Se você acha que o trânsito de algumas cidades no Brasil é caótico, imagina então se fosse caminhoneiro na Índia? Com certeza, você já deve ter visto algum vídeo mostrando um dia comum pelas ruas de uma cidade média do país e se perguntado: como será que eles conseguem se locomover? E a bagunça não é só nas ruas, as rodovias também têm seus riscos, tanto que é na Índia que está a estrada que é considerada a mais perigosa do mundo. Mas, como é, afinal, a vida do caminhoneiro na Índia?
A Índia é um país com extensões territoriais bem grandes, um dos maiores países do sul da Ásia e importante parceira comercial de centenas de países em todo o mundo. A Índia tem uma rede rodoviária total de 6,4 milhões de km, conectando todas as principais cidades e capitais dos estados, formando a espinha dorsal econômica do país. Em 2019, a Índia tinha um total de 69.754 km (45.479 mi) de rodovias nacionais, dos quais 1.205 km (749 mi) são classificados como vias expressas.
Embora a Índia tenha uma grande rede de quatro ou mais rodovias de padrão internacional de qualidade, mas sem controle de acesso (controle de entrada / saída), elas não são chamadas de vias expressas, mas simplesmente rodovias. Elas são divididas entre rodovias nacionais, estaduais, estradas urbanas e rurais. As rodovias nacionais respondem por 2% da malha rodoviária total e transportam mais de 40% do tráfego total. A Índia é bastante dependente do transporte rodoviário, que representa mais de 50% do total das cargas movimentadas quando calculado com base na tonelada por quilômetro útil transportado (TKU).
A rede rodoviária da Índia é a segunda maior e uma das mais movimentadas do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, transportando 8,225 bilhões de passageiros e mais de 100 milhões de toneladas de carga anualmente. Por ser um país extenso, existem diversos tipos de terreno e necessidades para os caminhões utilizados no país, que utilizam muitos modelos de pesados, importados de vários países do mundo.
A Índia também possui muitas pontes e viadutos nas principais cidades para reduzir o congestionamento do tráfego. A velocidade média dos veículos de tráfego metropolitano intraurbano da Índia, em Delhi, foi de 25 km / h (16 mph), em Mumbai 20,7 km / h (12,9 mph), em Chennai 18,9 km / h (11,7 mph) e em Calcutá 19,2 km / h ( 11,9 mph), de acordo com um estudo da Ola Cabs, em 2019. Para além das grandes cidades, as estradas na Índia são mal conservadas. O congestionamento nas estradas é um fenômeno normal e os engarrafamentos são frequentes.
Como é ser caminhoneiro na Índia?
Existem cerca de seis milhões de caminhoneiros no país e, assim como no Brasil, a profissão é uma das mais importantes, mas também não é tão reconhecida quanto deveria. Além disso, os profissionais sofrem com os altos preços dos combustíveis, dos pneus, altos juros e impostos em financiamentos de novos caminhões e muitos outros impostos para operar o veículo.
O salário dos caminhoneiros na Índia gira em torno de USD 538, o que convertendo para reais é algo em torno de R$ 2.721,63 por mês. Já o salário médio na Índia é de USD 456, que em reais dá R$ 2.306,81, ou seja, um pouco acima da média salarial do país. A moeda oficial é a INR (Rupia Indiana), que comparada ao dólar, vale um pouco menos que o Real, mas é utilizada no mercado local.
No país é comum os caminhoneiros contratados receberem um plano de previdência e planos de saúde, já que os índices de condições de saúde indiana são bem críticos, principalmente entre motoristas de caminhão que estão constantemente expostos à fumaça, poluição, sol escaldante, contaminação na água, entre outros problemas, além, é claro, da pandemia que também assolou o país em 2020.
Você pode dirigir na Índia se você tiver uma licença local ou uma Licença de Condução Internacional (IDL). Estrangeiros com uma carteira de motorista internacional podem facilmente dirigir carro ou moto, mas para dirigir veículos pesados é preciso uma certificação especial. Se o IDL expirar, o estrangeiro pode obter uma licença local de condução ao submeter a sua licença expirada, juntamente com uma carta de apresentação da embaixada do país de origem.
Assim como não existem muitas regras para o tráfego, e as que existem são difíceis para turistas e estrangeiros, também não há na Índia uma legislação sobre pesagem e limite de cargas para os caminhões. É muito comum ver trafegando pelas estradas caminhões com cargas visivelmente superiores que a recomendada, chegando algumas vezes a “vazar” para os lados e até mesmo por cima da cabine. Algumas vezes, a quantidade de carga carregada até faz com que o pesado “suma” da visão no meio da estrada. Desde 2005, caminhões pesados não podem trafegar pelas cidades. Essa é uma das poucas regras de trânsito que são de fato levadas a sério no país.
Caminhões Indianos: obras de arte sobre rodas
Se rodando pelas estradas do Brasil é fácil perceber que os caminhoneiros gostam de enfeitar seus pesados, rodando pela Índia se percebe que isso não é algo exclusivo doa brasileiros. Percorrendo as estradas indianas é possível se encantar não só pelas belíssimas paisagens de algumas estradas, mas também, com o colorido dos caminhões do país, que são uma verdadeira forma de expressão cultural.
Para o caminhoneiro indiano, se vai passar dez meses por ano na estrada, não basta ter um veículo que rode bem e seja confortável, mas precisa ser muito mais do que isso. Para esses profissionais, os caminhões são obras de arte em movimento, que refletem a sua personalidade, uma maneira de expressão da identidade e das características do dono do veículo. É interessante ver que as pessoas expressam seus sentimentos, crenças e culturas regionais para o mundo através dos seus caminhões.
Além disso, os indianos acreditam que um caminhão colorido e devidamente decorado atrai mais negócios. E, num país com quatro milhões de quilômetros quadrados de área, onde a economia principal está nessa rede de transporte, isto é muito importante. Impossível percorrer as estradas e rodovias da Índia e não se deparar com estes caminhões coloridos, com imagens de deuses e deusas, frases de efeito, expressões religiosas e desenhos típicos da cultura indiana.
O incrível é ver que em alguns casos, parece que nem o parafuso escapa da tempestade de cores que acerta o caminhão e o interior dos veículos é, muitas vezes, mais colorido e extravagante que o exterior dos caminhões. Principalmente, os pesados que cruzam o país até o Afeganistão por uma estrada centenária. Eles têm uma boa estrutura e são praticamente as casas dos caminhoneiros.
Como em todos os lugares do mundo que conhecemos nessa série, não é fácil ser caminhoneiro na Índia. Apesar do país ter uma enorme presença comercial no mundo e depender tanto das rodovias, ainda deixa a desejar aos profissionais em alguns quesitos. Mas, assim como acontece aqui, é nítido ver que esses profissionais amam suas máquinas e fazem delas não só sua fonte de renda, mas também, sua arte e suas crenças em movimento.
E você, seria caminhoneiro na Índia? Optaria por esses modelos de caminhões Tata coloridos ou iria preferir um BharatBenz mais no modelo convencional? Toparia encarar o trânsito e caos das estradas indianas? Participe com a gente e não deixe de compartilhar com seus amigos do trecho.
Pamela Emerich
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