SP-330 é uma das principais e também primeiras rodovias que conecta o interior de SP
Com certeza, você já deve ter ouvido: “é noite o carro está rugindo, parecendo fera. Voando baixo em Campinas, na via Anhanguera”. Na canção Rumo a Goiânia, do cantor Leonardo, uma das estradas mais importantes do Brasil é citada na letra, como o caminho pelo qual o personagem precisa passar para chegar à Goiânia, o tema principal da canção. E, assim como na canção, a Anhanguera faz parte daquela história, a mais importante ligação com o coração do Brasil e também tem muita história para contar.
Trabalhadores na construção da Rodovia Anhanguera. Estrada foi inaugurada em 22 de abril de 1948. — Foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Um dos principais troncos viários de São Paulo, a Rodovia Anhanguera tem 71 anos, mas essa mesma rota já era utilizada começou no século XVIII, por tropeiros que se deslocavam para o interior do estado. A partir de 1921, o trajeto foi preparado para a construção da estrada Campinas - São Paulo, na época ainda de terra. O objetivo era ligar uma cidade ainda em desenvolvimento, com a mais desenvolvida da região e, claro, facilitar o transporte de mercadorias que vinham das lavouras ao redor.
O veloz e inquieto desenvolvimento da região fez com que a Rodovia Anhanguera se tornasse uma artéria vital para o escoamento da produção e logística de uma das regiões mais potentes e empreendedoras do Estado. Quem vê hoje a rodovia, com fluxo de veículos intenso e passos apressados dos pedestres nas vias marginais, não imagina como se concebeu a estrada no seu início, ainda no Brasil dos desbravadores.
Rodovia Anhanguera em construção. Após inauguração, desempenhou papel importante como indutora do desenvolvimento regional. — Foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Hoje, passam por ela diariamente cerca de 40,3 mil veículos, sendo a quinta mais movimentada do Estado de São Paulo e o trecho de maior tráfego é São Paulo e Campinas, o primeiro a ser construído. Também trafega todos os dias por ali uma fatia da riqueza que movimenta a região, se tornando muito importante dentro do eixo industrial e agrícola da região nordeste do Estado. São 453 quilômetros que ligam a Capital, São Paulo, ao norte do Estado, em Igarapava, na divisa com Minas Gerais, onde inicia a BR-050.
A Rodovia Anhanguera ou anteriormente chamada de Via Anhanguera (SP-330) é considerada uma das mais bem conservadas do país, classificando-se na segunda posição do ranking elaborado através de pesquisa rodoviária de 2019, realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e faz parte do sistema BR-050, que liga Brasília a Santos.
Imagem aérea mostra como ficou o entroncamento entre as rodovias Anhanguera e Bandeirantes. — Foto: Acervo/Dersa.
Está entre a preferida de muitos motoristas, pois é duplicada, oferece segurança de tráfego, tem trechos com faixas adicionais e pistas marginais. Têm um tráfego pesado, especialmente de caminhões. É considerada, juntamente com a Rodovia dos Bandeirantes e Rodovia Washington Luís, o maior corredor financeiro do país, pois interliga algumas das regiões metropolitanas do estado como São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto, assim como o Aglomerado Urbano de Jundiaí, Aglomerado Urbano de Franca e a Região Administrativa Central.
A história de São Paulo passa por aqui
A primeira vez que a estrada que se tornaria a Rodovia Anhanguera foi citada em algum conteúdo histórico, foi em uma carta de 1720, escrita pelo alferes José Peixoto da Silva Braga e enviada ao padre Diogo Soares, onde estava indicado o roteiro que aquele oficial havia seguido com a bandeira do Anhanguera, o moço.
De outro ângulo, o entroncamento entre as rodovias Anhanguera e Bandeirantes. — Foto: Clóvis Ferreira/Digna Imagem.
A carta dizia que o famoso Bartolomeu Bueno da Silva saíra de São Paulo com uma tropa de 152 homens armados, acompanhados de dois religiosos bentos e providos de 39 cavalos. Entre São Paulo e Campinas, a travessia foi feita em cinco dias, quatro deles em romper matas, até ser atingido o Rio Moji Guaçu. Com o passar do tempo e a expansão dos bandeirantes pelos interiores, a estrada ficou famosa.
Em tempos atuais, Rodovia Anhanguera no início da noite. Às margens dela, diversas cidades cresceram, com destaque para Jundiaí e Campinas. — Foto: Vanderlei Duarte/EPTV.
O nome Anhanguera foi o apelido dado ao bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, e compartilhado por seu filho, de mesmo nome, que desbravaram o estado nos séculos XVII e XVIII. Em tupi, a palavra significa “diabo velho”. Reza a lenda que Bartolomeu, o pai, teria ateado fogo em um pote com aguardente e ameaçando incendiar os rios ao redor de uma tribo para assustar os índios e tomar posse de seu ouro. Contente com o apelido assustador criou a então “Bandeira dos Anhanguera”.
Em 1774, o caminho que o já conhecido bandeirante Anhanguera percorreu, era uma estrada de terra entre São Paulo, Jundiaí e Campinas, servindo os tropeiros e viajantes que exploravam o interior em busca de ouro, pedras preciosas e escravos. Ela figurava mapas dos bandeirantes e grupos de tropeiros. Oficialmente, é a data de surgimento da estrada.
Começou como uma estrada de chão batido que ligava as três cidades. Campanhas, mais afastada, era destino de descanso de tropeiros com destino ao então, não muito conhecido, coração do Brasil. Com o crescimento intenso das cidades ao longo do século, percebeu-se a necessidade de ampliá-la e melhorá-la, o que só aconteceu a partir de 1914. A primeira versão da estrada moderna, conhecida como Estrada Velha de Campinas (SP-332), foi iniciada em 1916 com a mão de obra de 84 sentenciados, que construíram 32 Km.
Área da Rodovia Anhanguera, no interior de SP. Trecho entre São Paulo e Cordeirópolis realiza 350 mil viagens por dia, em média. — Foto: Reprodução/EPTV.
Em 1920, Washington Luís, presidente do estado, determinou a aceleração dos trabalhos da São Paulo-Jundiaí e seu prolongamento até Campinas e a via São Paulo–Campinas, antecessora da Anhanguera, foi concluída em 1921, quando existiam, em todo estado de São Paulo, pouco mais de três mil carros de passageiros e 100 caminhões. No ano de 1922, era iniciada a construção do trecho de Campinas até Ribeirão Preto. Foi a primeira estrada planejada e executada em função dos veículos motorizados. No entanto, a inauguração oficial ocorreu somente em 1940.
O formato atual se configurou em 1948, após oito anos de obras, com o asfaltamento do trecho entre a capital e Jundiaí, na gestão do governador Adhemar de Barros. Em 1953, a Anhanguera tornou-se a primeira rodovia pavimentada e duplicada do Brasil, com 80 quilômetros de extensão. Em 1962, começavam as obras de construção e pavimentação do novo acesso da Anhanguera a Campinas e em março de 1976, a DERSA assumia o controle do km 10 ao 110.
Entroncamento na Rodovia Anhanguera, no interior de SP. Nos últimos 15 anos, cerca de 900 mil veículos já foram atendidos pela equipe de Tráfego da Concessionária Autoban na Via Anhanguera — Foto: Reprodução/EPTV.
Desde 1 de maio de 1998, a concessionária CCRAutoban, que faz parte do Grupo CCR, é responsável pela manutenção e pela exploração das rodovias Bandeirantes e Anhanguera, as mais extensas do estado de SP em regime de concessão. Entre as principais obras realizadas, se destaca a criação de vias marginais na Região Metropolitana de Campinas e Região Metropolitana de Ribeirão Preto (pela Autovias e Vianorte), e na região de Jundiaí (pela AutoBan).
Possui postos de pedágios, bases da Polícia Rodoviária, passando por trechos de muita beleza. Além de serviços nas vias de circulação, foi investido em controle e segurança instalando telefones de emergência por toda a rodovia, cabos de fibra ótica para comunicação, estações de controle de tráfego e câmeras de monitoramento. Há equipes disponíveis para prestar socorro mecânico, incluindo guinchos e serviços de primeiros socorros com ambulâncias.
Batizada nessa época de SP-330, ela passa por 31 cidades e faz uma rica parceria com sua vizinha, a rodovia dos Bandeirantes, que corre em paralelo entre a capital e Campinas, criada nos anos 70. Sua concessão pela CCR Autoban é válida até 2026.
E aí, gostou de conhecer um pouco da história desta estrada tão importante? Você sabia que o caminho que hoje é a Anhanguera já existia há quase dois séculos? Você gosta de trafegar por ela? Compartilhe com seus amigos do trecho e até a próxima.
Pamela Emerich
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