Número também é menor do que mês de março, e o segundo pior dos últimos quatro anos, refletindo a crise que a indústria automotiva vem enfrentando
A indústria automotiva apresentou os números mais recentes de produção, vendas e exportações de automóveis (autoveículos) no Brasil. Com exceção das motocicletas, praticamente todas as categorias apresentaram quedas. Entre os leves, o desempenho da produção e das vendas do quadrimestre ficaram ligeiramente abaixo do projetado. Já entre os caminhões, as vendas recuaram 16,5% sobre abril de 2022, confirmando os desafios da introdução da nova fase do Proconve.
Em coletiva para a imprensa, o presidente Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), Márcio Lima Leite explicou sobre os números de abril, que de acordo com ele, de uma forma geral, tanto em produção quanto em vendas e exportação, se comparado com o mês anterior, são números de queda nos três setores. O executivo lembra que nos primeiros quatro meses de 2022 foram números muito ruins para a indústria e se comparado a esse ano, a expectativa é de estabilidade.
O balanço Anfavea também apontou queda nos volumes de emplacamentos em abril, em parte justificada pelos 5 dias úteis a menos em relação a março. As 160,7 mil unidades emplacadas representaram um recuo de 19,2% sobre o volume de março, e um acréscimo de 9,2% sobre o mesmo mês do ano passado. Essa diferença foi justificada pela Anfavea como um “ajuste” na demanda de veículos, já que no ano passado o cenário era de produção conforme a oferta e não conforme a demanda.
Márcio Lima Leite reforçou que 2022 foi marcado por uma crise muito forte da indústria automobilística, principalmente em relação à produção, devido a falta de semicondutores, enquanto que 2023 existe a transição para uma outra tecnologia, o que acabou refletindo nas outras categorias, como exportação e no mercado interno de vendas: "Mesmo com as dificuldades de crédito e juros elevados que afetam sobretudo as vendas no varejo, emplacamos até agora 633 mil unidades em 2023, 14% a mais que no ano passado, quando a crise era somente de falta de oferta", analisou.
Das 13 paralisações de fábricas registradas no ano, 9 delas ocorreram em algum período de abril, o que afetou o volume de produção no mês. O total de 178,9 mil unidades produzidas foi 19,4% inferior ao de março e 3,9% menor que o de abril do ano passado, quando a crise dos semicondutores estava em seu momento mais crítico. No acumulado do ano, 714,9 mil autoveículos foram produzidos no país, alta de 4,8% sobre o primeiro quadrimestre de 2022.
Para caminhões, a situação é ainda mais complexa após o fim do período de três meses em que as fábricas podem faturar os veículos produzidos em 2022 (modelos da fase anterior do Proconve). As vendas recuaram 16,5% sobre o fraco mês de abril de 2022, confirmando os desafios da introdução da oitava fase do programa de controle de emissões, que deixou os produtos nacionais em linha com os mais avançados modelos globais, mas com uma inevitável elevação de custo.
De acordo com o presidente da Anfavea, ano passado o mercado era limitado pela oferta e não limitado pela demanda, com filas de espera para a compra de novos veículos. Já nesse ano de 2023, Leite destaca que a indústria começou o ano com uma tendência de crescimento em relação ao ano anterior, mas o que é visto nesse momento é um ajuste da produção à verdadeira demanda do mercado.
Isso porque, no acumulado da produção entre o mesmo período do ano passado, houve um aumento de cerca de 30 mil unidades do que no quadrimestre do ano passado. O mês de abril foi marcado por uma readequação da produção para o atual nível de mercado. No mês houveram 9 paradas de fábricas, com um total de 13 desde o início do ano, impactando diretamente no estoque de caminhões novos.
Leite destacou ainda que a média diária de vendas de autoveículos em abril foi a melhor do ano, com 8,9 mil unidades/dia, mas que boa parte desse crescimento se deve à demanda reprimida das locadoras. No mês, 50% dos emplacamentos de automóveis e comerciais leves foram em Vendas Diretas, canal que inclui locadoras, pessoas jurídicas, taxistas, frotas corporativas, PCD, governo, produtores rurais etc.
O destaque do mês continua sendo a venda para locadoras, que totalizou 42 mil unidades, apresentando uma leve redução em relação ao mês anterior, com 53 mil unidades. As vendas diretas de leves representaram 50% do total. A Anfavea também apresentou um comparativo entre o que foi projetado e o que de fato foi realizado no trimestre e no quadrimestre de 2023.
Entre expectativa e realidade, a organização foi mais assertiva na previsão de vendas do primeiro trimestre, que ficou apenas 2 mil unidades abaixo do previsto. Porém, todas as outras projeções se mostraram acima dos números apresentados, ou seja, os números foram abaixo das expectativas. Porém, de acordo com o presidente, as diferenças entre as projeções e realizações não destacam a necessidade de revisão.
Produção mensal de caminhões
Durante o mês de abril foram produzidos 7,3 mil caminhões, número 41,1% menor do que o mês de março, onde foram fabricados 12,3 mil unidades. Na comparação com abril de 2022, houve queda de 28% na produção de caminhões.
No período entre janeiro e abril de 2023, foram publicados 31,8 mil caminhões, número 28,6% menor do que no mesmo período de 2022 e o segundo pior, comparado aos últimos 4 anos (perde somente para abril de 2020, quando a pandemia paralisou as fábricas de todo o mundo).
Vendas Mensais de Caminhões
Em abril de 2023 foram vendidos 7,8 mil caminhões, um número abaixo de 22,2%. Comparado ao mesmo período do ano passado, o cenário também é de queda: 16,6% menos veículos emplacados. No comparativo de janeiro a abril, foram vendidos 36,4 mil caminhões, cerca de 0,6% a mais que no mesmo período do ano passado, onde o emplacamento foi de 36,2 mil unidades.
Taxa de juros elevada - O presidente da ANFAVEA analisou que a taxa de juro é incompatível com a expectativa de crescimento da indústria. De acordo com o executivo, em relação ao crescimento da indústria e a geração de empregos, a taxa de juros hoje é sem dúvidas, muito restritiva a isso. O alto valor dos caminhões novos também pesa nos números, mas segundo o executivo, políticas nesse sentido podem melhorar o cenário.
Sobre as baixas nas vendas, Márcio Lima Leite explicou que ainda é reflexo de fatores que se combinam: o valor dos novos veículos, que com a mudança Proconve 8 recebeu mais tecnologia, o que encarecu bastante o produto, e o juros alto brasileiro, que dificulta financiamentos e acesso ao crédito para a aquisição de novos veículos.
O presidente da Anfavea destacou que estão sendo criadas opções para uma mudança do cenário, como alternativa para as quedas da indústria, mas sem contar muito com a queda dos juros. A expectativa, segundo ele, é que alternativas como o programa Renovar e outros investimentos para o setor amenizem a situação.
Programa Renovar - Durante a coletiva, a Anfavea também deu novidades sobre o programa. De acordo com o órgão,está na fase final e a expectativa é que nos próximos meses comecem os testes pilotos e que seja colocado em prática. Um aplicativo vai consolidar as informações e para o próximo semestre a operação deve ser iniciada. Lembrando que é um programa que visa o médio e longo prazo.
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