Se em terras brasileiras faltam vagas para caminhoneiros, no Canadá faltam profissionais
Muita gente tem o sonho de morar e trabalhar nos Estados Unidos ou no Canadá. E essa vontade não é à toa: esses lugares têm excelentes níveis de qualidade de vida, muitos empregos e oportunidades de crescimento na carreira. Porém, com todos esses benefícios e a visão de lugar ideal que a maioria das pessoas fazem desses países, as fronteiras precisam ser fechadas para evitar imigração em massa. Além disso, existem muitas barreiras para residência e trabalho de estrangeiros, em especial, nos Estados Unidos.
No Canadá, uma das profissões que mais atraem estrangeiros é o trabalho de Driver, a forma como é chamado todos os motoristas, inclusive de caminhão. Assim como nos EUA, a profissão tem apresentado muitas baixas e grande defasagem. Com uma idade média de 47 anos, o setor tem uma das forças de trabalho mais antigas, com um terço dos motoristas acima de 55 anos, segundo a Canadian Trucking Alliance.
Juntos, Estados Unidos e Canadá têm mais de 100 mil vagas de emprego para motoristas de caminhão, que precisavam ser preenchidas imediatamente para dar conta da demanda. E, o problema é tão sério que chega a impactar no crescimento econômico desses países. Para os analistas do setor, a culpa desse buraco é do envelhecimento da mão-de-obra.
Apesar da categoria oferecer uma carreira promissora para os jovens, quem de fato chega hoje na boleia costuma ter entre 40 e 65 anos.
Os dados de 2020 recolhidos pela Associação de Caminhoneiros de Ontário (OTA) apontam para um vácuo enorme de, aproximadamente, 22.000 vagas em aberto espalhadas pelo país. A expectativa é que a necessidade cresça a uma velocidade considerável, chegando a 34.000 empregos em 2024. Porém, o que mais surpreende não é a média de idade dos motoristas da categoria, mas sim, a falta de interesse dos jovens canadenses por uma profissão que paga entre CAD$ 44.000 e CAD$ 110.000 (dólar canadense), por volta de 21 mil reais por mês, mais que a média salarial de um professor, por exemplo, que fatura cerca de CAD$ 60.000 (convertido em reais, algo em torno de 17 mil por mês) no país.
Por tudo isso, a OTA tem investido em trazer as mulheres através de uma série de eventos. O esforço tem até dado certo e a presença feminina no setor até dobrou, mas mesmo assim ela é muito pequena, ficando em torno de 6% do total dos motoristas. No Brasil, as mulheres representam apenas 0,5% do total de caminhoneiros do país, segundo estimativa da Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Os maiores parceiros comerciais do Canadá, em termos de vai e vem de caminhão, são os estados de Michigan, Califórnia e Texas e isso quer dizer viagens longas e muitos dias fora de casa. Embora no Canadá seja possível dirigir caminhão após os 18 anos, no país vizinho a idade mínima legal pula para 21 e muitas empresas, por precaução, só contratam quem já passou dos 23. Além disso, a falta de motoristas de longas distâncias (long haul) é sentida em todo o país, mas é ainda mais pesada em Ontário que tem mais da metade de todas as transportadoras do Canadá.
Como é o trabalho de caminhoneiro no Canadá?
Caminhoneiros são essenciais em qualquer lugar do mundo e no Canadá, o segundo país com maior extensão territorial do planeta, 10 milhões de km², não seria diferente. O país tem forte mercado logístico e de transporte rodoviário, atuando fortemente no tráfego de produtos para cidades do EUA, um caminhão cruza a fronteira entre os dois países a cada 2 segundos. Seus principais tipos de carga variam um pouco do lugar de onde saem, mas no geral, são cargas de automotores, grãos, carvão e fertilizantes, além de produtos agrícolas e alimentos.
O padrão de vida da população canadense é alto, o país possui um dos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) mais altos do mundo; esse índice envolve fatores como expectativa de vida, renda e educação. Logo, o piso médio salarial do país também é considerado alto em relação a países da Europa e até mesmo EUA, batendo como o salário médio no Canadá de CAD$ 3298, algo em torno de 13 mil reais por mês.
O Canadá possui quase 1 milhão de quilômetros de estradas, sendo a Trans Canada Highway a principal, com 7.800 km, no sentido leste-oeste, interligando as dez províncias do país. O Sistema Nacional de Estradas inclui 27.631 km de rodovias centrais, 4.495 km de redes auxiliares, 5.921 km de estradas ao Norte e mais distantes, sendo as demais formadas por estradas locais e rurais.
Normalmente, um caminhoneiro de longa distância pode passar até 14 dias de cada vez na estrada, trabalhando em turnos de 12 horas, com três dias de descanso entre eles. O salário médio anual de quem está iniciando na profissão varia de CAD$ 70.320 a CAD$ 83.180, embora os motoristas geralmente recebam bônus por milha, o que lhes permite ganhar significativamente mais.
Diferente dos Estados Unidos, no Canadá é permitido aos profissionais dirigir por 13 horas e descansar por 10 (para rotas que não são de longa distância). O sistema é todo controlado pelo celular, regulamentado pelo governo canadense. Basta informar o número do pesado, o tipo de carga e o início de jornada. Não esquecendo que 15 minutos é para checklist completo do caminhão.
Geralmente, no Canadá o contrato de trabalho é exclusivo da empresa contratada. Os ganhos são por milhas rodadas, com média semanal de CAD$ 1.600,00, equivalente a R$ 5.200,000. A infraestrutura para quem vive na estrada é considerada uma das melhores do mundo. Existem boas estruturas para banho em pontos muitas vezes conveniados, mas tudo precisa ser bem programado para não correr o risco de ficar sem banho.
A profissão de caminhoneiro não era considerada high skilled, ou seja, não se encaixava nos programas de imigração do governo. Por isso, haviam poucas chances de um experiente caminhoneiro estrangeiro conseguir imigrar diretamente como caminhoneiro. Porém, com a alta demanda do setor e a pressão de empresas de transporte, o governo incluiu a profissão na lista e as regras estão sendo afrouxadas nesse sentido.
A alta demanda por motoristas de caminhão de longa distância (HGV Drivers) significa que um visto do Canadá está amplamente disponível para trabalhadores estrangeiros que procuram emprego no Canadá, nessa ocupação. Desde motoristas de longos percursos até operadores de empilhadeiras, se tem habilitação para dirigir um veículo comercial suas habilidades serão muito procuradas pelos empregadores. É necessário ter uma carteira de motorista de veículo comercial ou uma certificação para operar empilhadeiras para estar apto a exercer essas funções.
Para ser profissional das estradas no Canadá é preciso fazer alguns cursos, tanto de inglês como de capacitação para atividades específicas, como a empilhadeira, por exemplo. Os canadenses são muito rígidos com a questão da educação, então, quando um estrangeiro se propõe a trabalhar no país, precisa aprender a língua e se adaptar às formas de trabalho do país.
A grande maioria das companhias no Canadá exigem que motoristas de caminhão tenham um mínimo de 21 anos (assim como no Brasil), consigam levantar objetos pesados, que sejam capazes de ler e falar Inglês o suficiente para ler placas de rua e se comunicar com policiais ou clientes e ter experiência de dois a quatro anos (mesmo que em outros países). Outras companhias providenciam seus próprios programas de treinamento e preferem contratar aqueles que graduaram o ensino médio. Empregadores geralmente requerem exames físicos anuais para seus empregados.
Outra vantagem de investir na carreira de caminhoneiro no Canadá é a facilidade para se qualificar. Apesar de o curso custar CAD$ 8.000 (cerca de 30 mil reais) e não ser possível financiar o valor via OSAP (Ontario Student Assistance Program), o estudante está apto a dirigir grandes caminhões após apenas dois meses de treinamento e isso quer dizer que na ponta do lápis tudo sai bem mais barato e muito mais rápido que qualquer outra carreira de college. Isso sem falar na perspectiva imediata de contratação.
E aí estradeiro, você acha que se daria bem guiando seu pesado em terras canadenses? O que mais te impressionou: a falta de profissionais ou os altos salários? Participe com a gente e não deixe de compartilhar com a galera do trecho. Até mais!
Pamela Emerich
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