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Berliet, conheça o caminhão francês que marcou época no mundo

A Berliet foi uma montadora francesa que marcou história no século 20 com a produção de veículos pesados, principalmente após a 2ª Guerra Mundial. A marca foi fundada por Marius Berliet no fim do século 19.

Logo da Berliet tem a representação de um trem.
Primeiros anos

O Francês começou suas experiências com automóveis em 1894, quando construiu seu primeiro motor. Nos anos seguintes construiu alguns carros monocilíndricos e, em 1899, mudou-se para Lyon, onde sua carreira na indústria automobilística se consolidaria.

Em 1902 assumiu uma fábrica na cidade francesa e começou a fabricar automóveis de quatro cilindros com chassi de aço, em vez de madeira, como era comum na época. A simplicidade, robustez e potência dos veículos fabricados por Berliet chamaram a atenção da ALCO (American Locomotive Company) que, em1906, fez uma parceria de três anos para fabricação de veículos de 20, 40 e 60 cavalos.

Carro Berliet de 1904.

A parceria também envolvia o pagamento de 500 mil Francos, fornecimento de peças fundidas e forjadas, construção de uma fábrica no estado de Rhode Island, nos EUA, e pagamento de royalties. Com esse capital a disposição, Marius expandiu a fábrica em Lyon e investiu em maquinário e instalações comerciais.

Nos primeiros anos do século 20, os carros Berliet ficaram muito famosos por seu desempenho em competições, conquistando vários prêmios em diversas provas diferentes.

Primeiros caminhões

Em 1907 a montadora apresenta seu primeiro caminhão, um tipo L com versões em 2,5 e 5 toneladas. Ele era equipado com motor a gasolina de 4 cilindros verticais. Com 800 rpm, ele permitia uma velocidade máxima de 14,6 km/h em nível.

Em 1909 a Berliet lança o caminhão tipo M 22 HP, que é considerado hoje um objeto histórico, como representante da primeira geração de caminhões do mundo. Ele tinha peso bruto total (PBT) de 3.500 kg e capacidade de carga útil de 2.000 kg. Era montado em dois eixos, com seis pneus de borracha e possuía motor de 4,5 litros, que lhe permitia atingir a velocidade de 25 km/h.

Berliet de 22 HP, de 1910.
Veículo de Guerra

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) aumentou a demanda de caminhões da montadora francesa, que produzia veículos para o exército francês.

Os pedidos aumentaram a demanda da Berliet e a capacidade da fábrica em Lyon, mesmo com uma ampliação feita em 1915, já não era suficiente e, em 1916, foi construída uma nova fábrica em Vénissieux.

Berliet CBA, utilizado na Primeira Guerra Mundial.

O modelo utilizado pelo exército francês era o Berliet CBA, um caminhão com estrutura de lâmina de aço, motor de 4 cilindros com potência de 25 cavalos a 1200 giros.

A produção desses caminhões cresceu exponencialmente nos anos de guerra. Em janeiro de 1916 já eram produzidas 142 unidades do CBA por mês. Em dezembro do mesmo ano já eram 424 e, em janeiro de 1918, chegou a marca de mil caminhões, um recorde mundial de produção na época.

O modelo foi usado principalmente para o transporte de tropas e equipamentos, mas também transportou os soldados feridos nas trincheiras da guerra.

O Berliet CBA foi produzido até 1932 e atingiu a marca de aproximadamente 40 mil unidades vendidas.

Período entre guerras

O fim da Primeira Guerra Mundial foi uma época complicada para a empresa. Ela reorientou parte de sua produção para a confecção de carros de passageiros, já que não havia mais mercado para a quantidade de caminhões que a fábrica poderia produzir.

Dessa forma, o único caminhão que a marca se concentrou em produzir no período foi o CBA de 5 toneladas.

Ilustração do Berliet CBA produzido no pós-guerra.

Inicialmente a decisão de fabricar apenas um modelo de veículo também foi adotada para os carros de passeio. No entanto, a proposta logo se provou problemática e, durante toda a década de 1920, a Berliet lançou cinco modelos diferentes de carros de passeio.

No meio da década de 1920 os caminhões voltaram ao radar, com o nascimento da geração de caminhões GD. O primeiro modelo foi o tipo GDH, que tinha motor a gasolina e era um derivado do CBA.

Em 1930 a montadora instalou experimentalmente motores a diesel em um de seus caminhões CBA e, em 1931, lançou um lote de veículos a diesel, na sua nova plataforma, que ficaram conhecidos como Berliet GD2s.

Caminhão Berliet da geração GD, o GDLK, de 1937.
Segunda Guerra Mundial

Em 3 de setembro de 1939 a França declara guerra à Alemanha e no fim do mesmo mês a Berliet é requisitada pelo governo para construção de veículos. O primeiro lote de 1200 veículos é entregue em junho de 1939.

No entanto, com a invasão alemã ao território francês em 1940, as fábricas são absorvidas pelos nazistas. Assim, a produção diminui e é direcionada totalmente às autoridades germânicas.

Caminhão Berliet na Segunda Guerra Mundial.

Na noite de 1º de maio de 1944 o exército aliado bombardeia a cidade de Lyon, onde ficavam as fábricas da Berliet, e alguns edifícios ficam muito prejudicados.

Entre 1º de outubro de 1940 e 31 de julho de 1944, a Berliet produziu 2.389 veículos para o exército alemão.

No fim de 1944 a cidade é libertada dos nazistas e Marius Berliet é preso, acusado de utilizar sua empresa para fabricar metralhadoras para os alemães. Dois anos depois ele é julgado e considerado culpado. A fábrica fica sob comando de um representante do governo, até que, em novembro 1949, se comprova que na verdade as provas contra Marius eram falsas e a empresa é devolvida à família Berliet, já que o fundador da empresa havia falecido em decorrência de um câncer em maio daquele ano.

Pós Segunda Guerra

Desde o início da guerra a Berliet parou a produção de veículos de passeio e, com o fim do conflito, a fábrica dedicou toda sua produção fabricando caminhões.

O primeiro veículo novo apresentado pela Berliet no pós-guerra é o caminhão GLR, que tinha cabine de metal, motor de 5 cilindros. O veículo é apresentado com peso bruto (PBT)de 13,5 toneladas e equipado com plataforma, tanque, basculante ou van.

Modelo do Berliet GLR fabricado no pós 2ª Guerra.

O GLR é fabricado por mais 37 anos, com mais de 100 mil unidades produzidas nesse período.

Em 1951 a fabricante francesa apresenta o Berliet GLC, com motor de 4 cilindros. O veículo era utilizado para o transporte de curtas distâncias, enquanto para transportes pesados e de longa distância, foi fabricado, em 1953, o GLM 10, com PBT de 19 toneladas e motor MDZ de 6 cilindros com 180 cavalos.

Berliet GLC

Durante a década de 1950 a empresa ainda apresenta os modelos GLA, com 7,75 toneladas de PBT, e o GLB, 4x4 e com 80 cavalos de potência, que foram amplamente utilizados em serviços municipais (veículos de incêndio, rodoviários e sanitários) na França.

Modelo Berliet utilizado pelo corpo de bombeiros.
O maior caminhão do mundo

Em 1957 a Berliet recebeu a encomenda de um veículo para acompanhar a busca por petróleo no deserto do Saara.

Durante 10 meses a empresa projetou e construiu, em segredo, um novo caminhão que foi apresentado no fim do ano, no Salão do Automóvel de Paris. Era o T100, até então o maior caminhão do mundo.

O gigante Berliet T100.

O filho de Marius Berliet, Paul, foi convidado pelo diretor da Shell para conhecer os depósitos de petróleo encontrados no Saara Argelino (então colônia francesa) e lá surgiu a ideia de criar o T100.

“Quando vi os problemas apresentados pelas dunas no Saara, decidi fazer o T100 e finalmente mostramos o que sabíamos fazer: o maior caminhão do mundo! André Billiez, desenvolveu uma máquina capaz de transportar a carga de 50 toneladas nas dunas sem a necessidade de desenvolver uma rota extremamente cara. Utilizei os maiores pneus disponíveis na época e escolhi o motor Cummins, que tinha a melhor combinação de potência, leveza e desempenho na faixa de potência alvo. No entanto, os 600 cavalos do primeiro motor eram insuficientes e, assim, usamos um de 700 cavalos, mas uma potência de 1.000 cavalos teria sido o ideal”, afirmou Paul, em entrevista para a revista francesa France Routes, em dezembro de 2006.

As dimensões do veículo mostravam sua grandeza, eram 15,30 metros de comprimento, 4,98 m de largura e 4,43 m de altura.

Além do motor Cummins VT12 diesel, de 12 cilindros, o veículo possuía transmissão Clark semi-automática de 4 velocidades para a frente e 4 velocidades para trás, freio a disco de aviação nas seis rodas e dois tanques de combustível de 950 litros cada. Os pneus tinham as medidas de 1 metro por 2,20 m, pesando 1 tonelada cada e o veículo alcançava a velocidade máxima de 34 km/h.

O Berliet T100 perto de um homem.

No total foram fabricados 4 unidades do T100 que possuía a capacidade de 80 toneladas de carga cada.

Os caminhões trabalharam nos campos de petróleo e gás do Saara na Argélia, que após sua independência tomou posse dos veículos. O único sobrevivente dos quatro fabricados foi presenteado à Fundação Marius Berliet pela estatal algeriana, depois de ficar abandonado no deserto por mais de 20 anos, mas voltou funcionando ao Museu.

Berliet no Brasil

Há um registro de 1951 sobre a criação da Companhia Brasileira de Automóveis Berliet S.A. Na época, havia o registro de cerca de 300 caminhões da marca rodando no país.

Entrada da Fábrica da Berliet Brasil.

Em 1953, foi criada uma lei que proibia a importação de veículos montados. Dessa forma, a montadora teve que criar uma fábrica para a montagem de veículos utilizando peças feitas no país, como pneus, baterias, tambores de mola, chapas metálicas, etc.

A marca francesa associou-se ao grupo Raskin, proprietários de imóveis no bairro Santa Cruz (RJ), onde foram realizadas montagem em CKD dos caminhões Berliet GLR. A capacidade de produção da fábrica era de 15 a 20 veículos por mês.

Fábrica no bairro de Santa Cruz (RJ).

O caminhão teria sido bem aceito por seus clientes, pois tolerava uma sobrecarga de cerca de 1/3 da capacidade total do veículo.

No entanto, uma disputa comercial culminou com o fim da fábrica no Brasil. A recusa do governo francês em comprar café brasileiro, fez com que o país dificultasse e removesse as licenças de importação dos elementos necessários para a montagem dos veículos.

Desta forma, a Berliet abandonou o grupo Raskin e foi o fim da montadora no Brasil.

Foto que registra um Berliet GLC no Espírito Santo, na década de 1950.

A marca francesa ainda tentou por mais três vezes se estabelecer no país. A primeira foi em 1957, no auge da implantação da indústria automobilística no país. Mais tarde, em 1969, a marca estudou a possibilidade de construir uma fábrica em Manaus (AM), em parceria com uma empresa local.

Por fim, em 1976, já sob domínio da Renault, o anúncio da vinda da Volvo para o Brasil, fez com que a empresa tivesse, novamente o interesse de se instalar no país. No entanto, em nenhuma dessas sondagens teve sequência e a marca nunca mais chegou a vir de fato para o país.

Os registros históricos da passagem dos Berliet pelo Brasil são escassos, mas há fotos do modelo GLR em território verde e amarelo.

Ele, inclusive, foi incluído em uma coleção de miniaturas de caminhões que marcaram época no país.

O fim

Em 1962 a Berliet entrou no ramo de obras públicas e mineração a céu aberto com o T25. O caminhão com 25 toneladas de PBT possuía um motor turbo diesel de 6 cilindros com 320 cavalos de potência.

Caminhão Berliet GLR equipado com tanque.

O veículo abre espaço para novos modelos, sendo lançados até 1970 os Berliet T30, T45 e T60. Os caminhões foram amplamente utilizados na França, África e Ásia, finalizando sua produção em 1970 com cerca de 600 veículos vendidos.

Em agosto de 1967 a Berliet foi adquirida pela Citroën, que era propriedade da Michelin. Em 1966, último ano da montadora como marca independente, foram produzidas aproximadamente 17 mil veículos. Após a fusão, a Citroën-Berliet chegou a dominar mais da metade do mercado francês de veículos comerciais com mais de 6 toneladas.

Berliet TLR, da década de 1960.

Em 1974, a Michelin decide vender as duas marcas, dessa forma, a Berliet é vendida para a Renault e a Citroën passa para o domínio da Peugeot. Com as mudanças, em 1978 a Berliet é fundida com a Saviem e formam a Renault Véhicules Industries, em 1978.

Em pouco tempo os últimos veículos Berliet passam a circular com o nome Renault e, em 1980, a marca foi extinta.

Os caminhões da marca francesa marcaram história pelo seu design e desempenho aerodinâmico, que deram origem a muitas inovações como cabines pensadas para conforto do motorista.

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