Mais de 17 mil ocorrências foram registradas no ano; especialistas apontam excesso de velocidade, fadiga dos motoristas e falta de regularização como principais fatores
O Brasil encerrou 2024 com um dado preocupante: os acidentes envolvendo caminhões cresceram de forma significativa e já representam uma das maiores ameaças à segurança nas rodovias. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram 3.291 mortes registradas em acidentes com caminhões e ônibus, um salto de 26% em relação ao ano anterior, quando o número foi de 2.611 vítimas fatais. Entre os dois segmentos, os caminhões foram responsáveis pela maior parte dos óbitos.
A gravidade desse cenário está diretamente ligada à expansão da frota de veículos pesados. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), o país alcançou a marca de 2,24 milhões de caminhões em circulação em 2024, alta de 2,8% sobre 2023. Hoje, os caminhões já representam 3,6% da frota total de veículos no Brasil.
O crescimento econômico e o aumento da demanda logística puxaram esse avanço. No entanto, mais caminhões nas estradas também significam maior probabilidade de acidentes se não houver medidas de prevenção, fiscalização e investimentos em segurança viária.
Foram 3.291 mortes registradas em acidentes com caminhões e ônibus, um salto de 26% em relação ao ano anterior, quando o número foi de 2.611 vítimas fatais. Dados: Polícia Rodoviária Federal
Para enfrentar esse desafio, a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) lançou a campanha “Comprometa-se com a vida”, voltada a conscientizar motoristas sobre riscos do excesso de velocidade e boas práticas de direção. A iniciativa aposta em educação como ferramenta central para reverter a escalada de acidentes.
Os custos dos acidentes também pesam no bolso da sociedade. Um estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), com base em dados da PRF, estima que somente em 2024 os acidentes com veículos de carga em rodovias federais geraram impacto de R$ 5,1 bilhões para o país. Esse valor inclui gastos médicos, indenizações, danos materiais e prejuízos econômicos com interrupções na logística.
Outro fator apontado como determinante é a fadiga dos motoristas. Para tentar reduzir esse risco, a PRF intensificou em 2024 a fiscalização da Lei do Descanso, que limita a jornada de trabalho dos caminhoneiros. As operações praticamente dobraram, passando de 10.119 em 2023 para 21.278 no último ano. A expectativa é que a medida contribua para diminuir acidentes relacionados ao cansaço extremo e à sonolência ao volante.
Especialistas defendem que a combinação entre educação, fiscalização e modernização da frota é essencial para reduzir os índices alarmantes. Além disso, a regularização de veículos é vista como ponto-chave para garantir que motoristas circulem dentro da lei, com licenciamento e manutenções em dia.
Brasil já alcançou a marca de 2,24 milhões de caminhões em circulação em 2024, alta de 2,8% sobre 2023. Foto: Divulgação
Nesse contexto, o setor privado também tem buscado soluções. Fintechs como a Zapay oferecem plataformas digitais que permitem regularizar multas, IPVA e licenciamento de forma prática, inclusive com opção de parcelamento no cartão de crédito. Embora não resolvam sozinhas o problema da segurança viária, iniciativas como essa ajudam a diminuir a inadimplência e garantem que mais veículos circulem em conformidade com a lei.
A urgência do tema fica evidente diante das estatísticas. Caminhões são peças-chave no transporte brasileiro, mas o aumento nos acidentes mostra que ainda há um longo caminho a percorrer para unir eficiência logística e segurança no trânsito.
O desafio é grande, mas a mensagem é clara: a vida precisa estar no centro das decisões do setor de transporte. Reduzir acidentes não depende apenas de leis mais rígidas ou campanhas pontuais, mas de uma transformação cultural que envolva motoristas, empresas, governo e sociedade.
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