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“Minha mão tem graxa mesmo!” Mecânica de pesados supera preconceito por amor ao caminhão

“Minha mão tem graxa mesmo!” Mecânica de pesados supera preconceito por amor ao caminhão

Desde cedo apaixonada por carros e caminhões, Raquel se descobriu em meio às peças e graxa da oficina de seu pai

Mulher e mecânica de pesado? Sim, com certeza! Cada vez mais mulheres têm ocupado seus espaços no setor do TRC, seja como motoristas de caminhão, ajudantes, administradoras de frota, analistas de logística e até mesmo mecânicas de caminhões. Hoje vamos apresentar uma dessas histórias, de mulheres que foram na contramão do tradicional, por acreditar em si mesmas e nos seus sonhos. 

Raquel Zampronio, de 22 anos, é filha de Realsir e Leda, moradores da cidade de Santa Catarina, PR. Nasceu em uma família simples e viu os pais, com muitas dificuldades, criarem seis filhos. Ela conta que o pai começou recolhendo sucata pela vizinhança com uma Dodge: “não tínhamos luxo, às vezes o almoço e a janta eram arroz, feijão e tomate, quando tinha”, relembra. 

Após algum tempo seu pai conseguiu um outro trabalho, e ela então com 15 anos, começou a trabalhar com ele para ajudar a família. No começo aprenderia os serviços administrativos, sobre as peças e todo o funcionamento da oficina, mas Raquel viu uma oportunidade de trabalhar com o que queria, aproveitou a chance e teve os melhores professores. Colocou a cara a tapa num ambiente totalmente masculino e deu muito certo. 

Ela explica que a ideia inicial era aprender sobre toda a parte administrativa e de vendas, mas todo aquele universo foi despertando um sentimento diferente: “Sobre as peças, eu aprenderia somente para ter conhecimento, não gostava de ficar suja, me coçando. Mas meus irmãos tinham tanto amor e paciência para me ensinar, que acabei gostando”, contou. 

Mesmo Raquel trabalhando, seus pais sempre a orientaram a priorizar os estudos. E, na escola, diferente das outras meninas, “sempre se deu com os piás” (meninos) e fazia grupos de quem gostava de caminhão. Ela conta que devido a seu jeito, seus gostos e personalidade, sempre houve um certo preconceito das meninas e com isso, acabou sofrendo bullying, mas evitava contar para os pais e professores: “Falavam do meu jeito de me vestir, das minhas mãos sujas e com calos, não porque não lavava, mas porque estava impregnada”, relembra. 

Quando se formou no ensino médio, passou a se dedicar ainda mais ao trabalho e passou a ter uma vida no universo que amava, mexendo nos brutos, que é uma paixão herdada do pai, que é levada ao pé da letra por seus irmãos: “É claro que no começo eu não sabia apertar sequer um parafuso, nem o que era broca ou chave 13, não tinha conhecimento nenhum”, lembra Raquel. 

Hoje, o senhor Realsir tem uma empresa de terraplanagem e na cabeça dos funcionários ela deveria estar maquiada atrás da mesa atendendo aos clientes: “Na empresa do pai, eu e meus irmãos fazemos a manutenção da frota. O que dá mais trabalho é colocar a esteira da escavadeira no lugar, que cai bastante, mas faço de tudo: troco óleo, regulo freio, agora estou aprendendo a trocar o motor”.

Com o auxílio e a paciência dos irmãos, foi se aprofundando e pegou experiência: “Faço de tudo um pouco, desde trocar um pneu, a bascular a caçamba, manobrar caminhão, operar a máquina escavadeira, trator, Munck, solda, praticamente tudo”, conta a profissional. E de fato, não tem atividade na empresa que Raquel não saiba fazer, desde trabalhar engraxando máquina, até trocar pneu, andar com o caminhão na oficina, etc. 

Ela conta que não fez cursos de especialização, tudo que aprendeu foi com o pai e com os irmãos. Segundo ela, “agradece a Deus pela paciência deles, porque não são tarefas fáceis de fazer e ensinar”. Além de tudo, ela deixa claro que são atividades bem perigosas e exigem máxima atenção: “Hoje, entendo porque minha família não queria que eu trabalhasse com mecânica, por medo de me machucar, pelas coisas serem pesadas e ser mais difícil”, relembra.

Mesmo com a resistência inicial, que foi motivo de muitas conversas entre a família, todos estão muito felizes por Raquel não ter desistido. Ela conta que foi muito apoiada pela mãe, que sempre a auxiliou, apoiando suas escolhas e decisões, sendo a fonte de inspiração de uma mulher forte, que sempre ajudou seu pai, mesmo quando os tempos eram difíceis.

Hoje, Raquel já não pensa somente em si. Tornou-se mãe e acabou desacelerando o trabalho na oficina, mas sem deixar para trás o seu sonho, que é continuar trabalhando com o ofício que ama e onde já atua. A mecânica conta que seu marido é um companheiro na caminhada e apoia seus sonhos. A maior vontade dos dois é, assim que possível, Raquel retomar o trabalho com caminhões e veículos de grande porte, uma paixão em sua vida.

Assim como acontece com todo mundo, às vezes as coisas não foram exatamente como gostaria. No passado, Raquel pensou em ser caminhoneira de cegonheira, mas hoje, como é mãe, mudou umpouco seus planos e deseja ficar junto de sua família: “Hoje penso mais em aproveitar minha filha e vê-la crescer, estando ao lado dela para tudo. Meu maior sonho é ver ela com saúde e perfeita”, confessa. 

A paixão pelos caminhões a fez aprender cada vez mais sobre os pesados e a inexperiência não atrapalhou. Para ela, tudo o que passou a fortaleceu e agora se vê realizada em sua vida e com seu trabalho: “Não me arrependo de nada até hoje, os planos de Deus são maiores que os nossos. Sou muito feliz pela família que tenho e pela família que formei. Quero muito daqui um tempo voltar a fazer o que eu fazia, pois, me faz muita falta, sabe?”, destaca.

Raquel não deixa de agradecer pela oportunidade de trabalhar com o que gosta, de estar perto da família e de poder mostrar à filha que não importa o que digam, o importante é fazer o que gosta: “Sou muito grata por todos da minha família, por me ensinarem tudo com amor e carinho. Graças a cada um deles eu passei a enxergar o mundo de outra forma e ter mais paciência com as coisas”. 

Não é à toa que Raquel é apaixonada por caminhões. Desde cedo, sempre esteve na oficina, em volta dos materiais dos caminhões, da graxa e se divertia: “Lembro que quando era neném de colo, minha mãe me colocava dentro de um tambor de parafusos e ali eu passava o dia catando parafusos, porcas e aroelas (risos). Isso para mim era a maior diversão (risos), quero poder ensinar tudo isso à minha filha”, conta. 

Raquel é apaixonada pela família: por seus pais, por seu esposo Tadeu, por sua filha Laura, e pelos irmãos Junior, Roberto, Rômulo, Ramon e Rúbia. É mulher de garra, que foi atrás do que queria e superou as dificuldades para conquistar. Ela contou sua história ao Movimento A Voz Delas, e agora pode ensinar e incentivar muitas outras mulheres a também buscarem realizar seus sonhos. 

Assim como os caminhões que tanto gosta, o coração de Raquel é grande! E a história não termina por aí: Para a felicidade da família, Raquel está grávida de sua segunda filha, Isabella. A família vai aumentar e o amor pelos pesados também, pelo jeito, não é? Já que na família, a mecânica e o caminhão são o pão de cada dia. 

Gostou de conhecer a história da Raquel? Clique aqui para ver a entrevista que fizemos com ela. Gostaria de ver sua história contada aqui também? É só mandar para a gente pelas redes sociais ou whatsapp. Participe e compartilhe essa notícia com seus amigos.

 

Fonte: Movimento A Voz Delas
https://avozdelas.com.br/historias-das-estradas/mulher-e-mecanica-de-pesado-sim-101551

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