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Estrada mais bonita do Brasil: Por que a Rodovia Rio-Santos tem essa fama?

Estrada mais bonita do Brasil: Por que a Rodovia Rio-Santos tem essa fama?

A rodovia margeia os litorais paulista e fluminense correndo a poucos quilômetros do mar

 

Difícil ter alguém que não goste de dirigir sem olhar a paisagem, não é? Quando a estrada dá a oportunidade de contemplar a natureza, o trajeto fica melhor. Por ser um país com uma das costas litorâneas mais extensas do mundo, não é raro encontrar destinos onde as estradas dão vista para o mar. 

Mas, uma dessas rodovias tem um toque especial. A BR 101, também conhecida pelo nome de Rodovia Rio-Santos, é considerada uma das rodovias mais bonitas do Brasil. Seus mais de 550 quilômetros, são cobertos por mata atlântica, e cercados por altas cachoeiras, ilhas e lindas praias.


Foto: Divulgação

 

Foi construída pelo Exército Brasileito com a principal função de ligar dois importantes pólos econômicos - São Paulo e Rio de Janeiro, trazendo muitas vantagens logísticas, seguindo a Serra do Mar. E de fato a ideia funcionou, pois foi através da construção da Rio-Santos que se iniciou a expansão do litoral norte paulista.  

A Rio-Santos corta a parte Centro-norte do litoral paulista e a região Sul do litoral do Estado do Rio de Janeiro. Aliás, é nesse trecho que estão as famosas praias e cidades, como: Guarujá, São Sebastião, Ilhabela, Ubatuba, Paraty e Angra dos Reis.

A construção aconteceu em três etapas, com a primeira iniciada em 1969. O ministro dos Transportes na época, Mário Andreazza, garantiu que a Rio–Santos ficaria pronta em 1971, quando iniciou a segunda etapa, mas só foi finalizada em 1975, sem uma inauguração oficial. A estrada ganhou importância para os dois Estados, sendo a principal ligação para a Usina Nuclear da região de Angra dos Reis, atraindo alto tráfego de caminhões. Servia como meio de fuga para os moradores e funcionários em caso de problemas graves na usina.


Estrada Rio-Santos trecho de serra, 1975 - Foto: Divulgação

 

O trajeto cheio de sinuosas curvas, caminhos de praias paradisíacas, cenários maravilhosos e natureza exuberante, guarda por toda sua extensão, lugarejos com rica história caiçara. Antes de ser asfaltada, o caminho já era bastante utilizado por índios, bandeirantes e posteriormente, tropeiros. Era necessário enfrentar a terra batida ou lama, numa viagem que costumava levar no mínimo seis horas a partir do Guarujá.

Antes mesmo de Cabral chegar no Brasil, as tribos da região: Tupiniquins e Tupinambás, que eram rivais, disputavam o espaço que hoje é Serra da Mantiqueira, entre Bertioga, São Sebastião e Ubatuba. Ambas as tribos tinham o hábito de ir até onde hoje está Paraty tomar banho em um importante ritual.


Rodovia Rio-Santos ainda em construção - Foto: Divulgação


Obras da rodovia Rio-Santos, em 1972 - Foto: Divulgação
 

O caminho ficou muito famoso entre os Índios e não demorou muito para que os colonizadores também conhecessem as maravilhas daquela região. Ainda no final do século XVII, os chamados bandeirantes, vindos das terras de São Paulo de Piratininga, conseguiram alcançar e explorar a Serra da Mantiqueira, região ainda fortemente habitada por tribos indígenas. 

Com o passar do tempo e depois de muitos conflitos, a cidade de Paraty foi se desenvolvendo e o caminho se tornou “acessível” a tropeiros, mineiros e mascates, que viajavam entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro levando cana-de-açúcar e escoando outros itens essenciais, como alimentos. 

Aproximadamente em 1660, a mando do então governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá, foi aberto definitivamente este caminho, que ligava o Rio de Janeiro a São Paulo de Piratininga, pois ir pelo mar até a Vila de São Vicente era muito perigoso pelas condições do tempo.

Ponte sobre o rio Itapanhaú, na Rio-Santos, em uso desde 1984, permitiu acesso rodoviário a Bertioga. - Foto: Almanaque da Baixada Santista 1976, de Olao Rodrigues, Santos/SP


Construção da Rodovia Rio-Santos - Foto: Arquivo Internet

O caminho, claro, era de terra batida e lama, que ficava dificílimo de passar em dias de chuva, já que as encostas deslizavam e inviabilizavam o caminho. Algo semelhante a hoje, não é? Quando a Coroa Portuguesa descobriu o ouro, restringiu as vias até Paraty e este se tornou o único acesso autorizado pela Coroa para o transporte da carga preciosa, ficando conhecida como Estrada Real - Caminho Velho.

Porém, com o passar do tempo, a Coroa construiu um novo caminho para escoar o ouro, que saía diretamente de Minas Gerais para a cidade do Rio de Janeiro. A construção de um novo caminho da Estrada Real, levou a toda região um grande isolamento econômico que durou anos. Foi somente após a construção da Rodovia Rio-Santos na década de 70, que esse trecho do litoral paulista e fluminense recebeu forte desenvolvimento econômico.


Vista da descida da serra na Rodovia - Rio Santos - Foto: Arquivo Internet

Um dos motivos para que o atraso na construção da rodovia foi a falta de mão de obra, já que, de acordo com o que foi divulgado à época, a população de Ubatuba, Paraty e região trabalhavam mais com pesca, transporte de alimentos e pequenas construções, não se adaptando ao trabalho imposto na construção da estrada. 

Mas apesar de demorar um pouco, a solução chegou. O Brasil estava sob Regime Militar, e justamente nesse período a expansão da malha rodoviária brasileira atraiu muitas pessoas ansiosas por trabalho, de todos os lugares do Brasil. O alto desemprego na região nordeste, e interior do sudeste, por exemplo, trouxe ao litoral paulista muitas famílias que largaram suas cidades natais em busca de trabalho.


Vista aérea do traçado da Rodovia - Fonte: Divulgação

Em 1985, o governador de São Paulo, Franco Montoro e o secretário dos Transportes, Adriano Murgel Branco, entregam ao tráfego, oficialmente, o trecho paulista da Rodovia BR-101, a Rio-Santos. Na obra foram aplicados recursos de Cr$ 23 bilhões, provenientes do Fundo Especial de Vias expressas do Governo Federal.

Alguns trechos do projeto original da Rodovia Rio—Santos, porém, nunca foram concluídos como o compreendido entre Porto Novo e Camburi, no município paulista de São Sebastião, onde há viadutos abandonados na Serra do Mar. Neste local foi incorporado o traçado de uma rodovia já existente.


Vista aérea da Rodovia Rio-Santos. Fonte: Arquivo Internet

Atualmente, cerca de 10 mil veículos comerciais circulam pela rodovia diariamente, trafegando com diversos tipos de cargas, mas em sua maioria, combustível, e o escoamento dos portos de Santos e São Sebastião. 

E uma curiosidade: Apesar do nome, ela não dá acesso à área urbana do município de Santos. Para isso é preciso usar a Rodovia Anchieta ou o acesso por Cubatão. Para motoristas de veículos leves, também é possível utilizar a balsa Santos-Guarujá.


Rodovia Rio-Santos na altura de Maresias, São Sebastião, nos anos 90. - Foto: Divulgação

E a história envolvendo a estrada não acaba aí. A Rio-Santos ficou muito famosa também na voz do rei Roberto Carlos, que gravou a música: As curvas da estrada de Santos. Segundo ele, a canção surgiu em uma das descidas do cantor até a cidade do Guarujá para se apresentar.

O próprio Roberto contou em entrevista como a música surgiu em sua mente:

“Frequentemente, a turma da Jovem Guarda esticava a noitada com a praia. Saíam da boate às quatro horas da manhã e iam para o Guarujá em cinco, seis carros, todo mundo acompanhado, ficando em algum hotel do litoral paulista. Em uma dessas descidas, tinha acabado de entrar na estrada e passei a reparar na paisagem. De repente, comecei a imaginar a história de um cara sozinho dentro de um carro naquela estrada procurando desabafar toda a dor de um amor perdido. Quando voltei do show não fui dormir antes de terminar a música”, lembra. 

E a inquietação teve resultado: A canção “Nas Curvas da Estrada de Santos” é uma das principais músicas brasileiras de todos os tempos, e além de estar em praticamente todas as listas de críticos de música brasileira, ela aparece entre as 100 maiores composições nacionais. 

Vista do litoral norte de São Paulo na Rio-Santos - Foro: Divulgação

Voltando a estrada, atualmente o DNIT administra o trecho entre Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e Praia Grande, em Ubatuba. No trecho entre Ubatuba até o trevo com a Rodovia Cônego Domênico Rangoni integra a malha rodoviária do estado de São Paulo recebendo a denominação de Rodovia Doutor Manuel Hipólito Rego (SP-55), trecho este sob administração do Departamento de Estradas de Rodagem.

Você conhecia toda essa história da Rio-Santos? Já contemplou a bela paisagem dessa estrada? Você também tem uma história na Rodovia Rio-Santos? Participe aqui com a gente!

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