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Contos da Estrada: Natal longe de casa

Um passageiro especial

O Zé Vidal era um sujeito simples, não muito apegado à família, já era caminhoneiro fazia uns 15 anos. Adorava rodar pra lá e pra cá levando carga pra todo lado. Não era muito humilde, nem calmo, o Zé, mas era sujeito honesto e trabalhador, fazia seu serviço com muita alegria a cuidava bem de seu caminhão. Com o final do ano chegando e as contas pra pagar, Zé decidiu aceitar uma carga pra transportar durante o Natal e foi avisar que não passaria a noite feliz com sua família. Naquele momento, o que importava mesmo era o dinheiro. Depois de entregar uma carga na cooperativa, ao final de uma viagem cansativa, estava doido pra pegar uma carga de retorno. Parou em um posto para comer, pensando em como seria o Natal do povo lá de casa, tantos quilômetros distante. Ao terminar o almoço e subir na boleia de seu caminhão pra seguir viagem, um homem veio lhe pedir carona. Desconfiado com tudo e todos, ele titubeou, não queria dar carona pra qualquer um, vai que o cara é um assaltante, pensou. O sujeito tinha uma cara amigável, coberta por uma barba vistosa. Tinha os cabelos longos que iam até os ombros. E a história acabou assim, desse jeito rimado mesmo: O homem parecia bom e sincero  passando autoridade na fala.  Falava de um jeito austero.  Não levava bagagem nem mala.   José Vidal falou que o levaria  e assim partiram para o trecho.  Puxava uma carreta vazia.  Havia levantado o terceiro eixo.   Conseguiu frete para levar  e ganharia bom dinheiro.  Ninguém a carga quis aceitar.  Para outros a família vinha primeiro.   Escutando aquele homem misterioso  lembrou que a anos sua mãezinha não via.  José Vidal já não estava mais temeroso.  Sentia-se bem quando ao homem ouvia.   O Homem falava das coisas de Deus  e que a família era o mais importante.  José Vidal não era como os ateus,  acreditava, mas na igreja não era atuante.   O carreteiro começou a pensar  tudo o que fizera em sua vida.  Enquanto escutava aquele homem falar  Viu que muita coisa boa fora perdida   Aquele homem fez José ver  que sua família era sacrificada.  Só trabalhar não iria resolver.  A família tinha de ser valorizada.   De que adiantaria trabalhar tanto  e deixar o mais importante para trás.  Se morresse ficaria o pranto  e o que fez não importaria mais.   Envolvido naquela conversa  levando sua carga ao destino.  José Vidal tinha sua mente imersa  na preocupação e no desatino.   De tanto ouvir aquelas palavras  o carreteiro sentiu-se arrependido.  Estava chegando em Lavras.  Noite de natal em família tinha perdido.   Tentando arrumar desculpa,  mais para si do que para o interlocutor,  queria minimizar sua culpa.  Pela família tinha muito amor.   Mas que amor era aquele  que se sentia feliz longe do aconchego.  A família precisava muito dele.  Isso tirou-lhe todo o sossego.   Ao homem, José agradeceu  por ter aberto sua mente.  Tanto tempo ele perdeu.  Queria rever a família somente.   Disse que viajaria a noite inteira  mas o dia de Natal lá estaria.  Rodaria com sua máquina estradeira  e quem sabe a tempo chegaria.   Em uma parada de estrada  o homem pediu para ficar.  Agradeceu pela carona dada  e disse que por José iria orar.   O carreteiro chegaria ao lar  sem presentes para os filhos amados.  O homem, sincero abraço quis lhe dar.  José sentiu seu corpo ficar gelado.   Como se despertasse de um sonho  estava dirigindo seu caminhão.  Levou um susto sem tamanho  ao ver imenso brilho na escuridão.   Onde estava aquele homem misterioso?  Não se lembrava de ter assumido o volante.  E o que era ainda mais espantoso,  aquele brilho era sua cidade logo adiante.   Como poderia ter rodado  tantos quilômetros e não se lembrar? Andava bem seu cavalo trucado.  No semi reboque nenhuma carga a levar.   Parou o bruto a beira da estrada  para por pensamentos em ordem.  Vestígio daquele homem, não havia nada.  Sua cabeça em verdadeira desordem.   Ao despedir-se daquele homem bondoso  estava a setecentos quilômetros de casa.  Quando recebeu dele um abraço afetuoso,  corpo ficou gelado e o coração em brasa.   Acelerou seu bruto pela estrada.  Chegaria para a ceia de Natal.  Por pensamentos, a mente atormentada.  Quem seria aquele homem afinal?   Quando defronte a casa parou  alguém olhou pela janela puxando a cortina.  Porta da sala se abriu e ele avistou  sua esposa e filhos, o menino e a menina.   Abraçou filhos e a mulher com carinho.  Disse a eles como eram importantes.  Falou que pensara muito pelo caminho  e tudo seria diferente de antes.   Antes de José Vidal entrar foi buscar a mala de viagem.  Na cabine leito ao olhar  parecia que vira uma miragem.   Havia três pacotes de presentes  embrulhados de maneira delicada.  Como chegaram ali não vinha á mente.  Olhava-os com fisionomia assustada.   Em cada pacote um nome escrito,  dos filhos e da esposa, com um laço.  A família emocionada por gesto bonito.  Todos o envolveram em um abraço.   Em casa, sentiu carinho e ternura,  sentando-se todos ao redor da mesa.  De amor e comida havia fartura.  Fizera a coisa certa, tinha certeza.   Em sua mente, pensamento fixo,  com misto de alegria e espanto.  Soltou um grito ao ver o crucifixo  colocado na parede em um canto.   O homem que com ele viajou,  como não percebera isto.  olhando o crucifixo à família falou: “Esta noite dei carona à Jesus Cristo”.   Por: Kennedy Ribeiro - reprodução autorizada Adaptação: Leonardo Andrade  

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