A meta da inflação de 2023 está em 3,25% e a Selic se manteve pelo 7º encontro consecutivo do Copom
Há algum tempo, os brasileiros estão sentindo os efeitos da alta inflação, que impacta desde a cesta básica até os combustíveis.Tudo parece mais caro que o normal e às vezes dá a sensação que os lucros não alcançam esses aumentos. Se dermos um foco para o setor de transporte de cargas, conseguimos enxergar que esses impactos são ainda mais fortes no segmento.
Como a inflação leva em consideração o consumo, há uma relação direta desse indicador econômico com a logística.De maneira geral, existem dois fatores que influenciam consideravelmente o setor, principalmente o transporte de cargas. O primeiro deles é o consumo de produtos. Quanto mais caros os produtos ficam, mais caro fica o valor do transporte. O outro fator - talvez o mais importante - é o preço dos combustíveis.
Por ser um país que se movimenta principalmente através do modal rodoviário (cerca de 60%), o aumento nos preços está diretamente ligado aos combustíveis, em especial, a gasolina e o diesel. Nos últimos anos, o preço das refinarias variou diversas vezes, chegando a valores recordes em determinados locais do país, influenciando também no aumento de preços de produtos essenciais.
Mas, como a inflação e os juros altos têm influenciado o setor do transporte de cargas? Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta para inflação em 2023 está em 3,25%. A aplicação das políticas cabe ao Banco Central (BC). Dentro do transporte rodoviário de cargas (TRC), a inflação do setor é medida pela NTC&Logística, por meio da divulgação de um índice conhecido como: Índice Nacional do Custos do Transporte (INCT).
O INCT é medido com base nos insumos utilizados diretamente na atividade do transporte rodoviário, como pneus, combustíveis, manutenção, o próprio veículo, salário do motorista, seguro, óleo lubrificante e outras despesas. Assim, é gerada a variação mensal do INCT, como conta Raquel Serini, economista e coordenadora de projetos do Instituto Paulista de Transporte de Cargas (IPTC).
As expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) são de crescimento. Em relação ao mês de maio, ele está aumentando de 1,20% para 2,14%. A expansão de 11,5% do setor agropecuário, de 1,5% no setor de serviços e de 0,5% na indústria são as causas disso.Os atuais indicadores econômicos brasileiros revelam que a situação atual é positiva e está trazendo fôlego ao mercado. Porém, os juros ainda são uma das principais preocupações, visto que especialistas especulam que a queda da Selic – taxa básica de juros – virá apenas na metade do segundo semestre.
Segundo Ana Jarrouge, presidente executiva do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (SETCESP), isso é algo que preocupa o setor de transporte rodoviário de cargas: "Vemos isso com preocupação, pois as empresas estão com grandes dificuldades financeiras e ainda com resquícios do pós-pandemia, quando não conseguiram repassar no frete os aumentos dos principais insumos do transporte”.
Ana explica que gastos essenciais do setor tiveram aumentos consideráveis, impactando diretamente o bolso dos transportadores, como óleo diesel (média de +17,93% em 2022), pneus (média de +8,86% em 2022), caminhões (média de +19,35% em 2022), entre outros. Em contrapartida, necessitam de crédito que, nesse cenário, se torna caro e escasso”. Além disso, é relatado que a defasagem do frete vem se acumulando durante os anos, e a recomposição dos valores vem sendo muito mais lenta que o ideal.
Diversos fatores estão ligados à inflação, e no setor de transportes isso fica ainda mais evidente. "Ninguém gosta de ter juros altos no ambiente de negócios, mas ele é exatamente o reflexo das políticas econômica, monetária, fiscal e social adotadas ou não pelo governo, visto que elas podem estar equivocadas", destaca a presidente executiva do SETCESP.
Para Ana, “o mercado está mostrando uma fragilidade, o que traz insegurança jurídica e imprevisibilidade, tudo que o empresário e os investidores querem ver longe", afirma comentando sobre a Selic, após ser confirmada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em 13,75% pelo sétimo encontro do comitê seguido.
Por possuir um peso importante no cenário econômico nacional, em 2022, o setor expandiu 8,1%, segundo a Anfavea, representante dos fabricantes de veículos. Apesar de não haver um diálogo direto entre os sindicatos e o poder público, há intermediários que representam o setor, como a Confederação Nacional de Transporte (CNT).
"O diálogo com os ministérios, especialmente dos transportes, e com o legislativo vem desempenhando um papel de conscientização sobre a importância do setor e os impactos que eventuais políticas, medidas ou legislações equivocadas podem causar. A CNT tem estudos e pesquisas de alto nível sobre nosso setor para auxiliar os órgãos governamentais", finaliza Jarrouge.
Os serviços são um termômetro econômico. O transporte rodoviário de cargas é defendido por muitos especialistas do setor como um indicativo econômico. Jarrouge diz que o TRC é o "grande elo" entre a indústria e o consumidor final: "Dentro do setor, sempre falamos que as pessoas devem ficar felizes com a presença dos caminhões nas ruas e estradas, pois isto é um indicativo de que a economia está indo bem”, explica a executiva.
Ana conclui afirmando que o transporte é o “grande elo entre a indústria, os pontos de venda e os consumidores finais. Somos uma parte extremamente importante e essencial dentro da cadeia de consumo", finaliza. De toda forma, em 2023 as variações no preço do combustível diminuíram e ações desenhadas por entidades do setor, estão buscando reduzir custos no transporte, mesmo que ainda não tenha acontecido a tal baixa nos juros.
Você pode até pensar que não precisa se preocupar com esses índices ou que a inflação é complicada demais para se entender. Mas é muito importante saber que a economia pode afetar e muito a saúde do seu negócio, seja autônomo ou dono de transportadora. Acompanhar esses dados e compará-los em diferentes períodos de tempo é uma prática necessária, pensando nos desafios do futuro, e se precavendo de aumentos anunciados.
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