TCO). Atualmente, os altos preços do hidrogênio e os custos de seguro dos veículos impedem uma comparação vantajosa com caminhões a diesel. Ainda assim, a Daimler Truck acredita que, com o avanço da infraestrutura e da produção em série, esses valores tendem a cair, tornando o hidrogênio competitivo no longo prazo.

O acompanhamento de perto da operação foi outro fator relevante. Técnicos da Daimler Truck prestaram suporte contínuo aos clientes durante o período de testes, ajustando fluxos de manutenção e coleta de dados. A integração entre motoristas, equipes de pós-venda e engenharia foi destacada como um dos pilares para o sucesso da experiência.

A próxima etapa já está programada: no quarto trimestre de 2025, uma segunda fase de testes será iniciada com novos clientes e cenários de aplicação. Em paralelo, a Daimler Truck planeja a produção de 100 caminhões GenH2 de série em sua fábrica em Wöerth, na Alemanha, com previsão de entrega a partir de 2026.

Com a estratégia de desenvolver veículos elétricos tanto a bateria quanto a hidrogênio, a Daimler Truck reforça seu compromisso com a descarbonização do transporte. Ainda que a expansão do hidrogênio esteja em ritmo mais lento que o previsto, a meta é alcançar produção em série e adoção prática no início da década de 2030.

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