Mais de 3 mil motoristas morreram nas rodovias federais até julho de 2022
Sinistros de trânsito envolvendo caminhões infelizmente são comuns nas estradas brasileiras. Muitos fatores contribuem para os acidentes, seja a infraestrutura, a imprudência com as regras, a falta de atenção, a visibilidade. Fato é que, recentemente, temos visto acidentes sérios, que poderiam ser evitados com algumas ações de prevenção.
Segundo um estudo realizado pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) a partir de registros da Polícia Rodoviária Federal e publicado ainda no ano passado, os acidentes de trânsito em rodovias federais provocaram a morte de 3.065 motoristas nos sete primeiros de 2022. O número é 2% maior que os 2.997 óbitos no mesmo período de 2021.
Os dados apontam também quais os principais fatores para os sinistros. Das dez principais causas de mortes, seis estão diretamente relacionadas à imprudência. A principal delas é transitar na contramão, com 419 casos. Mas também constam velocidade incompatível, ultrapassagem indevida, acessar a via sem observar os veículos que passam e consumo de álcool.
Segundo a análise, fatores humanos e relacionados à saúde provocaram 2.703 mortes e 33.573 feridos nas estradas federais entre janeiro e julho deste ano. Se olharmos outras pesquisas sobre o tema, podemos ver a gravidade do problema. No último levantamento realizado pela CNT, a cada dia, o Brasil registra 14 mortes e 190 acidentes nas rodovias federais. Segundo os dados, somente em 2018, foram 69.206 acidentes, sendo 53.963 com vítimas. Esses acidentes resultaram em 5.269 mortes no ano.
Já no último levantamento do Observatório Nacional de Segurança Viária, por meio dos dados do DataSus (Ministério da Saúde), do total de mortes registradas em 2020, 84% foram homens e 16% foram mulheres. Isso quer dizer que das 32.716 mortes, quase 27 mil foram de homens.
Problemas na saúde de motoristas causaram pelo menos 13 mil sinistros em rodovias do País, alertam médicos do tráfego
Até julho de 2022, cerca de 13 mil sinistros de trânsito registrados em rodovias brasileiras tiveram como causa principal ou secundária questões relacionadas à condição de saúde dos motoristas, no momento da ocorrência. Esse volume de colisões, capotamentos e outros desastres deixou como saldo 13.744 feridos e 881 mortos -- números que representam um aumento de quase 20% em relação ao mesmo período do ano passado.
A conclusão da Abramet chamou a atenção dos condutores e autoridades para a importância da prevenção à saúde para a redução de acidentes nas vias e rodovias brasileiras. Com base na catalogação de dados coletados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), os médicos do tráfego reuniram os acidentes em categorias mais recorrentes, entre elas a falta de atenção, ingestão de álcool e substâncias psicoativas, sonolência do condutor e o mal súbito.
"As condições de saúde dos condutores são extremamente relevantes para a segurança do trânsito. Observamos que um terço dos mortos e feridos nas rodovias monitoradas pela PRF, só nos primeiros sete meses de 2022, podem ter sido acometidos por problemas como déficit de atenção (permanente ou circunstancial), deficiências visuais, distúrbios de sono e comprometimento motor ou de raciocínio " pontua Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet.
Para ele, a saúde do condutor é um aspecto que deve ser considerado para a criação de políticas públicas que reduzam esses números e reforcem o estímulo à realização periódica do Exame de Aptidão Física e Mental pelo motorista, considerado ferramenta decisiva para a redução da mortalidade no trânsito.
Saúde está ligada a direção
A falta de reação ou resposta tardia ou ineficiente ao volante foram as duas principais causas de mortes e ferimentos, segundo o levantamento. Cerca de 5.100 pessoas ficaram feridas e outras 314 morreram este ano em razão da falta de resposta imediata às circunstâncias que comprometeram a direção. Outros 4.200 feridos e 274 óbitos nas rodovias foram motivados pela total ausência de reação do motorista.
"Diversos fatores podem comprometer o tempo de reação, julgamento, visão e dificuldades no processo da informação e memória de curto prazo do condutor", alerta o diretor científico da Abramet, Flavio Adura. Segundo Flávio, através de orientações e aconselhamentos, o médico do tráfego pode auxiliar na identificação de motoristas com risco de se envolverem em acidentes de trânsito e auxiliá-los a dirigir com segurança.
O médico do tráfego defende uma maior fiscalização na renovação de CNHs, principalmente para quem conduz de forma profissional: "É muito importante afastar da direção de um veículo condutores que possuem problemas de saúde que interfiram na direção veicular segura", acrescentou.
A ingestão de bebida alcoólica é a terceira causa mais frequente, no que diz respeito à saúde de quem conduz. A causa deixou 2.233 feridos e matou 111 pessoas entre janeiro e julho deste ano. "O álcool compromete o reflexo dos motoristas. Se fosse apenas isso, já não seria pouco, mas também reduz a capacidade de percepção da velocidade e dos obstáculos, reduz a habilidade de controlar o veículo, diminui a visão periférica, prejudica a capacidade de dividir a atenção e aumenta o tempo de reação", alerta Flávio Adura.
Outra condição de saúde que mais aparece no levantamento é o sono. Quando insuficiente, é causa frequente e muito importante da sonolência diurna, sendo capaz de causar acidentes graves. Este fator motivou, segundo a PRF, 124 mortes e deixando 1.758 feridos, no período analisado.
Completam o trabalho, o chamado mal súbito, que é a perda de consciência devida mais frequentemente a doenças cardiológicas (infarto, arritmias) e neurológicas (AVC, convulsões), com um total de 390 mortos e feridos.
Fator humano é principal causa
Em termos globais, as informações contemplam apenas os sinistros registrados nas estradas e rodovias sob supervisão da PRF. Não foram contabilizados, portanto, transtornos em colisões que acontecem em pistas, ruas e avenidas dos centros urbanos. Com isso, avalia o presidente da Abramet, "o quadro poderia ser até pior, pois um número importante de colisões não entra nas estatísticas".
Segundo os dados analisados, 83% dos sinistros foram motivados exclusivamente pelo chamado fator humano. Além das causas relacionadas direta ou indiretamente à situação clínica dos condutores (fadiga, stress, cansaço, déficit de atenção ou comprometimento do raciocínio), são comuns as fatalidades relacionadas à imprudência ou transgressão às leis de trânsito.
Os sinistros de trânsito são eventos não intencionais, evitáveis, causadores de lesões físicas e emocionais. Neste trabalho verificamos que é possível atribuir ao 'fator humano' a causa de 83%, 5% ao 'fator veículo', 10% ao 'fator via' e 2% ao 'fator ambiente'. Dentre estes fatores intervenientes e causadores dos sinistros, portanto, o comportamento humano é destacadamente o grande responsável, até mesmo porque como a manutenção é responsabilidade do condutor, as falhas no veículo devem ser vinculadas também ao fator humano" comentou o diretor científico.
Apesar do alto número de acidentes, a Polícia Federal anunciou que o número de mortos e de feridos nas rodovias federais diminuiu no réveillon deste ano, em comparação com o ano passado. No período de festas entre 2022 e 2023, 46 pessoas morreram, o que representa 12% menos que no ano anterior; e 560 ficaram feridas - uma redução de 31%. Já os acidentes graves somaram 143 ocorrências em todas as rodovias federais do país - uma queda de 9% em relação ao réveillon de 2022.
Os dados fazem parte do balanço preliminar da Operação Rodovida Ano Novo 2023, feita pela Polícia Rodoviária Federal, do dia 30 de dezembro do ano passado até esse domingo, dia 01 de janeiro. Os agentes da PRF abordaram, ao todo, 67.741 pessoas. Isso representa 56% de aumento em relação à fiscalização feita no réveillon do ano passado.
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