Os caminhões chegaram ao Brasil somente no século XX, mas, durante o período Imperial, que ocorreu no século XIX, já estavam sendo criadas estradas para avançar sobre o interior do país, facilitar acessos - principalmente para viagens da família real - e acelerar a urbanização. Não à toa, a primeira estrada de que sem notícia foi criada justamente por Dom Pedro II. Claro que na época o tráfego era realizado por animais e escravos, mas já foi o primeiro passo para o que seria o desenvolvimento rodoviário brasileiro
Mas, se formos mais além, existem estradas ainda mais antigas. De acordo com os dicionários, se define como estrada, um caminho que atravessa certa extensão territorial, ligando dois ou mais pontos, através da qual transitam pessoas, animais ou veículos. Pensando sob essa lógica, o Brasil já possuía muitas estradas feitas pelos índios quando os colonizadores portugueses chegaram por aqui. E várias outras foram sendo desbravadas com o passar dos anos, servindo como passagem para cavalos, carruagens e pessoas a pé.
No tempo da Colônia, o Brasil tinha caminhos bastante precários, percorridos principalmente por índios e por padres, feita de forma bastante rústica. Se pensarmos em uma rodovia propriamente dita, nós temos que pensar em Washington Luis, na década de 20. Mas, antes mesmo da industrialização, a primeira estrada feita para o transporte mais efetivo de cargas deu início a história do transporte rodoviário brasileiro.
Batizada de Estrada União e Indústria, a primeira estrada pavimentada do Brasil que se tem notícia foi inaugurada no dia 23 de junho de 1861 pelo imperador Dom Pedro II, ligando Juiz de Fora (MG) a Petrópolis (RJ), com 144 quilômetros de extensão por 8 metros de largura. A estrada foi feita com mão de obra de colonos alemães que utilizaram o método “macadame”, quando o piso é composto por pequenas pedras que são comprimidas e se encaixam umas nas outras. Desse jeito, a superfície regular da estrada permitia que os veículos com tração animal atingissem a inédita e surpreendente velocidade de 20 km/h.
Foi um grande avanço para a engenharia nacional e um marco para a integração dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, facilitando o escoamento da produção cafeeira na região - uma das principais economias da época. A importância da ligação viária foi tanta que também deu origem ao primeiro guia de viagens do Brasil, escrito pelo alemão Revert-Henry Klumb, então fotógrafo do imperador, que se chama “Doze horas em diligência – guia do viajante de Petrópolis a Juiz de Fora” e descreve toda a viagem com textos e fotos.
O começo do projeto foi em 1854, quando o comendador Mariano Procópio Ferreira Lage recebeu a concessão por 50 anos para a construção de custeio de uma rota que, partindo de Petrópolis, se dirigisse à margem do rio Paraíba. Ele então criou a Companhia União e Indústria, que deu nome à estrada. Seu lucro vinha do pedágio por mercadoria, que era cobrado dos usuários da rota.
Em 1856 os trabalhos se iniciaram com a presença do Imperador Dom Pedro II e a família imperial, que registrou o evento - a placa ainda pode ser vista no início da avenida Barão do Rio Branco, em Petrópolis. O primeiro trecho a ser finalizado foi inaugurado em 18 de abril de 1858 e ligava Vila Teresa a Pedro do Rio, num total de 30,865 metros. De Pedro do Rio a obra seguiu até Posse, dois anos e 14 quilômetros depois.
A inauguração da primeira estrada brasileira foi um evento marcante para a época. D. Pedro II e uma grande comitiva percorreram o vistoso caminho de Petrópolis a Juiz de Fora, e os presentes ficaram surpresos e encantados com a velocidade que a pista proporcionava. As diligências cruzaram a estrada recém inaugurada a uma sensacional velocidade de 20 quilômetros por hora. O surgimento da estrada foi definitivo para esta última, transformando Juiz de Fora, ainda em desenvolvimento, numa importante rota comercial entre os dois estados.
Com o tempo a estrada original foi sendo absorvida e alterada em diversos trechos. Entre Petrópolis e Itaipava, e entre Areal e Alberto Torres, novas estradas foram abertas na metade do século XX. As rodovias propriamente ditas só chegaram ao Brasil muitos anos depois. O presidente Washington Luís inaugurou em agosto de 1928, a Rio-Petrópolis, a primeira rodovia concretada do país.
Até então, a ligação entre a capital federal e a cidade imperial era feita por caminhos de terra, que, não raras vezes, ficavam intransitáveis após temporais. Somente em 1980 que toda a estrada foi substituída pela BR-040, no trecho entre o Rio de Janeiro e Juiz de Fora, tornando a rodovia mais moderna, com pistas duplas, que absorveu partes das estradas antigas, deixando a antiga União e Indústria apenas para o tráfego local.
Hoje a estrada faz parte dos sistemas rodoviários estaduais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo denominada RJ-134 entre Petrópolis e Areal, BR-393 em Três Rios, RJ-131, entre Três Rios e Comendador Levy Gasparian, RJ-151 entre Comendador Levy Gasparian e Montserrat, MG-874 entre Simão Pereira e Matias Barbosa e finalmente BR-267 entre esta última cidade e Juiz de Fora.
Da antiga Estrada União e Indústria ainda restam várias construções e pontes, destacando-se a Ponte de Santana em Alberto Torres, restaurada nos anos 1980. Ainda existem também o Viaduto Domingos da Veiga Soares em Areal, a Ponte das Garças em Três Rios e a antiga Estação de Paraibuna em Mont'Serrat, município de Comendador Levy Gasparian, construída em 1856 para a troca das mulas durante as diligências (procedimento realizado várias vezes na viagem entre Petrópolis e Juiz de Fora).
A estação é importante para a história do desenvolvimento rodoviário brasileiro, pois abriga atualmente o Museu Rodoviário, onde é possível vislumbrar em detalhes a história da União e Indústria e do sistema rodoviário brasileiro. O Museu foi inaugurado em 23 de junho de 1972 e seu principal destaque é a diligência Mazeppa, que transportou Pedro II na viagem inaugural da estrada entre Petrópolis e Juiz de Fora. A Mazeppa é a única diligência que sobrou das que percorreram a União e Indústria.
O trecho Juiz de Fora - Belo Horizonte
Atualmente, o trecho da BR-040 nas proximidades de Juiz de Fora (MG) que corresponde aproximadamente ao traçado do Caminho Novo, aberto no século XVIII, possui 260 km. Na década de 1930 a estrada foi retificada e atingiu Belo Horizonte. Em 1957 foi inaugurada a pavimentação da então rodovia BR-3, como era chamada até 1964, pelo presidente Juscelino Kubitschek.
Em 1982 a rodovia foi duplicada de Belo Horizonte até o trevo da BR-356 (para Ouro Preto), de Alfredo Vasconcelos até Serra da Mantiqueira, próximo a Santos Dumont, passando por todo por território de Barbacena e alargada até Juiz de Fora, exceto trechos em pontes e viadutos, sendo que desde meados da década de 1990 diversos trechos estão sendo duplicados.
É importante lembrar que a rodovia entre Juiz de Fora e Belo Horizonte, apresenta diversos pontos perigosos, tais como a Curva do Ribeirão do Eixo, no km 588, o Viaduto do Túnel no km 756, entre outros. A parte da estrada considerada mais perigosa são os 90 km que ligam Conselheiro Lafaiete à capital mineira. O ponto inicial da rodovia fica localizado em Brasília, no entroncamento com a BR-450 e com a BR-251, enquanto que o ponto final fica localizado no Rio de Janeiro, mais especificamente na Rodoviária Novo Rio.
A BR-040 tem extensão total de 1.175,5 quilômetros e além do Distrito Federal , passa pelos estados de Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro, sendo a principal ligação rodoviária entre estas unidades federativas. Em setembro de 2009, o trecho da rodovia compreendido entre Brasília (DF) e Petrópolis (RJ), passou a receber o nome de Rodovia Presidente Juscelino Kubitschek, através da sanção presidencial da Lei Federal N° 12.028/2009.
Além de toda a história da Rodovia, que está muito ligada com o período imperial do Brasil, ou seja, o começo de todo o desenvolvimento do país, a rodovia tem uma das mais belas paisagens que os caminhoneiros podem encontrar em estradas brasileiras. É possível avistar a cidade de Petrópolis de cima e também, um dos morros mais famosos da região, que é possível ver também as primeiras imagens divulgadas da estrada, na época de sua primeira construção.
Já pensou como seria trafegar com um pesado naquela época? Seria no mínimo interessante imaginar, não é? Mas conta aqui pro Planeta, você já guiou por essa estrada? Achou ela bonita mesmo? Participe com a gente e não deixe de compartilhar com seus amigos do trecho.
Pamela Emerich
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