Uma crise silenciosa está parando o país, e não é o trânsito: a escassez de caminhoneiros segue avançando e ameaça o abastecimento, a indústria e o agronegócio

O Brasil vive hoje uma crise que poucos notam no cotidiano, mas que tem o poder de paralisar a economia: a defasagem de caminhoneiros.Nas últimas décadas, o país perdeu uma parte significativa de seus caminhoneiros. Estima-se que mais de 1 milhão de profissionais tenham deixado o volante entre 2015 e 2025, uma redução de cerca de 20% no total de motoristas de caminhão habilitados.

Em números frios, o país perdeu uma parcela significativa da sua força de trabalho no volante, um fenômeno que se agrava com o envelhecimento da categoria e a falta de reposição por parte dos jovens. Segundo levantamento recente da ILOS, consultoria de logística e Supply Chain no Brasil e América Latina, apenas 4,1% dos condutores têm até 30 anos, enquanto a participação de motoristas muito idosos cresce, um sinal de que a profissão não atrai novas gerações.

O impacto é direto: o transporte rodoviário ainda responde por cerca de 65% das cargas que circulam pelo país. Com menos motoristas disponíveis, aumentam os prazos de entrega, os custos operacionais e a pressão sobre o abastecimento. O risco de gargalos em períodos de safra ou de picos de produção industrial é real, e pode atingir desde grandes exportadores até o pequeno consumidor, lá na ponta.
 

Mas, por que os novos motoristas não estão chegando? A resposta está na soma de fatores conhecidos: longas jornadas, solidão nas estradas, baixos ganhos líquidos, pedágios caros, falta de estrutura nas paradas e insegurança constante. Muitos veteranos deixam a profissão antes da aposentadoria,muitos se afastam por questões de saúde mental, enquanto os jovens raramente se interessam em entrar no segmento, principalmente diante do cenário atual e de melhores oportunidades em outros segmentos. 

Nos últimos dez anos, o número total de caminhoneiros caiu de aproximadamente 5,5 milhões para 4,4 milhões, mesmo com o crescimento da frota de caminhões no país. Isso significa que há mais caminhões do que pessoas dispostas, ou até mesmo preparadas, para conduzi-los. No campo, o cenário é ainda mais crítico: quase 96% da produção agrícola nacional depende das rodovias, o que transforma cada caminhoneiro em peça essencial para o funcionamento da economia.

A escassez de motoristas ameaça travar o transporte de grãos, insumos e produtos industrializados. Filas em terminais de carga e atrasos em entregas já começam a se tornar mais frequentes em algumas regiões. Se o ritmo continuar, a consequência pode ser severa: o Brasil corre o risco de parar não por falta de combustível, mas por falta de quem dirija.Diante desse cenário, o país precisa agir rápido. É urgente investir em formação profissional, melhoria nas condições de trabalho e valorização da categoria.

A profissão precisa voltar a ser vista como o que realmente é: uma das mais importantes do país. Sem o caminhoneiro, o Brasil literalmente não anda. E você, motorista, empresário do transporte ou apaixonado pelas estradas? Queremos ouvir sua voz. Conte nos comentários como está o dia a dia nas rodovias, o que mudou na profissão e o que poderia melhorar. Sua experiência pode inspirar soluções e dar visibilidade a quem carrega o Brasil nas costas. Participe. Porque o futuro do transporte se constrói com quem vive a estrada todos os dias.

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