Nenhuma mulher havia ganho uma corrida nos mais de 27 anos de competição; Rachel Loh, engenheira chefe da equipe, também teve grande destaque na etapa. Foto: Duda Barrios

Depois de 27 anos, uma mulher venceu uma corrida na Copa Truck. Bia Figueiredo, da ASG Motorsports, foi a primeira mulher a conquistar o primeiro lugar em uma disputa e levou ao pódio as cores do Movimento A Voz Delas. Na quinta etapa da temporada, realizada na cidade de Cascavel, a piloto marcou seu nome na história e passou a integrar o rol de vencedores da competição, território até então, majoritariamente masculino.

E a quebra de padrões vai muito além do volante: Rachel Loh, chefe da equipe ASG Mercedes-Benz e engenheira de Bia, também se consagrou como a primeira mulher chefe e engenheira de equipe na Copa Truck, a subir no lugar mais alto do pódio. Na verdade, Rachel é a primeira – e até então única – mulher engenheira chefe da competição, responsável por 7 pilotos da equipe, e que agora também acumula mais uma conquista histórica para sua carreira.

Esse feito não é marcante somente para a Bia e Rachel, mas também para a Mercedes-Benz, para o Movimento A Voz Delas e para tantas outras mulheres que se inspiram nessas profissionais e buscam seus sonhos: “Não é uma vitória minha e da Rachel. É uma conquista de todas as mulheres que ocupam profissões e têm cargos que as pessoas gostam de rotular como se fosse um lugar só deles”, afirma Bia, emocionada. A piloto destaca que a vitória não foi sozinha, e que outras mulheres também fazem parte dessa história.

Bia Figueiredo venceu em Cascavel 2023 sua primeira corrida na Copa Truck – Foto: Duda Bairros / divulgação

Bia ressalta que “essa é uma conquista de uma piloto e de uma engenheira, e também das mulheres que estão nos volantes, nas estradas, trabalhando nas montadoras, na logística e em tantas outras profissões. Quando uma mulher rompe uma barreira, todas as mulheres rompem também”. Bia vem se destacando na competição desde as primeiras corridas. Já tinha conseguido poles e outras posições no pódio, e agora, sua primeira vitória no truck. 

A Copa Truck, competição com caminhões preparados para corridas, teve início em 2006, ainda com o nome de Fórmula Truck e, desde então, só houveram vitórias masculinas. Vale lembrar que a piloto Débora Rodrigues é a pioneira da categoria, brilha com o truck #07 da Volkswagen, já conquistou vários pódios e, por causa dela, muitos paradigmas sobre mulheres nas pistas foram rompidos. Porém, até a última etapa, nunca uma mulher havia subido ao lugar mais alto do pódio.

“O automobilismo é um dos únicos esportes em que mulheres e homens, e pessoas de diferentes idades, competem em igualdade. E isso nos faz refletir sobre o que é igualdade. Nas pistas, somos apenas duas, com mais de 30 homens no grid. A Raquel é a única chefe e engenheira da categoria”, analisa a piloto, que assim como Rachel, acumula também o cargo de representante da América do Sul na Comissão de Mulheres da FIA, e que tem trabalhado fortemente por mais mulheres no automobilismo.

Bia Figueiredo venceu em Cascavel 2023 sua primeira corrida na Copa Truck – Foto: Duda Bairros / divulgação
 

Bia Figueiredo reforça que a conquista acontece dentro das pistas, mas que fora delas, as mulheres ainda  têm uma longa jornada, não só na questão salarial, que tem diminuído ao longo dos anos, mas também, em relação ao acesso das mulheres em profissões e segmentos que por costume,  são mais ocupados por homens, como o transporte. A diferença de remuneração entre homens e mulheres voltou a subir no país e atingiu 22%, segundo dados do IBGE e isso mostra que uma brasileira recebe, em média, 78% do que ganha um homem. Quando olhamos para cargos de liderança das empresas no mundo todo, temos apenas 37% de mulheres, uma diferença ainda significativa. 

A piloto do Mercedes-Benz #111 da ASG Motorsport explica que sua conquista não é diferente do que a de tantas outras mulheres que realizam seus sonhos e vencem mesmo nas dificuldades: “Por isso, volto a afirmar que esse segue sendo um tema atual, e que precisamos falar dele. Dizer que cada conquista de uma mulher é uma conquista de todas as outras. Eu sei que esse é um fato histórico, merecido e que será muito celebrado. Estou feliz, orgulhosa pelo trabalho realizado, e agradecida por tanto apoio”. 

Bia, também destacou que, independentemente de ser a primeira vitória guiando um caminhão, a alegria da vitória é única e que vai lutar por muitas outras: “Vencer aqui na Copa Truck pela primeira vez e ser a primeira mulher a conseguir isso é muito especial! Eu estava com muita saudade de vitórias, de vencer. Eu sabia que estava muito próximo, pela forma como começou o campeonato. Quero agradecer a todos que torceram e torcem por mim. Eu amo automobilismo, vivo disso, cresci nisso. Então me considero merecedora dessa vitória e muita gente comigo também é!”, declara. 

Bia Figueiredo venceu em Cascavel 2023 sua primeira corrida na Copa Truck – Foto: Duda Bairros / divulgação

Bia Figueiredo venceu em Cascavel 2023 sua primeira corrida na Copa Truck – Foto: Duda Bairros / divulgação

A primeira mãe a vencer uma corrida de caminhões no Brasil

O primeiro lugar na última etapa da Copa Truck celebrou outra conquista inédita: nunca uma mãe havia subido no pódio de uma categoria de elite do automobilismo nacional. Bia é mãe de dois meninos – Murillo Luz, de 3 anos, e Matteo Luz, de 1 ano e 8 meses - e essa foi a primeira conquista dela após a maternidade. Ainda no evento de apresentação da equipe ASG para 2023, Bia já havia comentado que ser mãe não a atrapalhou na profissão. 

A piloto relembra que ao invés de receio em competir, se sentiu ainda mais inspirada quando se tornou mãe: “Todo mundo me pergunta se depois de ser mãe eu fiquei insegura em pilotar um caminhão de 4 toneladas, ou de acelerar a mais de 200 km por hora. A resposta vem agora: não. A maternidade me trouxe muita coragem, e hoje faço isso pela Bia mulher, e por todas as mães”, celebra.  

Experiências nas pistas: Piloto já brilhou em outras categorias

Além de ser um dos grandes nomes da temporada 2023 da Copa Truck disputando a categoria Super, Bia Figueiredo é mãe, piloto profissional, empresária e comentarista da Fórmula Indy, na TV Cultura, e da Stock Car, no Canal do Galvão Bueno. Bia também atua fora das pistas como representante da América do Sul na Comissão de Mulheres da FIA, tem trabalhado fortemente por mais mulheres no automobilismo (nas pistas e nos bastidores).

Com uma trajetória de longa data no automobilismo, Bia Figueiredo foi a primeira brasileira a correr em uma categoria top do automobilismo mundial, a Fórmula Indy, a primeira mulher do mundo a vencer na Firestone Indy Lights, a única a vencer na Fórmula Renault, a única a conquistar uma pole position na Fórmula 3, e a única a disputar e a vencer no Desafio das Estrelas, torneio anual de kart organizado por Felipe Massa. É também a primeira brasileira a conquistar um lugar no grid e a disputar as 500 Milhas de Indianápolis e um campeonato integral da Fórmula Indy. 

No Brasil, a piloto disputou cinco temporadas completas da Stock Car, principal categoria do automobilismo nacional. Em 2019, fez história ao participar das 24 horas de Daytona (EUA) em uma equipe de pilotos formada por mulheres. No ano de 2020, Bia tornou-se mãe. Após 9 meses do nascimento do seu primeiro filho, voltou às pistas e, em 2021, nasceu seu segundo filho. Em 2022, disputou a TCR South America.

Bia Figueiredo venceu em Cascavel 2023 sua primeira corrida na Copa Truck – Foto: Duda Bairros / divulgação

Bia Figueiredo venceu em Cascavel 2023 sua primeira corrida na Copa Truck – Foto: Duda Bairros / divulgação

A conquista da Bia é muito significativa, não só para o Movimento A Voz Delas, que figurou no primeiro lugar do pódio, mas também para todas as mulheres que sonham em dirigir um caminhão, seja como piloto profissional, seja como caminhoneira, no dia a dia. A mensagem que Bia, Rachel e outras profissionais que estão nesse segmento passam é de que não há limites de gênero para realizar objetivos, é de que as mulheres são capazes de tudo! 

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