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Clássicos Brasileiros: o Jacaré que foi o Rei das Estradas do Brasil

Clássicos Brasileiros: o Jacaré que foi o Rei das Estradas do Brasil

O Scania 111s é considerado uma lenda de nossas estradas e um dos mais marcantes na história da Scania.

Na lista dos caminhões que fizeram história no Brasil, com certeza está o Scania 111S, também conhecido como Jacaré. O apelido de Jacaré surgiu por causa do seu design exterior, já que a combinação das linhas da cabine lembram a cabeça do animal. Além disso, o tamanho do bicho amedronta e o impacto da presença do caminhão remete ao espírito predador dos jacarés. Ambos denotam a força e resistência esperadas deles, por isso esse apelido caiu tão bem.

A Scania construiu uma história mundial que hoje é referência na fabricação de caminhões. Chegou ao Brasil oficialmente em 1957, mas seus caminhões já circulavam por aqui desde 1940, vindos de outros países por importadores independentes. Os primeiros caminhões registrados que entraram no mercado são de 1949, o L65, que foi importado até mais ou menos 1952. Na época, cerca de 150 caminhões vieram para o país trabalhar em operações gerais.

É interessante lembrar que nessa época os caminhões já tinham uma tecnologia diferenciada: era o único motor a diesel com injeção direta. Todos os outros caminhões que existiam no país utilizavam pré-câmara. Isso já era uma novidade que mostrava a potência da marca. Nos 65 anos que atua plenamente no país, a marca é responsável por clássicos que até hoje circulam por nossas estradas e se firmou definitivamente em terras sulamericanas.

Não há dúvidas de que os caminhões Scania 111S foram fundamentais na construção do legado da montadora. Mas quando falamos do Jacaré, falamos também de um marco na história dos caminhões no Brasil e esse histórico conta com grande contribuição com o sistema logístico, com avanço tecnológico nos gigantes (essa linha apresenta uma série de novidades) e para os amantes das máquinas, pois se tornou uma grande paixão dos caminhoneiros.

O Scania Jacaré chegou ao Brasil ainda importado pela Vemag como modelo L65. Porém, com o avançar do mercado, os sucessos de venda e a instalação da então Scania Vabis, foi dado início à produção do Scania L111S. A série L ainda deu o apelido Rei da Estrada ao modelo no Brasil.

A história da Scania começou em 1891, como produtora de carroças, vagões ferroviários e bondes puxados por cavalo. A siderúrgica Surahammars Bruk fundou a “Fábrica de Carruagens Ltd. em Södertälje”, abreviando para VABIS, na cidade de Södertälje. A história da empresa se encontraria com a trajetória de outra fabricante voltada para os transportes, a Maskinfabriks-aktiebolaget Scania, uma produtora de bicicletas que havia sido fundada em 1900 na cidade de Malmö, no sul da Suécia.

Logo depois de começar a produzir as bicicletas, a empresa começou a desenvolver os primeiros veículos automotores. Em 1903, a Scania fazia o primeiro caminhão e em 1905, o primeiro carro. Anos mais tarde, a Vabis começou a passar por dificuldades e, no dia 18 de março de 1911, a Scania acabou se fundindo com a empresa. A fusão foi comandada por Per Alfred Nordeman, dando início à Scania-Vabis.

Embora tenha dedicado seu início à produção de automóveis, de 1919 em diante se dedicou a caminhões e ônibus que ganharam mercados em todo o mundo. Metade da produção já era exportada em 1950. Inicialmente os caminhões eram produzidos sob responsabilidade da Vemag, a mesma que produzia os automóveis DKW’s, que importou da Europa o modelo Scania L71 a partir de 1951. O modelo também chegou a ser montado na própria fábrica de Vemag, foi o primeiro Scania produzido no Brasil.

Durante os primeiros anos, os caminhões eram importados sob a forma CKD e montados na fábrica da Vemag: 159 unidades foram construídas até 1955 (10, 64 e 85 unidades, respectivamente em 1953, 54 e 55). Naquele ano, ainda não existia o Geia (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), criado para estimular a entrada de diversas fábricas do setor automobilístico e a Vemag iniciou o processo de nacionalização dos veículos, estampando todos os componentes das cabines (já que a empresa possuía, na altura, a maior estamparia do país).

Em 1956, quando o Geia foi de fato instituído, a Scania decidiu implantar uma fábrica completa no país, produzindo caminhões segundo a regulamentação definida pelo Governo Federal. Mantendo a parceria com a Vemag, foi criada em 2 de julho de 1957 a Scania-Vabis do Brasil S. A. Motores Diesel, destinada à produção de motores, permanecendo a Vemag como responsável pela fabricação dos demais componentes, pela montagem dos veículos e por sua distribuição e assistência técnica.

Esta seria a primeira fábrica da marca fora da Suécia. A Scania veio para o Brasil já interessada no mercado de pesados e o sucesso que seu caminhão fez nas terras brasileiras foi um dos principais motivos para a montadora escolher o Brasil para iniciar suas atividades na américa latina e internacionalizar a produção, quando lançou o modelo L-75, fabricado ainda na linha de montagem da Vemag.

O caminhão ganhou o então novo motor D10 importado da Suécia, de 10.260 cm3 com injeção direta, 165 cv e 63 m.kgf, o maior torque entre os caminhões fabricados no país, na época o domínio das estradas era do FNM ("Fenemê") e o Scania se destacou por ter a bomba injetora de atuação direta e não por pré-câmara como o rival, uma evolução bastante grande para a época.

Em outubro de 1959, a Scania aumentou a produção nacional e investiu no desenvolvimento de sua fábrica. O veículo era produzido com 35% de índice de peças brasileiras. Os motores também passaram a ser montados na nova fábrica de motores da Scania em S.B.Campo, mas a produção completa continuava a ser da Vemag, até que em outubro de 1962 toda a linha de produção da Scania-Vabis foi transferida para sua fábrica próprias. O índice de nacionalização dos veículos então já ultrapassava 92% em peso (as cabines continuavam sendo estampadas e montadas pela Vemag), o que ajudou a se consolidar como uma das melhores fabricantes de caminhões pesados do Brasil.

Em 1963, foi lançado seu sucessor, o L76, estreando o famoso motor 11 litros da Scania, D-11, injeção direta, 195 cv e 76 kgfm de torque e o câmbio era de 10 marchas, cinco baixas e cinco altas, disponível em versão de chassis rígidos e cavalo mecânico, filtro de ar de maior capacidade montado externamente, receberam também a famosa cor laranja, que marcou os caminhões da marca durante muito tempo, recebendo na época o apelido de João de Barro.

Nos anos seguintes os caminhões foram sendo cada vez mais aprimorados, ganhando novas versões e melhorias técnicas. Assim, duas variantes com três eixos foram agregadas à linha de caminhões em 1965: LS (com 3º eixo de apoio) na versão 6x2 e LT na 6×4. No ano seguinte o filtro de ar foi substituído por um modelo centrífugo de maior capacidade, montado externamente, assim como foi introduzido novo câmbio sincronizado de cinco marchas com redutor de acionamento pneumático por botão na alavanca de mudanças.

O LS era fabricado nos modelos LS 7638 (caminhão trator) e LS 7650 (caminhão rígido). Em 1967 chegaram os primeiros Scania turboalimentados, que também eram os primeiros turbo nacionais, chamados de Scania Super. Com isso, a montadora adicionou o S à frente do nome e o motor Scania D 11 agora gerava 108KG e 275CV.

Ao final da década de 1960, o modelo L110 era lançado em substituição ao L76 e a principal diferença eram as inovações no sistema de freios e freio de estacionamento. A Scania também lançou uma alternativa mais barata, o L100, com o mesmo Scania D11 com 11 litros aspirado de 202CV (L/LS/LT 110). A montadora estava firmando seu nome na história da indústria automobilística brasileira, mas foi além e marcou também a história dos implementos. O Scania LS era apto a rebocar carretas de três eixos e foi o primeiro cavalo mecânico a poder puxar esse tipo de carreta, que não existia na época.

O conjunto formado pelo cavalo mecânico trucado com carreta de três eixos deu origem ao nome carreta padrão LS, termo utilizado até hoje. O L quer dizer Lastbil, que em sueco significa caminhão (4×2). O S significa Stödaxel, que é eixo de apoio (lazy axel), ou seja, 6×2 (LS111). As carretas de três eixos tracionadas pelos cavalos 6×2 da Scania acabaram sendo conhecidas como LS e essa nomenclatura acabou sendo generalizada para os implementos de três eixos, independentemente da marca do cavalo que os tracionam.

Em 1975, a montadora dava início a série 1, com o famoso modelo 111, que recebeu melhorias no motor e teve a potência aumentada para 296cv e 111 kg torque. A versão mais barata era a L101, com o mesmo motor, porém aspirado, de 203 cv e 77 kgfm de torque, e assim como o modelo anterior L100, teve vida curta e pouca procura.

Mas o melhor ainda estava por vir. Lançado no Brasil em 1976, o Scania L111s sucedeu os L75 (de 1959) e L76 (1963). Todos eles receberam o apelido “Jacaré”, mas foi o L111 o mais bem-sucedido deles e também o que teve produção em maior escala, sem deixar de lado a cor laranja característica estreada pelo L76. Com cabine leito e direção hidráulica, esse modelo inaugurou a nova fábrica de chassis. Boa parte dos L111 recebeu o motor DS11, um seis cilindros de 11 litros com turbo que entregava 296 cv a 2.200 rpm e 111 mkgf de torque a 1.400 rpm, com transmissão de 10 marchas e duas gamas.

O modelo L 111 havia conquistado o transporte, considerado um caminhão muito robusto e de fácil manutenção. Mas a montadora acreditava que ainda poderia melhorar e novos aprimoramentos mecânicos elevaram a potência para 305cv. O 111 era o segundo caminhão mais potente do Brasil, atrás apenas do também Scania LK 140, e depois LK141 de 1980, com 375 cv. Ou seja, Scania tinha os dois caminhões mais potentes do país. Em três versões com capacidade para tracionar até 45 toneladas, ele era equipado sempre com motor de 203 cavalos de potência, que levava a uma velocidade máxima de 94 km/h.

Entre 1975 e 1981, quando sua produção foi finalizada, foram comercializadas quase 10 mil unidades deste caminhão, o que representava 57% do total de veículos Scania vendidos no mercado brasileiro no período. E a popularidade do caminhão só aumentou. Com um número cada vez maior de caminhões nas estradas dos anos 1980 em diante, os L-111 se tornaram um dos caminhões mais vendidos do Brasil.

O “Jacaré” ficou famoso, principalmente, por sua durabilidade, mas também pela fácil manutenção e baixos custos. Mas, após 24 anos de produção, chegava a hora de dar adeus, e lançar a segunda geração, a 112, que era apresentada em 1981, um ano após ser lançada na Suécia. O  Jacaré ainda conviveu durante seis meses com 112, modelo que em 1989 ganhou a versão 112HW, com motor V8, mas a essência do Scania 111 acompanharia os modelos da marca até a quarta geração, ficando mais famosa na lendária Scania 113, nos quais muitos estão na ativa até hoje.

A evolução do Scania Jacaré se deu até a Série 4, lançada em 1998, que até hoje é lembrada pelo seu design arrojado e pelo conforto da cabine, principalmente na versão bicuda (T). Trouxe também os novos motores eletrônicos de 12 litros, no lugar dos propulsores de 11 litros da geração antecessora. Em 2007, chegam as séries P, G e R, com duas novas cabines: G e Highline, a mais alta do mercado até então.

Desde 2006, a Scania pertence ao Grupo Volkswagen, que assumiu o controle acionário da Scania e da MAN. Em julho de 2015, foi consolidada a marca da divisão Truck & Bus GmbH, que une as operações em todo o mundo da MAN Truck & Bus, MAN Latin America (Volkswagen Caminhões e Ônibus) e Scania.

Essa lenda das estradas foi marcante não só para a Scania, mas para a história dos caminhões no Brasil e, claro, para a história de muitos caminhoneiros apaixonados pelo ronco bastante característico desses gigantes. Se você é um amante das estradas, com certeza já esteve bem pertinho de um desses, se é que não dirigiu, não é? Gostou de relembrar a história do Jacaré rei das estradas? Então fique ligado, em breve vem mais história de um clássico por aí. Não deixe de compartilhar com seus amigos do trecho.

Pamela Emerich

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