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A data que marcou a história de um país: por que a Trabalhadores virou “Ayrton Senna”?

A data que marcou a história de um país: por que a Trabalhadores virou “Ayrton Senna”?

É comum que os nomes das estradas brasileiras façam homenagens a grandes figuras de nosso país. Tendo ou não alguma ligação histórica com as estradas ou setor de transportes, algumas já foram renomeadas diversas vezes, mudando até mesmo de homenageado.

A história que vamos conhecer hoje é de uma dessas rodovias. Criada inicialmente com o nome de Via Leste, o trecho da SP 070 teve seu nome alterado para Rodovia dos Trabalhadores, em homenagem aos homens e mulheres que impulsionavam a economia do país. Com extensão inicial de 50 quilômetros, a nova estrada passou a interligar a capital paulista à cidade de Guararema, na região do Alto Tietê.

A estrada ganhou esse nome em sua inauguração exatamente por ser uma importante via de escoamento de produtos, pois às suas margens estavam construídas diversas indústrias dos mais variados segmentos. Por ser utilizada quase que em sua totalidade por trabalhadores das estradas e ter sido inaugurada no dia do trabalho, nada mais justo do que receber uma homenagem tão nobre.

Ainda em sua fase de projetos, a Via Leste, depois oficialmente Rodovia dos Trabalhadores, foi pensada para desafogar a demanda da Via Dutra, única ligação de São Paulo ao Rio de Janeiro, que permitia acesso ao Vale do Tietê, já um importante polo industrial. A estrada cruzaria, ainda em seu início, na divisa entre São Paulo e Guarulhos, o Parque Ecológico do Tietê, cumprindo o compromisso de causar o menor impacto ambiental possível.

O trânsito na região estava insuportável, devido à quantidade de caminhões e ônibus que trafegavam pelos acessos da Dutra diariamente. O problema gerava grandes transtornos para empresas, com prazos de entrega facilmente estourados. Assim, na onda da expansão rodoviária, uma via que ligasse a região de Guarulhos com a capital e o Vale do Paraíba se tornou, não só interessante, mas também fundamental.

O traçado da rodovia seria exatamente paralelo ao da Vida Dutra, porém, seus entroncamentos permitiriam acesso mais rápido ao interior e litoral norte de São Paulo, já que as pistas seriam mais largas, favorecendo o tráfego de longas distâncias. Em 3 de agosto de 1979, o Decreto nº 13.756, deu concessão à DERSA para construção e exploração da Via Leste. No dia 1º de maio de 1982, a então Rodovia dos Trabalhadores foi inaugurada com a presença dos governantes da época.

A tecnologia utilizada na sua construção, que durou o tempo recorde de 22 meses, foi ainda superior à utilizada na, então mais moderna rodovia paulista, Rodovia dos Bandeirantes. À época, foi inaugurada também uma ligação entre a rodovia e o Aeroporto Internacional de Guarulhos, a rodovia Hélio Smidt (SP-019) e o Terminal Intermodal de Cargas, aliviando o tráfego da Rodovia Presidente Dutra no trecho mais movimentado (São Paulo-Guarulhos).

A rodovia também se tornou alternativa entre a capital paulista, o Vale do Paraíba e o Rio de Janeiro facilitando o turismo ao Litoral Norte e ao município de Campos do Jordão. Em pouco tempo de inauguração, a via já era uma das mais utilizadas na cidade e mostrou sua importância quando mais fábricas se instalaram nas regiões que margeiam a rodovia. Em 1989, cerca de 60 mil veículos trafegavam pela estrada, com destaque para a forte presença das indústrias do setor automobilístico, como Volkswagen e GM, além de siderúrgicas, como a Usiminas, que se localizavam próximas às saídas da via.

Nesse mesmo período, em um importante processo de privatizações, a rodovia foi concedida à DERSA, que passou a construir e operar todos os terminais intermodais de carga sob jurisdição do Estado de São Paulo e iniciou diversas melhorias, inclusive um novo trecho, ampliando ainda mais a usabilidade da rodovia. Em 1990, começou a ser construída a rodovia Hélio Smidt (SP-019).

O trecho, inaugurado em 1994, já sob o nome de Rodovia Carvalho Pinto e com 70 quilômetros de extensão, liga Guararema até Taubaté. A rodovia tornou-se uma das mais importantes vias para a distribuição da produção industrial das cerca de duas mil empresas instaladas na região do Vale do Paraíba. Mas, a história dessa importante estrada não acabava por aí. Como já vimos, a história das estradas estão ligadas à história do Brasil e, no caso da Rodovia dos Trabalhadores, essas histórias se cruzaram de um jeito bastante triste.

O Brasil sempre foi um país muito ligado ao esporte, como o futebol, basquete e o vôlei, que eram os que geravam mais engajamento dos torcedores. Até que um tal de Ayrton Senna da Silva mudou essa história. Ele colocou o Brasil na história do automobilismo mundial, feito que nenhum brasileiro havia sequer pensado. Suas conquistas o tornaram um herói, não só para quem amava velocidade, mas para quem amava o verde e amarelo.

As corridas da Fórmula 1 aos domingos de manhã eram o melhor programa de uma geração que, até hoje, não se esquece da música tocada nas vitórias de Senna. Até que em 1º de maio de 1994, o Brasil perdia um dos seus maiores ídolos no esporte e deixava um vazio jamais preenchido. Através da então Rodovia dos Trabalhadores, foi iniciado o cortejo fúnebre e os brasileiros puderam dar o último adeus ao seu herói.

A via se silenciou como nunca antes havia acontecido e do alto de viadutos, pontes, acostamentos e ruas, os brasileiros viram passar o carro de bombeiros que trazia aquele que representava a esperança brasileira. A história da rodovia e de Ayrton se cruzaram e nesse mesmo ano, o nome "dos Trabalhadores" foi substituído para rodovia Ayrton Senna.

Essa homenagem trouxe muita repercussão na época, sugerindo até a criação de uma nova rodovia para que se mantivesse a ideia de haver homenagens aos trabalhadores e também ao ídolo, mas a decisão de mudança de nome foi mantida e desde 1994 a rodovia que liga a capital de São Paulo com o Vale do Paraíba, chegando ao fim em Guararema e ligando a cidade até Taubaté, leva o nome dessa importante figura.

Quem viveu na época de Ayrton Senna se lembra bem de como era bom torcer pelo Brasil e não tem como não se lembrar dele ao cruzar a rodovia, principalmente, quando em 2019, uma estátua de Ayrton foi colocada dentro do Parque Ecológico do Tietê, às margens do quilômetro 18 oeste. Uma curiosidade bem legal é que próximo à estátua se encontra o centro de treinamento do Corinthians, clube do coração de Ayrton.

Atualmente, pelo corredor Ayrton Senna/Carvalho Pinto, gerenciado pela Ecopistas, trafegam cerca de 150 mil veículos pedagiados por dia, em ambos os sentidos. A via faz parte do Corredor de Exportação Campinas – Vale do Paraíba Litoral Norte. Seus 140 km de extensão cortam os municípios de Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes e Guararema, e continua em direção ao Vale do Paraíba pela Rodovia Governador Carvalho Pinto, também SP-070.  Possui o SAU–Sistema de Ajuda ao Usuário, em toda sua extensão, com disponibilidade dos serviços de Primeiros Socorros e Guincho.

Pamela Emerich

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