Montadora vai reduzir produção nas fábricas de São Bernardo do Campo e Juiz de Fora. A decisão se deu por conta dos juros altos e falta de peças
A produção de veículos no Brasil vem sofrendo alguns altos e baixos nos últimos meses. Apesar dos números estáveis em dezembro de 2022 e as pequenas quedas em janeiro e fevereiro de 2023, as montadoras, em especial, de caminhões, têm realizado ações para minimizar os problemas do desaquecimento da indústria automotiva no Brasil.
Um dos exemplos é a Mercedes-Benz, que anunciou nesta semana a redução da produção de caminhões na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. A montadora vai reduzir a produção deste ano adotando turno único na unidade por dois ou três meses, a partir de maio. A informação foi divulgada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
De acordo com o Sindicato, a montadora divulgou um comunicado aos trabalhadores sobre a necessidade de reduzir a produção. Entre os motivos estão a falta de peças e as altas taxas de juros no país, que reduzem a demanda por caminhões novos. Atualmente, a companhia trabalha em dois turnos com 8 mil funcionários.
A Mercedes-Benz, ao ser questionada sobre a suspensão do turno, afirmou que "no decorrer do 1º trimestre, em razão de juros elevados e de dificuldades na concessão de financiamentos, observou-se uma demanda ainda menor do que a esperada para este ano". Esse é um reflexo das dificuldades que a indústria automotiva está enfrentando pela alta dos juros.
Os aumentos da taxa básica de juros, a Selic, feitos pelo Banco Central desde 2021, começaram a trazer consequências mais fortes para a economia. Uma delas é a redução do consumo por meio da dificuldade de concessão de crédito. Sem limite de crédito, e com a redução do poder de compra da população, diminuiu também o potencial de financiamento. Com isso, a venda de caminhões novos sofre um impacto muito grande e a demanda diminui.
Segundo a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras(Anef), a taxa de juros no mercado para compra de veículos ao ano chegou a 28,71% em dezembro de 2022. No setor de caminhões e ônibus, ainda houve a redução da participação do BNDES Finame e aumento dos financiamentos de mercado. Outro fator para a baixa demanda é o preço dos veículos, que ficaram mais caros depois da norma Euro 6.
Isso porque, em 2022, as empresas anteciparam a compra de caminhões Euro 5, já pensando na nova norma de emissões para veículos comerciais que entrou em vigor esse ano. Os novos caminhões ficaram mais caros porque receberam mais equipamentos de controle de emissão de poluentes. Isso também explica, em parte, a queda da demanda.
Segundo dados da associação de distribuidores de veículos, Fenabrave, embora as vendas de caminhões novos no Brasil tenham caído 7,3% em março sobre o mesmo mês do ano passado, para cerca de 9,4 mil unidades, no trimestre houve alta de 2,6% nos licenciamentos do segmento, para 27,4 mil veículos.
O Sindicato dos Metalúrgicos reforça que somente através de novas linhas de crédito que a indústria poderá ser aquecida novamente: "É urgente abrir novas modalidades de financiamento do BNDES e baixar a taxa de juros, que é a segunda maior do mundo, para a retomada do setor. Os juros altos prejudicam o crescimento, impedem a melhoria da produção e a geração de empregos, com efeitos nocivos no setor de caminhões e autopeças", afirmou o diretor executivo do Sindicato, Aroaldo Oliveira da Silva, em nota divulgada pela entidade.
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