Taxas sobre aço, alumínio e componentes elevam custos da indústria e favorecem produção no México
 

As montadoras de caminhões dos Estados Unidos estão em alerta. Com a retomada das tarifas impostas pelo governo Donald Trump sobre aço, alumínio e peças importadas, a indústria de veículos pesados — avaliada em mais de US$ 50 bilhões — vê seus custos de produção aumentarem de forma significativa. O impacto é tão direto que cada caminhão fabricado em território norte-americano pode custar de 2% a 4% a mais por unidade, de acordo com a ACT Research, empresa norte-americanaque fornece dados e análises para a indústria de veículos comerciais e cargas.

A medida faz parte da Seção 232 da Lei de Expansão Comercial, que impõe sobretaxa de 50% sobre a importação de insumos como aço, alumínio e derivados de cobre. Para fabricantes que dependem de componentes importados, como motores, eixos e estruturas, o resultado é uma perda de competitividade frente a rivais que produzem fora dos EUA.

Um dos pontos centrais é o Acordo EUA-México-Canadá (USMCA). O pacto garante isenção tarifária para veículos e peças produzidos na América do Norte, desde que cumpram regras específicas de origem. Atualmente, ao menos 64% do valor de um caminhão pesado precisa ser originário da região. Esse índice sobe para 70% em 2027.

Empresas como a Paccar, dona das marcas Kenworth e Peterbilt, são diretamente afetadas. A companhia estima custos adicionais de US$ 75 milhões somente no terceiro trimestre de 2025 devido às tarifas. Mesmo assim, manteve uma participação de mercado de 30,4% no primeiro semestre. A pressão, no entanto, é clara: para continuar competitiva, a alternativa é ampliar compras no México.

Planos tarifários podem interromper a produção de caminhões e a atividade de pré-compra - Foto: FREIGHTLINER CASCADIA CIT Trucks

Outras montadoras já se anteciparam. A Daimler Truck, dona da Freightliner, opera duas fábricas no México, produzindo o Cascadia Classe 8 e o Freightliner M2, ambos em conformidade com o USMCA. A Traton, subsidiária do Grupo Volkswagen e controladora da Navistar (International Motors), também aproveita o benefício fiscal. O resultado: caminhões produzidos no México chegam aos EUA mais baratos que os montados em solo americano.

Até a Volvo Trucks, que tradicionalmente fabrica em Dublin (Virgínia) e a subsidiária Mack em Macungie (Pensilvânia), anunciou investimento adicional de US$ 300 milhões no México, ampliando o valor total aplicado para US$ 1 bilhão. A justificativa é simples: reduzir a exposição às tarifas e manter preços competitivos frente aos concorrentes.

Segundo a consultoria Bernstein, o efeito prático é um “prêmio de custo de 3%” sobre os caminhões fabricados nos EUA em comparação aos produzidos no México. “As empresas com maior presença industrial nos Estados Unidos estão, paradoxalmente, em desvantagem competitiva”, explica o analista Chad Dillard.

Esse movimento, no entanto, gera tensão. Em abril, o Departamento de Comércio dos EUA iniciou uma investigação da Seção 232, para avaliar se as importações de caminhões médios e pesados representam ameaça à segurança nacional. Caso conclua positivamente, novas tarifas poderão ser impostas, o que ampliaria a incerteza sobre a produção no exterior.

A Mack informou que sofre o impacto das tarifas de Donald Trump, que afetam o custo de fabricação e a demanda por veículos pesados devido a tarifas sobre peças e incerteza no mercado - Foto: Divulgação Mack Trucks

A ACT Research já prevê reflexos negativos no setor. A expectativa é de queda de 11% na produção em 2026, atingindo 226.600 unidades. A redução na lucratividade das transportadoras, combinada à desaceleração econômica, pode pressionar ainda mais fabricantes que insistirem em produzir dentro dos EUA.

O contraste é visível nos números de rentabilidade. No primeiro trimestre de 2025, a margem bruta da Daimler foi de 21,96%, superior à da Paccar, que fechou em 18,69%. A explicação está justamente na estrutura produtiva mais flexível da montadora alemã, que concentra parte significativa de sua operação em países beneficiados pelo USMCA.

Para os caminhoneiros e transportadoras, as tarifas podem resultar em preços mais altos dos veículos, encarecendo a renovação da frota. Isso tende a impactar diretamente a logística e a eficiência do transporte rodoviário, já que os EUA movimentam mais de 70% das suas cargas em caminhões.

O mercado, por outro lado, continua promissor. Avaliado em US$ 51,56 bilhões, o setor de caminhões pesados norte-americano deve atingir US$ 71,81 bilhões até 2030, segundo a Mordor Intelligence. A disputa, no entanto, será por quem consegue alinhar custos, eficiência e conformidade regulatória diante de um cenário cada vez mais protecionista.

No fim das contas, a batalha dos fabricantes de caminhões dos EUA não é apenas comercial: é estratégica. Entre tarifas, pressão de custos e investimentos bilionários, o setor precisa decidir como equilibrar competitividade e independência produtiva. E, no meio dessa disputa, quem sente o reflexo imediato é toda a cadeia logística.

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Um caminhão Peterbilt é refletido na lateral de outro caminhão em uma concessionária em Bolingbrook, perto de Chicago, Illinois, em 3 de julho de 2014. A Peterbilt Motors Company é propriedade da Paccar Inc. REUTERS/Jim Young/Foto de arquivo Direitos de licenciamento de compra

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