Relatório de 2021 sobre Diversidade no Setor Automotivo foi apresentado hoje em live
Discussões a respeito da diversidade no mercado corporativo tem ganhado cada vez mais espaço. Dentro da indústria automotiva não é diferente e a diversidade se tornou uma estratégia-chave para a inovação das empresas do setor, que passaram a tratá-la como prioridade nas suas políticas de recursos humanos. Mas, quais têm sido os avanços e resultados das ações que as organizações têm feito? Este foi o tema de mais uma edição do Conexão ANFAVEA, realizado nesta quarta-feira.
O Presidente da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes, recebeu a CEO Paula Braga e a Editora Executiva Giovanna Riato, ambas da Automotive Business, uma plataforma de conteúdo voltada às lideranças e futuras lideranças que atuam no setor automotivo e da mobilidade, para apresentar e debater os resultados da terceira edição do “Estudo de Diversidade no Setor Automotivo”. Um dos principais estudos da plataforma, analisa como as empresas têm avançado na criação de políticas corporativas de diversidade, a fim de estimular mais pluralidade nos cargos de alto e médio escalão.
A pesquisa estuda informações e estatísticas de 84 empresas de pequeno, médio e grande porte, que atuam no segmento, medindo a participação de mulheres, negros, pessoas com deficiência, LGBT e de profissionais das diferentes gerações nas companhias desta cadeia de valor e comparando com o último levantamento, em 2019. O estudo, que foi realizado entre julho e setembro de 2021, é fruto do trabalho da Rede AB Diversidade ao longo de 2020 e 2021 e apresenta 95% no nível de confiança de informações. No debate de hoje, a AB trouxe dados exclusivos e um retrato de como tem sido a postura das empresas e quais ações estão sendo tomadas para fomentar a pluralidade internamente.
Setor de atuação das empresas
Um dos pontos apontados pela pesquisa é que este tem sido o momento da diversidade nas organizações, já que há um aumento do compromisso das empresas com a pauta. Em 2021, cerca de 89% das empresas dizem ter políticas e ações que estimulam e incluem a diversidade em seus quadros. Enquanto, comparado a 2019, 74% das empresas já trabalhavam com a diversidade. Em 2021, todas as empresas que participaram da pesquisa se mostraram preocupadas em debater a diversidade, enquanto em 2019, 6% das empresas não estavam preocupadas com o tema.
Um destaque importante é que, segundo a Editora Executiva Giovanna Riato, em relatórios anteriores, o fator que mais motivam as empresas a ir em busca da diversidade, era a pressão das próprias matrizes, muitas vezes estrangeiras. E hoje isso tem mudado. A demanda tem sido interna, visto que os próprios colaboradores e clientes pedem ações de estímulos a essa pauta, para que a empresa tenha mais pluralidade de pensamento, melhorar a atração de talentos e elevar o impacto positivo na sociedade.
O efeito da pandemia na questão da diversidade
Cerca de 47% das empresas avaliam que a pandemia acelerou iniciativas de diversidade e inclusão, além de reforçar o engajamento sobre o tema. O impacto do home office teve um efeito positivo e trouxe mais engajamento para a discussão sobre a diversidade e também, para a inclusão de pessoas no setor automotivo.
A executiva reforça que a questão da diversidade em um momento de pandemia e trabalho remoto, foi relevante até para o fortalecimento cultural da empresa, onde a empresa tem aquele momento em que se reúne não só para falar de negócios, como para fortalecer o relacionamento entre as pessoas.
O relatório mostra bem que o estágio da diversidade nas empresas vem aumentando, ou seja, a cada ano as discussões sobre o tema se iniciam ou se aprofundam. Enquanto nos dados de 2019 havia 17% de empresas que não tinham iniciativas ou debates internos, hoje somente 8% das empresas ainda não promovem ações. E quando se analisa dados de empresas que já atuam com a diversidade, 31% das empresas estão em estágio inicial e 26% em estágio intermediário, contra 30% e 19% respectivamente em 2019.
Questões de Gênero no setor
Em 2021 as mulheres representam 19% do quadro e funcionários do setor automotivo. O curioso, porém, é analisar que em 2017 (primeiro levantamento realizado), esse número era de 21% e em 2019, era de 20%. Isso indica que o principal problema no crescimento do número de mulheres na indústria automotiva não é ingressar, mas sim, se manter. Portanto, o foco tem sido na retenção de mulheres e não necessariamente na inclusão.
As mulheres investem mais em escolaridade para ascender profissionalmente, mas como reforça os estudos, nem sempre elas chegam lá. Cerca de 74% das mulheres têm até o Ensino Médio, enquanto os homens são cerca de 61%. Mulheres com nível superior representam 19% contra 29% dos homens. E somente 6% das mulheres do setor automotivo possui alguma especialização, contra 10% dos homens.
Porém, embora sigam se capacitando para assumir cargos de mais liderança, ainda hoje não há muito espaço em cargos de liderança. Analisando a paridade de cargos no funil hierárquico do mercado como um todo, no início de suas carreiras, as mulheres encontram igualdade nos números, mas à medida que a hierarquia cresce, a desigualdade entre homens e mulheres também. Nos cargos de alto e médio escalão ainda não há muita representatividade feminina.
Em cargos de aprendizes, as mulheres representam 47% contra 53% dos homens e em cargos de trainee e estágios, elas são 49% do mercado, contra 51% dos homens. Mas quando subimos a hierarquia para o quadro funcional, a diferença é gritante: 82% de homens contra 18% de mulheres. Mulheres na presidência ou vice-presidência das empresas pesquisadas são 12% enquanto homens, 88%.
O estudo apontou que faltam medidas das empresas para reter talentos femininos. Quando analisamos a amplitude salarial, notamos que as políticas de diversidade precisam ser mais eficientes em relação ao gênero. Enquanto na média inicial a diferença salarial dos homens para as mulheres seja 15% inferior, na liderança, o salário médio das mulheres é 45% inferior ao dos homens. O estudo aponta que a dificuldade de alcançar maiores cargos é um dos principais motivos para que elas sejam menos longevas nas empresas. A pesquisa aponta que esses fatores são determinantes para que as mulheres sejam menos longevas em uma companhia: Elas ficam cerca de 5 anos em uma empresa, enquanto os homens ficam em média 6 anos ou mais.
Etnia: Participação negra nas empresas do setor automotivo
Quando analisamos os dados do IBGE referente a etnia da população brasileira, percebemos que em maioria, o país é formado por pessoas negras (pretas ou pardas) - 54% da população. Mas quando observamos o setor automotivo como um todo, as pessoas negras representam quase 15% do quadro de funcionários. O estudo mostra um aumento da inclusão de pessoas negras entre 2019 para 2021. O percentual ainda é muito baixo (14,6%), mas já houve um aumento significativo, já que no último levantamento, pessoas negras representavam 9,8% de todo o quadro.
Nesse eixo da diversidade, o funil hierárquico é ainda mais desigual do que em relação ao gênero. Mesmo em cargos de aprendizes, as pessoas negras ainda são 15%, contra 85% de pessoas brancas. E como em outras comparações, quanto maior a hierarquia, maior a desigualdade: 2% de cargos de presidência ou vice-presidência são ocupados por pessoas negras. Em cargos de conselho, somente 1%.
A pesquisa mostra que, embora as questões de raça e etnia sejam uma das prioridades, 29% das empresas ainda não possuem ações para atrair e incluir talentos pretos e pardos. Isso representa mais de 1 ⁄ 4 das organizações desse setor no país. Apesar de não ser um tema tabu, os números demonstram que a inclusão de negros - até mesmo no mercado de trabalho como um todo - vai muito além de racismo ou falta de políticas de empresas, mas sim, de questões estruturais da sociedade.
Isso demonstra a enorme necessidade de criar políticas e ações que incluam essas pessoas no setor, mas de acordo com a pesquisa, apenas 8% das empresas têm metas para a presença de pretos e pardos no quadro funcional e cerca de 17% das organizações têm metas para participação negra em cargos de liderança. É importante destacar que a questão da etnia vem caminhando, embora a passos lentos, já que em 2019, esse percentual era de apenas 4%.
Crescimento de cargos PCD
A Lei de cotas beneficiou a inclusão de pessoas com deficiência no mercado como um todo, mas principalmente, na indústria automotiva. Segundo a legislação brasileira, todas as empresas com mais de 100 funcionários precisam reservar vagas a pessoas com deficiência. O percentual de vagas varia de acordo com o número de colaboradores da empresa, a partir de 100 funcionários. A organização com até 200 empregados deve ter 2% de funcionários PCD. De 201 a 500 funcionários, 3% de funcionários com deficiência. Essa tem sido a frente mais madura nas empresas automotivas e 49% das organizações têm programas estruturados para atrair e reter esses talentos.
Chama-se de Programas estruturados os conjuntos de ações para incluir e fazer com que o profissional - no caso, profissionais com alguma deficiência - se sintam à vontade no ambiente corporativo e encontrem condições plenas de executar suas funções. De 2019 a 2021 houve um aumento na participação de pessoas com deficiência no setor automotivo no quadro total de colaboradores. Nas montadoras participantes da pesquisa, os PCD representam 5% dos funcionários. No quadro geral, são 3,9% dos trabalhadores do setor. No último levantamento esse número era de 3,1%.
Políticas para profissionais LBGTQIA+
Um dos principais desafios para o setor tem sido a inclusão de pessoas LGBTQIA+, em especial as pessoas trans. Esse eixo é o que mais tem resistência para criar ações. A questão ainda é tratada no setor como tabu, já que envolve questões ideológicas e religiosas dos líderes e colaboradores, o que impede uma abertura maior na discussão sobre o assunto dentro do setor.
Um grande percentual de empresas não tem a cultura do debate sobre a população LGBTQIA+, pois não vê essa pauta como uma demanda no mercado. Cerca de 40% das empresas não adotam nenhuma ação para atrair ou incluir profissionais LGBTI+. Das empresas que realizam ações voltadas para pessoas LGBTQIA+, estão políticas como o uso do nome social (no caso de pessoas trans) - 44% das empresas, censo para mapear a quantidade de trabalhadores LGBTQI+ nas empresas, garantia de segurança psicológica e
apoio médico e psicológico a processos de redesignação de gênero.
Esse grupo ainda sofre uma defasagem até na coleta de dados, já que o censo utilizado pelas empresas para criar o relatório, não contempla a orientação sexual em suas respostas, o que dificulta ainda mais a criação de políticas de diversidade específicas. Esse levantamento precisa ser realizado pelas próprias empresas que desejam propor melhorias para esses grupos.
Como forma de melhorar a participação desse grupo dentro do mercado automotivo, o estudo propôs que as empresas iniciem estudos para criar ações simples, de acolhimento, combate ao preconceito dentro da corporação, debates sobre os desafios encontrados por essa população. O que se vê é que muitas vezes as equipes de Recursos Humanos tentam avançar nessa pauta, mas encontram resistências culturais.
No perfil de liderança do setor como um todo, não houve muitas mudanças em relação ao último levantamento. Em 2021 76% das lideranças são homens (75% em 2019), 18% são mulheres (20% em 2019), 5% são pessoas negras (4% em 2019) e 0,6% são PCD (0,5% em 2019). Mesmo sem alterações drásticas, é importante destacar o crescimento da participação negra nas lideranças, embora o aumento seja pequeno, é um grupo muito sub-representado e que precisa de mais espaço.
A diversidade na indústria automotiva se mostra muito urgente, ainda mais se observados os dados do relatório com atenção. Apesar de a população brasileira ser majoritariamente formada por mulheres e pessoas negras, esses grupos ainda são minorias no mercado de trabalho, em especial dentro do setor automotivo. É importante garantir que os perfis diversos tenham voz. É importante que eles façam parte da tomada de decisão das empresas automotivas.
Os dados da pesquisa foram apresentados em primeira mão na live de hoje e, disponibilizado no site do Automotive Business o relatório completo, que servirá de guia para que as empresas possam implementar ações efetivas para tornar seu quadro de colaboradores mais representativo da sociedade brasileira. Para a ANFAVEA, a discussão da diversidade no setor é prioritária e vem promovendo ações para estimular empresas a ampliarem os horizontes sobre o tema. Em 2019, a instituição assinou no Fórum AB Diversidade, os Princípios de Empoderamento das Mulheres e Equidade de Gênero (Women's Empowerment Principles – WEPs), compromisso com a ONU Mulheres e tem atuado em conjunto com a AB na produção de encontros e discussões sobre o tema.
Mulheres ainda são minoria em quase todos os cargos dentro do setor, em especial na liderança
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