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O clássico da Chevrolet D-60 e a entrada dos motores a diesel da GM no Brasil

O clássico da Chevrolet D-60 e a entrada dos motores a diesel da GM no Brasil

Com certeza, você já deve ter visto um caminhão Chevrolet D-60 com cargas mais simples, como móveis e materiais de construção. Esta relíquia já esteve muitas vezes na lista de mais vendidos do Brasil e, até hoje, é muito usada para o transporte de diversos tipos de cargas. Os caminhões Chevrolet no Brasil tiveram importante participação na história do transporte e na popularização do veículo pelas estradas do país, já que foi uma das primeiras montadoras a chegar em terras brasileiras ainda em desenvolvimento.

Considerado o primeiro caminhão 100% nacional da Chevrolet, o modelo D-60 era facilmente encontrado sendo utilizado como um caminhão de gás (principalmente em cidades do interior), fazendo serviços para depósitos de construção, no carregamento de sacos de areia, sacos de cimentos, e outros materiais, ou atuando com fretes e mudanças. Seja como for, com certeza você conhece esse modelo que rodou, e ainda roda, principalmente, por cidades do interior do país, onde o tráfego de grandes caminhões é mais difícil.


Pátio da fábrica da General Motors do Brasil em 1948, ainda não concluída, com uma amostra de sua produção na época: ônibus e caminhonetes com carrocerias nacionais – metálicas e de madeira, caminhões com cabines já fabricadas no Brasil e automóveis Chevrolet aqui montados (fonte: site felipebitu).

Fez parte da segunda geração de caminhões da marca Chevrolet fabricados no Brasil, entrando para o mercado com a maior tendência da época: o motor a diesel. Chegou a ser campeão de vendas e dono de uma tradição que durou décadas, mas que não conseguiu acompanhar a evolução tecnológica e a forte concorrência. Foi lançado para ser o representante da marca no crescimento do mercado brasileiro, já que na época Mercedes-Benz, Scania, Chevrolet, Dodge, Ford e FNM disputavam palmo a palmo a melhor fatia deste mercado tão rentável para as montadoras.

Quando chegou ao Brasil, em 1925, a General Motors encontrou um terreno amplo para desenvolver seus veículos, já que na época só havia a fábrica da Ford. A empresa foi registrada como Companhia Geral de Motores do Brasil S.A. (posteriormente, General Motors of Brazil e General Motors do Brasil) e se instalou em um prédio industrial no bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo, com fabricações e importações sob a forma CKD, porém com motores e transmissões totalmente montados.



No final de 1927, a GM iniciou a construção de uma fábrica própria em São Caetano do Sul (então distrito de São Bernardo do Campo, do qual se emancipou em 1948). Muito moderna para a época, a unidade contava com linhas de montagem específicas para chassis e carrocerias, setores de pintura, estofamento e carpintaria e linha para construção de carrocerias de madeira para caminhões.

Mas, foi somente em 1949 que a empresa concluiu a ampliação da planta de São Caetano aumentando suas instalações e construindo mais seções de prensas e linhas de montagem, uma delas dedicada a veículos da marca Chevrolet (automóveis, caminhões e demais modelos comerciais), resultado da antiga parceria do piloto e engenheiro Louis Chevrolet e William C. Durant, fundador da GM.

Chevrolet Brasil 1959

O Brasil caminhava para um forte desenvolvimento, principalmente de urbanização, e a Chevrolet conseguia suprir bem as demandas do mercado. Seus caminhões eram os mais comprados no país e em junho de 1957 os caminhões da marca já contavam com cerca de 40% (em peso) de componentes nacionais; naquele ano foram fabricadas 5.370 unidades do modelo 6503 para seis toneladas.

Os primeiros caminhões de fabricação brasileira foram os 3100, 6500 e suas variações, que ficariam conhecidos como Chevrolet Brasil com motor a gasolina. Na concorrência nacional estava o Ford F-600 também a gasolina que havia sido nacionalizado no ano anterior, o MB L-312 e também o FNM com o modelo D-11.000 a diesel. Tratava-se de um caminhão “básico”, de concepção absolutamente convencional, com antiquado motor a gasolina nascido nos EUA nos anos 30: chassi tipo escada, molas semielípticas, eixos rígidos, freios hidráulicos a tambor com assistência a vácuo, caixa de quatro marchas sincronizadas, diferencial de duas velocidades e motor com seis cilindros (quatro mancais), 4,3 litros e 142 cv.


Chevrolet Brasil 6500

Em 1964, a Chevrolet atualizou seu portfólio com o lançamento de uma nova família de caminhões médios Chevrolet C-60, sendo comercializados nas versões de tração 4X2 e 6X6, apesar de contar com o mesmo chassi e conjunto mecânico do seu antecessor, o veterano Chevrolet 6500 Brasil. O C60 chegava ao mercado com algumas heranças do antecessor, o câmbio era manual de quatro ou de cinco marchas dependendo da escolha do cliente (ou seja, o manual de quatro marchas voltava como opcional), chegando ao mercado de início com motor seis cilindros 261 de 4.3 litros e 151CV.

Este tipo de motor pertence à segunda geração de motores seis cilindros da Chevrolet, que era a gasolina e dotado de carburador de corpo simples. Com bloco e cabeçote de ferro, comando de válvulas no bloco acionado por varetas, gerava 32.1KGFM a 2400 RPM e 151 CV a 4800 RPM, nove cavalos mais potente que o antecessor.



Em setembro de 1964, a Chevrolet alcançou a marca de cem mil caminhões fabricados no Brasil e seu índice de nacionalização superava os 99%. Nesse ano, foi lançada a segunda geração da Chevrolet e no ano seguinte o D-60, com motor diesel Perkins seis cilindros, com diâmetro de 104.1mm e o curso de 114.9mm, que totalizavam 5840cm3 e caixa com quatro ou cinco marchas. Gerava 40.4KGFM a 1350 RPM e 140CV a 3000RPM e na grade dianteira em vez do símbolo da Chevrolet estava "Diesel " em referência ao motor a diesel que tinha bomba injetora mecânica de atuação indireta, em torno de sete toneladas, provavelmente o peso bruto ao redor dos 11000kg.

Os motores Perkins antigos de injeção indireta, ficariam conhecidos depois por ter certa dificuldade na partida a frio. Nos modelos antigos os proprietários desenvolviam a técnica de auxiliar com uma tocha de fogo próxima ao coletor de admissão. Posteriormente, o problema seria resolvido com um sistema de preaquecimento no coletor, de vela incandescente. Alguns anos depois, foram lançados modelos de injeção direta.



Assim como os C-60, esses modelos diesel eram oferecidos em várias distâncias entre eixos e comprimento total, sendo eles os D-64, 65 e 68. Com lançamento tardio (a Ford, maior concorrente da GM no segmento de caminhões médios, produzia seu diesel havia quatro anos), o modelo ganhou um capô mais anguloso, abrindo espaço para a nova mecânica. Foi em março de 1965, quase quatro anos depois da Ford e sete anos depois do começo da produção nacional.

Seu principal concorrente foi o caminhão Ford F-600, na configuração toco. O modelo entregava basicamente a mesma relação custo-benefício. Mas na prática, o Chevrolet D-60 tinha uma manutenção um pouco mais barata e o preço do modelo zero km nas concessionárias era também mais em conta. Em 1968, seria lançado o segundo diesel, o D-65, com 142 cv. Também foi disponibilizada a variante P, a diesel ou gasolina, com eixo e suspensão traseiros reforçados, aumentando a capacidade de carga para até 7,8 toneladas.



Durante a década de 1970, iniciou a febre dos caminhões no Brasil. A indústria automobilística brasileira nunca havia produzido tantos utilitários nas configurações toco e truck. O motivo foi a explosão da indústria brasileira, ainda durante a década de 1970, que arrastou outros segmentos, como o crescimento e funcionamento dos portos, como o de Santos SP. Nesse período, a GM decidiu pela construção de uma fábrica de motores Detroit Diesel no país (que teria vida curta).



Com o lançamento do diesel Detroit, em 1973, as vendas dos caminhões Chevrolet momentaneamente se recuperaram, atingindo a marca histórica de quase 23.700 unidades. Porém, os problemas técnicos apresentados pelo novo motor, apesar do esforço da empresa em corrigi-los, trouxeram danos irreparáveis à credibilidade da marca, que já no ano seguinte produziria pouco mais de 11.300 caminhões (média que cairia para cerca de 4.300 unidades anuais na década de 80 e, nos anos 90, para pouco mais de 2.000).


Chevrolet D-60

Ainda que a Chevrolet fosse líder incontestável no segmento de caminhões médios a gasolina (71,7% do mercado, em 1974, contra 24,4% da Ford) e ocupasse o segundo posto no mercado total (respondendo por 25,6%, depois da líder Mercedes-Benz), sua presença na frota diesel era inexpressiva, em especial nas unidades de maior porte, cuja demanda vinha crescendo ininterruptamente.



Em 1976, os veículos equipados com os novos motores foram denominados D-60 e D-70, em função da capacidade de carga. Os motores Perkins permaneceram em linha. Em 1977, o Caminhão Chevrolet D-60 era o preferido para redes de supermercado, transporte interno dentro de refinarias de petróleo e grandes siderúrgicas, além do trabalho na zona rural, como transporte de cana de açúcar e outros produtos agrícolas.


Chevrolet D-60

A Chevrolet também foi um grande fornecedor de caminhões para o exército, inclusive com participação da Engesa, após lançamento do sistema de tração total patenteado e reconhecido como de interesse para a segurança nacional.



As respostas da empresa a esses desafios foram sempre lentas e vacilantes, retratando a importância cada vez menor conferida pela corporação aos veículos de carga, ações que viriam a ter resultados ruins a longo prazo, com a queda de produção e a consequente saída do mercado.



Outro aspecto que pesou negativamente sobre a GM, enfraquecendo-a ainda mais diante da concorrência, foi a inadequação de seus caminhões para o transporte de longa distância: dotados de cabines de concepção ultrapassada, com posto de comando recuado, espaço interno exíguo e sem leito, apenas o lançamento de uma nova cabine semiavançada ou avançada prometida, porém nunca concretizada, poderia ajudar a reverter a posição fragilizada da marca frente ao mercado.



Em janeiro de 1986, os caminhões receberam opção de cabine dupla de quatro portas Brasinca. Mas, apesar do esforço de renovação, a posição da GM no mercado de caminhões continuou crítica, especialmente após o lançamento do moderníssimo Ford Cargo e a entrada agressiva da Volkswagen Caminhões no segmento dos médios e semipesados. Em 1996, a GM parou de fabricar caminhões no país.



E aí estradeiro, você já conhecia a história do D-60? Já deu uma volta nesse clássico da Chevrolet? Participe com a gente e compartilhe com seus amigos do trecho.

Pamela Emerich

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