Onde tem estrada, tem um caminhoneiro, não é? Em países com grande extensão territorial, as estradas geralmente são a principal forma de transporte de cargas e a profissão de caminhoneiro é bastante requisitada. Em países menores, pode se tornar ainda mais importante, dividindo com a ferrovia o trabalho de transportar cargas.
Quando falamos em Europa, logo pensamos nas estradas muito bem conservadas e com ótima infraestrutura, o que de fato acontece na grande maioria dos países. Mas, como em todos os outros países do mundo, cada um tem sua particularidade, seja pelo tamanho do território, seja pela cultura local, diferentes formas de tráfego de pessoas ou veículos ou pelas diferenças entre a forma em que os caminhoneiros trabalham.
A Holanda é um país com algumas particularidades. Possui poucos quilômetros de estradas, diversas ruas proibidas para tráfego de veículos pesados e o mais interessante: com um alto tráfego de bicicletas (até mais que os carros). A enorme presença de bicicletas por todo país, especialmente em Amsterdã, fez com que medidas de trânsito fossem tomadas ao longo dos anos para dividir esses modais e criar um bom relacionamento entre gigantes e magrelas.
Para isso, o país desenvolveu diferentes tipos de vias de tráfego: as zonas urbanas, onde o trânsito é preferencialmente de bicicletas, motos e carros, com limite de velocidade de até 50 km/h. As rodovias secundárias também permitem o tráfego de bicicletas (com ciclovias instaladas), motos, carros e alguns tipos de caminhões, permitindo até 80 km/h. E as autoestradas, com limite de 120 km/h, totalmente liberadas para caminhões, não permitem o tráfego de bicicletas e motos, mas mantêm ligações com as rodovias secundárias para facilitar o tráfego como um todo.
Outra medida holandesa para melhorar o relacionamento entre carros, caminhões e bicicletas, foi o esforço para a mudança de hábitos no trânsito. Para sair do carro, em vez de pegar a maçaneta com a mão esquerda, os futuros motoristas são treinados a usar a mão direita. O simples gesto força o corpo a se virar, ajudando a criar o hábito de olhar para trás, ponto cego do motorista, com o objetivo de enxergar algum ciclista que possa ser atingido pelo motorista ao abrir a porta.
Na Holanda dirige-se pelo lado direito da pista e não há cobrança de pedágio nas autoestradas do país. Porém, existem algumas pontes ou túneis pedagiados, geralmente bases de fiscalização para o tráfego de veículos pesados. Outra característica interessante do país, e que em alguns pontos se assemelha ao Brasil, é que nem sempre o caminhoneiro vai encontrar postos de combustível abertos. O horário de funcionamento da maioria dos postos é das 08h às 21h. Em cidades maiores e em autoestradas é possível encontrar postos abertos 24 horas, mas eles não são tão comuns como os que vemos nas rodovias por aqui.
Uma medida recente e que tem causado bastante discussão no país é a proibição de fumar em caminhões e em qualquer outro espaço de trabalho na Holanda desde o dia 1º de janeiro de 2022. A nova lei tem gerado polêmica entre os caminhoneiros, porque a restrição vale também para motoristas estrangeiros que estiverem trabalhando no país, inclusive para os que estiverem apenas cruzando o território holandês.
E a multa é cara! São 450 Euros, o que corresponde a cerca de R$ 2,9 mil na conversão direta, sem taxas. Porém, a lei determina o veto apenas em áreas comuns de trabalho. Assim, não se aplica a caminhoneiros autônomos que estejam dirigindo o próprio caminhão.
Quanto ganha um motorista de caminhão na Holanda?
Uma das moedas mais valorizadas no mundo é o Euro, moeda oficial do país. Um caminhoneiro no país tem salário médio de USD 3.637, ou seja, algo em torno de R$ 20.140,28! É isso mesmo que você está lendo, estradeiro. O salário da categoria está um pouco acima da média do país, que é de USD 2864, o que corresponde a R$ 15.859,71. Com exceção de alguns autônomos ou caminhoneiros de longa distância, na Holanda os profissionais trabalham de três a quatro dias na semana.
É bastante comum viagens para países que fazem fronteira com a Holanda e que têm fortes parcerias comerciais, como a Bélgica e, principalmente, a Alemanha, a leste e sul. O país exporta especialmente máquinas e peças de máquinas, gás e flores, sendo a 5ª economia mais forte da Europa Além do setor industrial, um dos segmentos mais frequentes para estrangeiros que se tornam caminhoneiros é o da área alimentícia, fazendo entregas para redes de supermercados dentro e fora do país.
Em relação aos caminhões que rodam no país, não encontramos muitas diferenças. Alguns modelos que circulam na Europa são mais modernos dos que o que chegam por aqui, mas as principais marcas são Scania, Volvo, Mercedes e, claro, a nacional DAF, que representa cerca de 32% dos caminhões vendidos no país.
Assim como em outros países da Europa, a profissão encontra uma defasagem de profissionais, o que tem sido uma boa oportunidade para motoristas estrangeiros. Porém, para atuar com pesados no país são necessários, além da habilitação C (ou E), cursos de adaptação para as regras de direção local e cursos específicos para a operação de caminhões (tudo em inglês para se adaptar a língua).
A experiência também é muito importante para conseguir um emprego na Holanda. Seja para motoristas holandeses ou estrangeiros, a experiência de mais de sete anos impacta até 13% no salário. Já um profissional em tempo médio de carreira, impacta 5% nos ganhos, mas os novos profissionais, ou seja, aqueles que vão começar a dirigir pelo país, tem uma perda significativa no salário: 12%. Ou seja, profissionais com mais tempo de mercado são muito mais valorizados na Holanda.
Interessante citar que desde 2017 o país estabeleceu um salário mínimo para estrangeiros. A nova legislação aplica-se tanto aos motoristas assalariados e aos independentes, com salário mínimo de 13,91 euros/hora. Além de responsabilizar o transportador, os clientes ou carregadores pela prática de eventuais irregularidades. As melhores cidades para encontrar um emprego: Amsterdã (capital), Roterdã, Haia, Utrecht, Eindhoven, Tilburg e Groninga.
A União Europeia tem sofrido graves atrasos nos caminhões nos últimos meses, à medida que o continente continua se recuperando das interrupções do coronavírus. A questão do transporte do bloco parece estar a caminho de ser ainda mais aguçada quando os holandeses começaram a mostrar sua solidariedade aos caminhoneiros canadenses que recentemente protestaram contra as políticas da Covid-19 e os mandatos de vacinas. Imagens surgiram nas mídias sociais mostrando motoristas de caminhão holandeses aparentemente montando seu próprio “comboio da liberdade” para se manifestar contra as próprias políticas de Amsterdã contra o coronavírus.
Cidades holandesas só permitirão caminhões Euro 6
Outra grande preocupação da Holanda é a sustentabilidade. Por ser um país praticamente todo desenvolvido abaixo do nível do mar e que sofre com mudanças climáticas, há anos desenvolve soluções para reduzir as emissões de poluentes por veículos. Assim, desde 1º de janeiro caminhões que não estejam em conformidade com o Euro 6 estão proibidos de trafegar nas chamadas zonas verdes. Nesses locais, é vetada a circulação de veículos poluidores. A restrição inclui caminhões, ônibus e vans, inclusive estrangeiros.
Porém, alguns automóveis com motor a diesel também podem ter a circulação proibida. Inicialmente, 15 municípios holandeses contam com zonas verdes. Isso inclui a capital, Amsterdã, além de Haia e Rotterdam, onde fica um dos mais importantes portos da Europa. A partir de 1º de janeiro de 2025, as regras ficarão ainda mais severas. Ou seja, nas zonas verdes só serão liberados caminhões que não emitam poluentes: os movidos a eletricidade.
Trabalhar como caminhoneiro na Holanda pode compensar bastante em relação ao salário e a política de benefícios que o país oferece aos trabalhadores. Além de ser um dos países mais ricos da Europa, também oferece um dos salários mais altos. A possibilidade de conhecer outros países também parece bem interessante. Claro que a cultura e a língua podem ser um problema, porém, existem diversas formas de estudar e aprender mais sobre o trabalho local.
E aí estradeiro, você seria caminhoneiro na Holanda? Você tem curiosidade de saber como é o dia a dia dos caminhoneiros de algum país? Participe com a gente e não deixe de compartilhar com seus amigos do trecho.
Pamela Emerich
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