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Dos cavalos ao diesel: conheça a origem do caminhão-basculante

Dos cavalos ao diesel: conheça a origem do caminhão-basculante

Principal implemento da indústria, o basculante foi criado para facilitar o transporte de materiais

Os implementos para caminhões são essenciais como componentes do caminhão para o transporte de cargas. Eles servem para adaptar o caminhão ao tipo de carga e peso necessários para transportar aquele material. Atualmente, existem muitas opções de implementos disponíveis no mercado que podem variar conforme a carga que deve ser transportada. Montados diretamente sobre o chassi do caminhão, esses equipamentos oferecem segurança e robustez nas mais variadas aplicações, otimizando o desempenho e reduzindo custos. Mas, você sabe a origem destes acessórios?

Um dos mais utilizados é o implemento do tipo caçamba. Adaptáveis para as mais diversas situações, as caixas e caçambas, especialmente as basculantes, são usadas para o transporte dos mais diversos tipos de cargas e com elas o caminhoneiro ganha resistência, segurança e agilidade no transporte de diversos tipos de materiais de diferentes tamanhos, compactáveis ou não. Mas nem sempre foi assim. Quando o transporte de materiais ainda era feito através de cavalos pela ferrovia, as caçambas “de chão” já existiam. Foi para utilizá-las de maneira mais eficiente, e a favor da higiene, que a história de implantar uma caçamba no caminhão começou.

O processo de basculamento (levantamento) da carroceria de um caminhão deste tipo costuma ser bastante simples. Tomadas as devidas precauções em relação à posição do veículo e ao local de basculamento, o procedimento acontece por meio de sistemas hidráulicos acionados de forma simples e rápida. Além disso, caminhões basculantes costumam apresentar dimensões menores do que uma carreta, por exemplo, o que facilita manobras e a própria condução no dia a dia.

Ao que se sabe, o caminhão basculante foi inventado nas fazendas europeias no final do século XIX. A Thornycroft desenvolveu um caminhão de lixo em 1896 com um mecanismo basculante, ou seja, possuía uma alavanca utilizada para levantar um objeto mais distante, no caso, a caçamba com os resíduos coletados. O sistema basculante há muito tempo também era utilizado em pontes e janelas, o que explica a ideia de aplicá-lo a algo igualmente pesado: uma enorme caçamba de lixo. E, foi através dos caminhões de limpeza urbana que a utilização do basculante se espalhou pelo mundo. Mas isso é um assunto que falaremos à parte e em breve.

Com a experiência positiva que os caminhões de lixo trouxeram, passaram a utilizar o também chamado de caminhão-caçamba para outros fins. Era um tipo específico de caminhão equipado com uma caçamba articulada na parte traseira. Nessa época, o desenvolvimento industrial e urbano era uma prioridade e o transporte do material escavado para fora das áreas de trabalho das escavadeiras era realizado por locomotivas e vagonetas basculantes. Porém, o menor tamanho e a maior versatilidade dos caminhões com motores a diesel levaram à necessidade de um transporte mais flexível, que não dependesse das linhas férreas.

E, assim, os primeiros caminhões basculantes motorizados foram desenvolvidos, por volta de 1910, na América do Norte, por pequenas empresas de equipamentos como The Fruehauf Trailer Corporation, Galion Buggy Co. e Lauth-Juergens, que optaram por adaptar as vagonetas basculantes para um tamanho que pudesse ser acoplado ao caminhão. Já os primeiros basculantes hidráulicos foram introduzidos pela Wood Hoist Co. um pouco depois. Essas empresas ganharam muito dinheiro durante a Primeira Guerra Mundial, devido à enorme demanda de caminhões-caçamba basculante no conflito, principalmente para transportar armas, mortos e feridos.

Mas, foi também durante a guerra que o produto teve forte evolução. O industrial August Fruehauf obteve contratos militares para seu semirreboque, inventado em 1914, mais tarde o melhorando para tornar-se um semicaminhão para uso na Primeira Guerra Mundial. A partir de então, veículos de transporte de cargas sobre pneus maciços, com capacidade de 0,5 a 2 ton, começaram rapidamente a serem usados nos canteiros de obras. Considerados enormes na época, os maiores modelos podiam transportar até cinco toneladas.

Basculantes para Mineração - Off Roads

Após a guerra, Fruehauf introduziu a hidráulica em seus reboques. Eles ofereciam portões hidráulicos de elevação, guinchos hidráulicos e um reboque basculante. A metalúrgica Fruehauf se tornou o principal fornecedor de reboques basculantes, com seus equipamentos considerados os melhores transportadores pesados para empresas de construção de estradas e mineração. Ele percebeu que o implemento se adaptava perfeitamente bem ao trabalho das minas e o impacto da utilização do basculante na mineração foi imenso em todo mundo.

Os equipamentos foram sendo adaptados para cargas de todos os pesos e os gigantes das minas foram ganhando atenção especial. Na época, a ruptura tecnológica foi abrupta. Tanto que o grande pioneiro da tecnologia de caminhões basculantes, Ralph H. Kress, engenheiro conhecido como o pai do caminhão fora de estrada, mineração off-road, disse em 1922, quando começou a vender veículos para transporte de cargas, que seu maior concorrente ainda era o “cavalo”, devido à alta demanda e às poucas empresas que fabricavam esses equipamentos. Mas logo a concorrência dele cresceu e não foi pouco.

Empresas como a Galion Buggy Co. e a canadense Mawhinney continuaram a crescer após a guerra, fabricando uma série de caçambas expressas e algumas caçambas menores de despejo, que podiam ser facilmente instaladas no chassi Modelo T convertido (suspensão pesada e sistema de tração). Tanto a Galion como a Wood Mfg. Co. construíam todas as caçambas requisitadas pela Ford em seus pesados ​​chassis AA e BB durante a década de 1930. A Galion (atualmente Galion Godwin Truck Body Co.) é a mais antiga fabricante conhecida de caçambas de caminhões ainda em operação.

Importante fabricante multinacional de componentes automotivos, a Wabco (de Westighouse Air Brake Company) foi fundada em 1869, nos EUA, com o objetivo de fabricar sistemas de freios a ar para locomotivas a vapor. Viu o mercado das ferrovias entrar em decadência e somente em 1952, a empresa ingressou no ramo de equipamentos de construção, adquirindo também o controle da norte-americana LeTourneau, que no início da década havia projetado o primeiro veículo pesado com motores elétricos de tração instalados nas rodas.

Desse momento em diante, transitoriamente com o nome LeTourneau-Westinghouse, a empresa tornou-se um dos maiores fabricantes mundiais de caminhões basculantes fora-de-estrada. Em 1984, a Wabco venderia seus negócios de máquinas de construção para a Dresser (controladora da Huber-Warco), que por sua vez os passaria, em 1993, para a japonesa Komatsu, uma das maiores fabricantes de caminhões para mineradoras do mundo.

Caminhões basculantes no Brasil

De maneira simplificada, o caminhão-basculante nada mais é do que um modelo de veículo com capacidade de erguer a sua carroceria para que a carga transportada seja retirada a partir da ação da gravidade. No Brasil, assim como outros implementos, o basculante se popularizou no período de industrialização. Antes, chegou como caminhão de lixo, mas muito tempo depois que a prática era utilizada na Europa.

Ficou popularmente conhecido aqui como caminhão-caçamba e desde que chegou ao país é comum ver um caminhão-basculante em obras, principalmente para o transporte de materiais de construção, como areia, brita, cimento, além de outros materiais a granel. Como já sabemos, a carroceria de um caminhão-basculante é geralmente composta de uma estrutura metálica rígida, capaz de acondicionar uma grande quantidade de material sem que ele ultrapasse as laterais da caçamba.

Essa característica é um grande diferencial desse tipo de implemento, já que torna o transporte mais seguro, uma vez que a própria estrutura da carroceria impede que resíduos caiam ou sejam levados com a força do vento. Além disso, da mesma forma como acontece em outros modelos de caminhão, nos basculantes também é possível a utilização de lonas, o que garante a integridade da carga e a segurança dos deslocamentos.

No período de 1930 a 1955, foram feitos grandes investimentos no setor industrial, vindos tanto de iniciativas privadas, quanto do governo brasileiro, na tentativa de alavancar o setor. Com isso, o setor de transportes teve grande avanço, principalmente quando as ferrovias passaram a ser substituídas por rodovias. Nesse período, os primeiros caminhões chegavam ao Brasil exportados, principalmente, da Alemanha e com a abertura da Fábrica Nacional de Motores e a chegada de grandes montadoras, os caminhões foram se espalhando pelo país para diversas atividades.

Foi quando o caminhão-caçamba se popularizou. Além da urbanização natural em volta das grandes indústrias que se instalavam no país, a abertura de estradas obrigava o transporte de cargas pesadas e muitos detritos de escavação. Os basculantes já eram utilizados no Velho Continente para diversos fins e por mais que aqui no país já houvessem caminhões com esse tipo de implemento, foi com a criação de Brasília e boom do transporte rodoviário brasileiro que o basculante entrou de vez para o mercado brasileiro de implementos.

No final da década de 60, a principal empresa brasileira era a Trivelatto, que contava com duas grandes fábricas em São Paulo e Rio de Janeiro (respectivamente com 620 e 1.500 empregados) e filiais em outras 16 cidades, além da Argentina e Uruguai. Sua linha de produtos era extensíssima, indo de terceiros-eixos a semirreboques para até 200 t, passando por escadas giratórias extensíveis para serviços públicos, furgões de alumínio, rolos compactadores rebocados, carrocerias isotérmicas e frigoríficas, basculantes, tanques para todos os tipos de produtos, coletores e compactadores de lixo, guinchos, carros-fortes, comboios de lubrificação e semirreboques para todos os fins.

Os primeiros caminhões brasileiros para aplicações fora-de-estrada em mineração e construção pesada foram produzidos pela Wabco, em 1972, o modelo W-22, para 20 t ou 11,5 m³. Tratava-se de um veículo de concepção convencional, com motor diesel GM de 227 cv (em lugar da sofisticada, e eficiente, tração elétrica em cada roda), caixa mecânica de cinco marchas e suspensão dianteira por feixe de molas e eixo fixo na traseira. Com índice de nacionalização próximo de 75%, dominou o mercado com mais de 100 unidades entregues nos primeiros dois anos.

Duas novas versões foram apresentadas em 1975: WB-23 (21,5 t e 13,8 m³), com motor Cummins de 250 cv, e Haulpak 35 (32 t e 20,6 m³), bastante moderno, com opção de motor Cummins de 420 cv ou Detroit Diesel de 456 cv, caixa automática e suspensão hidráulica nas quatro rodas. Naquela altura, mais de 600 veículos já haviam sido fabricados, 35% dos quais destinados à exportação.

Hoje, praticamente todo caminhão-basculante opera por hidráulica, com uma variedade de configurações, cada uma projetada para realizar uma tarefa específica nas cadeias de limpeza, suprimentos e de materiais de construção. Os principais tipos são:

  • Caminhão de lixo padrão;
  • Caminhão-basculante articulado;
  • Caminhão-basculante para semirreboque;
  • Caminhão-basculante de transferência;
  • Caminhão-basculante superdump (caçamba longa);
  • Caminhão-basculante para semirreboque;
  • Caminhão-basculante inferior e triplo para reboque;
  • Caminhão-basculante lateral;
  • Caminhão-basculante com limpa-neve;
  • Caminhão basculante fora de estrada (supercaminhão de mineração).

Desde 2018, uma medida do Contran determina a instalação de um dispositivo de segurança para evitar o acionamento da caçamba enquanto o veículo estiver em movimento, já que, sem esse recurso, a caçamba pode levantar acidentalmente a qualquer momento e causar acidentes.

Embora a medida esteja em vigor, não existe a devida fiscalização e preocupação dos órgãos de trânsito. Dessa maneira, notícias de caminhões-basculantes que causaram estragos na rede elétrica, viadutos e outros equipamentos públicos são frequentes.

Cuidados extras com basculantes

Além de todos os riscos que já existem nas rodovias, alguns tipos de caminhões pedem alguns cuidados especiais no carregamento e descarregamento, como no transporte de produtos perigosos, silos de cimento e especialmente os basculantes. Infelizmente, boa parte da frota de basculantes atuais trafega com a manutenção precária e como são praticamente “veículos urbanos”, ou seja, não passam pelos controles de pesos das rodovias, acabam exagerando na carga, aumentando ainda mais os riscos de acidentes.

Mas tem uma característica extremamente perigosa nas caçambas: elas podem tombar paradas, durante o descarregamento. E isso é muito fácil de acontecer. Por isso, além de manutenção mecânica rigorosa é oportuno passar às medidas preventivas para a operação:

– Assegurar que as cargas são carregadas uniformemente em todo comprimento e largura da caçamba (não carregar mais de um lado ou de outro);

 – A carga é úmida e propensa a grudar? Fique ciente de que os riscos serão maiores;

– A carga deve estar dentro dos limites legais (pela “Lei da Balança”);

– Se atente quando estiver circulando em vias urbanas: observe se a caçamba está de fato abaixada;

– As áreas ao redor do veículo devem ser isoladas;

– Sempre bascule sobre terreno firme e nivelado. Nunca em terreno inclinado, aclives ou declives;

– Certifique-se que a porta traseira está aberta antes de bascular;

– O motorista deve ficar na cabine enquanto bascula;

– Esteja atento a obstruções elevadas: rede elétrica, cabos, postes etc;

– Mantenha pessoas afastadas durante o basculamento;

– Nunca bascule durante ventos fortes;

– Alinhe o conjunto cavalo-carreta antes de iniciar a descarga;

– Se a carga não descer, não dê trancos com a caçamba levantada;

– Se o veículo começar a virar, prepare-se forçando o corpo contra o encosto do banco e segure-se firmemente ao volante. Nunca tente pular para fora da cabine.

Uma vez descarregada, o condutor deve certificar-se que a caçamba está abaixada antes de retornar para a viagem. Por incrível que pareça, são frequentes os “atropelamentos” de passarelas e viadutos por basculante andando com a caçamba levantada.

E aí caminhoneiro, gostou de conhecer a história do caminhão-basculante? Aqui no Planeta Caminhão você fica por dentro de tudo o que já aconteceu e o que está acontecendo no universo das naves a diesel. Quer saber a história de algum implemento? Então fala com a gente que, em breve, terá por aqui. Até a próxima.

por Jornalista Pamela Emerich

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