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Maternidade e a estrada: caminhoneiras superam os desafios da jornada no volante e com os filhos

Maternidade e a estrada: caminhoneiras superam os desafios da jornada no volante e com os filhos

Desafios para as mulheres motoristas são de longa data, mas a presença de mulheres no transporte de cargas só aumenta: aproximadamente 150 mil motoristas

A vida na direção de um caminhão exige uma rotina de renúncias e apresenta desafios únicos, que cada vez mais mulheres têm se mostrado interessadas em superar. Assim como em outras profissões que exigem um período longe dos filhos, as mães caminhoneiras superam diariamente os desafios de conciliar a profissão e a criação dos filhos.

A presença feminina nas cabines representam uma excelente notícia no combate ao preconceito e a problemas recorrentes, como assédio e falta de reconhecimento. Segundo o Ministério das Cidades, o número de mulheres aptas a dirigir veículos pesados está na casa dos 150 mil — e, é claro, quanto mais, melhor.


Encarar estradas perigosas, trânsito, cansaço. Ficar longe de casa e dos filhos por dias é a rotina de uma legião de profissionais que se sustentam transportando riquezas pelo Brasil. Dados do Ministério das Cidades mostram que o país tem 2,3 milhões de pessoas habilitadas a dirigir caminhões e carretas, menos de 7% são mulheres. 

E por mais que esse movimento de mulheres no transporte pareça novo, não é de hoje que essas profissionais dão aula de como se dedicar ao trabalho e a família. Ainda nos anos 60, Neiva Chaves Zelaya começou a dirigir caminhões entregando cargas pequenas para sustentar os filhos depois de ficar viúva aos 24 anos de idade. Ela foi, comprovadamente a primeira mulher caminhoneira do Brasil.   

Neiva se casou aos 18 anos com Raul Alonso e teve quatro filhos: Gilberto, Carmem Lúcia, Raul Oscar e Vera Lúcia. Apenas quatro anos depois de se casar, seu marido faleceu. Se viu responsável pelo sustento da família e viu o caminhão como a oportunidade de garantir sua renda. Quando conseguiu comprar o pesado, ela comprou um caminhão e decidiu fazer frete por todo o Brasil, levando sempre seus filhos a bordo.

 Alguns anos depois, foi trabalhar na construção de Brasília, a única mulher motorista a participar da operação. Durante toda a obra na futura capital, Neiva dirigiu diferentes caminhões, puxando cargas de materiais de construção e também mantimentos para ajudar o fluxo de insumos e gêneros de necessidade que o grandioso projeto precisava. Trabalhava de 12 a 14 horas por dia.

Em 1957, Neiva teve que pensar no seu sustento e no de seus quatro filhos pequenos. Depois da empreitada de em uma pequena loja de artigos fotográficos no interior de Goiás, comprou um caminhão e decidiu fazer frete por todo o Brasil levando os filhos consigo. Foto: Movimento A Voz Delas. 
 

Mães e Caminhoneiras

Histórias como a de Neiva se repetem pelo Brasil. Todos os dias, centenas de mães caminhoneiras saem de casa para conseguir levar o sustento para sua família. Muitas levam consigo a responsabilidade de ser a única provedora dos filhos, caso da Dhaisa Maier, caminhoneira e mãe de duas crianças. Ela se nomeia como uma eterna cristal, já que se aproximou do mundo dos pesados quando acompanhava o marido caminhoneiro. 

Dhaisa conta que se aventurou muito país a fora ao lado do esposo, e que viajando com ele, aprendeu a amar e admirar essa profissão. Hoje, ela segue nessas estradas sozinhas, para dar continuidade ao sonho da família, já que devido a um trágico acidente, perdeu o companheiro. De acordo com ela, enfrentou vários obstáculos e continua enfrentando, mas segue com ele no coração e acredita que mesmo passando por muitas provações, está no caminho certo. 


Dhaisa, caminhoeneira de Minas Gerais, assumiu o volante do caminhão quando o marido, também caminhoneiro, faleceu em um acidente. A motorista é a responsável pela criação dos filhos pequenos. Foto: Movimento A Voz Delas

A profissional conseguiu se habilitar nas categorias que precisava e atualmente trabalha com um caminhão truck. Dhaisa revela que, devido a necessidade de manutenção no motor, está parada. Mas nem isso desanima a mãe e caminhoneira, que devido a sua resiliência e dedicação, é inspiração para muitas mulheres, tanto que chegou a final do Prêmio Mulheres Positivas 2023, na categoria logística. 

Hoje é Dia das Mães e nada como essa data para homenagear essas rainhas que merecem, não só um dia, mas uma vida inteira de dedicação. Por isso, em uma data tão especial, queremos espalhar esse clima de amor e esperamos que cada filho demonstre um pouco de seu respeito e carinho. Afinal, o que seria de nós se não fossem nossas mães? 

Esse, inclusive, é o trabalho mais difícil da face da Terra, pois é um turno de 24 horas, durante sete dias da semana. Ser mãe é uma verdadeira missão, de enorme responsabilidade. É amar da maneira mais completa, dar o melhor de si e não esperar nada em troca. 

O Planeta Caminhão tem uma grande admiração pelas mães que encaram as estradas, sejam caminhoneiras ou cristais. Somos verdadeiros fãs dessas mulheres que tiram de letra as estradas perigosas, o trânsito estressante, o cansaço da dupla jornada. Além disso, mostram muita a força para suportar ficar longe de casa e dos filhos por dias, até semanas. Por isso, desejamos um excelente dia das mães a todas.


Giovanna Sauchuk é caminhoneira de Canoinhas, Santa Catarina e mãe da pequena Betina. Ela foi motorista de ônibus por 10 anos e durante a pandemia precisou mudar de ramo, mas não perdeu a paixão pelo volante. Foto/Conteúdo: Brasil Caminhoneiro
 

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